sábado, novembro 01, 2025

Boa noite


Dizemos boa noite num gesto mecânico de boa educação. E, às vezes, nem damos conta de que há, realmente, boas noites. Mesmo quando o tempo está péssimo, como era o caso da noite de ontem (e parece que vai ser o dia de hoje). Entrei na Gulbenkian, ido do estacionamento de fora (nem sempre temos sorte), sob forte chuva. Duas horas depois, depois de ouvir o Pássaro de Fogo, seguido da 7ª de Chostakovitch, pela orquestra da casa, com um maestro uzebeque que era ele mesmo um espetáculo de coreografia, a noite acabou por ficar deslumbrante, chovesse ou não. E chovia. Estou longe de ser um melómano, um conhecedor, como tenho amigos que são, pelo que, nesta como em muitas outras artes, julgo só saber destrinçar as coisas muito boas das que são visivelmente medianas. E aquilo foi muito bom! Ainda na ressaca eufórica do concerto, passei à pressa pela casa de um amigo, com quem tinha combinado trocar o meu último Astérix em francês pela versão portuguesa dele. Logo ali ao lado, havia um lugar para estacionar, um restaurante ainda aberto e, hélas!, também uma mesa vaga onde abancámos. Tive um sobressalto pessimista quando deparei com o écran em frente: estava a dar o Sporting-Alverca e, já na segunda parte, o resultado era zero-zero. Mau, Maria! Pedi rosbife. Quando o Papa Figos chegou, o Sporting marcou um golo. Se eu estivesse vestido de verde-e-branco não se teria notado mais, naquela sala, a que clube eu pertencia. O segundo golo já foi comemorado com calma, oferecendo-me a mim mesmo um Bushmills, para cortar o doce do pudim. Saí pela noite chuvosa muito bem disposto. É, afinal, a isto que se chama uma boa noite. É verdade que me contento com pouco, mas cada um é como é, não é?

Boa noite

Dizemos boa noite num gesto mecânico de boa educação. E, às vezes, nem damos conta de que há, realmente, boas noites. Mesmo quando o tempo e...