domingo, novembro 02, 2025

Na derrota do Vitória

Na noite de hoje, o Benfica foi ganhar a Guimarães por 3-0. No futebol, não são apenas as nossas vitórias que contam, temos de esperar pelas derrotas dos outros. E hoje, não tivemos essa sorte, em Guimarães. O Benfica ganhou e, reconheça-se, bem.

Veio-me agora à memória um outro dia e um outro jogo, há quase 60 anos. 

Num domingo de março de 1966 - nesse tempo, o futebol de campeonato era sempre e só ao domingo - um animado grupo de sportinguistas de Vila Real, no automóvel do Chico Menezes, que a vida castrense haveria de alcandorar ao comando do RI13 muitos anos mais tarde, zarpou cedo pelo Marão, a caminho de Guimarães, para ir assistir ao jogo do Vitória com o Benfica. Antes, como era de regra, tínhamos partilhado o custo da gasolina, atestada na bomba do Platas, ao lado da Sé.

Uma derrota em Guimarães da agremiação lisboeta vestida de encarnado poderia facilitar, nesse ano, a conquista do campeonato pelo Sporting. Ora ambas as coisas, felizmente, viriam a acontecer.

Depois de uma almoçarada "das antigas" na antiga Pensão Vilas, nas Caldas das Taipas, lá estivemos nós - eu, o Chico e o Fernando Menezes, o Olívio de Carvalho, o Mourão, o Zé Macário e um outro amigo (o carro do Chico era imenso) que tinha um primo que nos arranjou os bilhetes - nas bancadas do recém construído "Dom Afonso Henriques". 

Ali nos iríamos mostrar, por hora e meia, mais vimaranenses do que os locais, todos deliciados a ver Costa Pereira encaixar três secos do Vitória, contra apenas dois do Benfica. 

Ainda recordo a animação no regresso, com pousio para uma jantarada regada a verde tinto, no "Príncipe", em Amarante, no clássico largo do Arquinho, criando lastro para as muitas curvas que nos esperavam, serra acima e abaixo, adiante do Alto de Espinho, até à vista de Parada de Cunhos. Nesse tempo, a Brigada de Trânsito, que por ali tinha uma daquelas casinhas amarelas, no cruzamento para a Régua, depois da Toca do Lobo, sem balões para medir os excessos, era bem mais complacente... 

Guardo ainda algures uma foto tirada pelo Zé Macário, desse grupo divertido, no alto da Penha, comigo, elegante e bem novo, de fato e gravata! O Zé e o Mourão ainda se lembrarão dessa gloriosa jornada.

Curiosamente, essa viria a ser a mesma equipa do Benfica, dirigida por Bela Guttmann, que iria emprestar a Portugal o quinteto avançado maravilha que, poucos meses mais tarde, nos iria emocionar, no Mundial de Inglaterra. 

Uma equipa que, curiosamente, tinha tido, dias antes, uma humilhante derrota por 5-1 na Luz, frente ao Manchester United. A mesma que eu também iria ter o ensejo de ver perder de novo, dessa vez para o Braga, a Taça de Portugal, duas semanas após a visita a Guimarães, na única vez que fui ao velho "28 de maio" (anos mais tarde crismado "1º de Maio"). 

É curioso constatar que, numa época que veio a consagrar a sua mítica linha ofensiva no quadro da seleção, o Benfica perdeu tudo quanto podia perder, no plano nacional e internacional. É assim o futebol.

Como será este ano? O verde é a cor da esperança.

Sem comentários:

Pouca terra

Aqueles que gritam "vai para a tua terra!" são os herdeiros políticos de quantos achavam que essa terra era "nossa".