Há uns anos, chegado a Trás-os-Montes, um embaixador espanhol em Portugal saiu-se com esta frase: “Vocês são um país falsamente pequeno”. Já havia as autoestradas, mas, mesmo assim, o homem, que não ia para novo, chegou cansado.
Com o decorrer do tempo – e o tempo tem aqui um papel importante – fui-lhe dando cada vez mais razão. Mas não pelos motivos que ele imaginava.
Há pouco mais de uma semana, fui a conduzir de Lisboa a Vila Real e, no regresso, dias depois, senti o corpo a pedir descanso. No sábado, numa ida e volta a Aveiro, fiz mais de 500 quilómetros, quase sempre sob chuva; cheguei a casa stressado e com dificuldade de dormir. Ontem, fui de comboio ao Porto, estando agora a voltar no Alfa. Na sexta, tenho de ir e vir a Alcobaça. E, depois, talvez ao Algarve.
Portugal não ficou maior. As estradas até melhoraram. Nós é que encolhemos.
Mas continuamos a fingir que não. Continuamos a dizer “sim” a compromissos como se ainda tivéssemos trinta anos e um Fiat 128 que nos levava a qualquer lado sem queixa. Continuamos a achar que “ir e vir no mesmo dia” é razoável, que “são só duas horas” não conta, que o cansaço é fraqueza e não mensagem.
Quando o diplomata espanhol se queixou da distância, estava a dizer uma verdade sobre o país. Quando eu me queixo hoje, estou a mentir sobre mim próprio. Porque não é Portugal que ficou grande demais – sou eu que já não caibo na vida que continuo a viver como se coubesse.
Se ele me lesse agora, a relatar estes cansaços, perguntaria: “¿Por qué no te quedas en casa, hombre?!” E eu já sei a resposta, embora custe dizê-la: porque parar seria admitir que o tempo passou. E enquanto ainda conseguir chegar, finjo que não passou.

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