segunda-feira, abril 24, 2017

"Portugal Amordaçado"

O "Expresso" decidiu republicar, em pequenos volumes, a versão portuguesa do "Portugal Amordaçado", o "testemunho" (era assim que vinha escrito na edição francesa) escrito por Mário Soares enquanto esteve no exílio, originariamente publicado em França pela Calmann-Lévi, em inícios de 1972. É uma bela homenagem ao pai da nossa democracia, neste primeiro 25 de abril que passaremos sem ele.

O livro é uma leitura pessoal da luta contra a ditadura, com uma história muito detalhada dos grandes momentos desse confronto. Soares, que está nessa luta desde muito jovem, percorre com grande equilíbrio histórico todo esse tempo. A escrita é muito agradável e no tratamento dos factos nota-se a pena de um historiador de formação académica (Soares colaborou com algumas entradas no "Dicionário da História de Portugal", de Joel Serrão). Pela primeira vez com alguma objetividade e rigor, era feita uma "desmontagem" do regime salazarista, subscrita por um dos principais protagonistas da oposição. Antes, havia muito poucos trabalhos de conjunto sobre o oposição ao Estado Novo. Apenas o PCP e o MRPP tinham ensaiado as suas próprias "histórias", em leituras naturalmente algo sectárias.

Comprei o livro no dia 1° de maio de 1972, na sua versão francesa ("Le Portugal Baillonné - Témoignage"), como tenho assinalado no volume que possuo. Tenho quase a certeza de ter feito a aquisição na Livraria Barata, na Avenida de Roma, então uma loja muito pequena, muito diferente da que hoje por lá existe. Mas também poderia ter sido na Moraes, ao Chiado, ou na Opinião, na Rua da Trindade - nesta última livraria eu costumava passar ao final da tarde, depois de sair do meu emprego na Caixa Geral de Depósitos. Essas eram as três livrarias onde, que me recorde, mantinha contactos para a obtenção de livros que se sabia que a polícia podia vir a "recolher".

Mário Soares escreveu o livro em diversos tempos do seu exílio (1969/1974) tendo-o terminado, ao que parece, em Itália, numa casa junto a um lago, emprestada por Mário Ruivo. Um dia comentei isto, que é conhecido, com Maria Barroso e notei, na sua cara, um ar de desagrado. "O Mário, nos fins de semana, durante esse período, ia a Roma, a casa do Mário Ruivo. Mas nunca gostei muito daquilo: parece que o Ruivo fazia por lá umas festas, tinha por lá umas amigas..." Mário Soares riu-se muito quando, mais tarde, lhe contei a observação da mulher...

9 comentários:

Anónimo disse...

Já nesses tempos havia Mar-a-Lago...

Anónimo disse...

Acrescente mais umas ideias e dados ao elogio da análise do Portugal Ameaçado e à alegada recusa do sectarismo:

https://ionline.sapo.pt/558127

Anónimo disse...

Parei de ler no "pai da nossa democracia".....

António disse...

Realmente um exilado político em tempo de dura e férrea ditadura é algo comparável a "Mar-a-Lago" de um multimilionário que em dois meses despendeu por conta do erário público, para passar fins-de-semana e não só, o mesmo que o seu antecessor em dois anos. Um mínimo de decência ou de vergonha, esperava-se...

Rodrigo S. Pereira disse...

Caríssimo Embaixador,

tive a oportunidade de lhe enviar uma mensagem através do Facebook, que aparentemente não leu por não sermos "amigos" virtuais. Pedia-lhe encarecidamente que, procurando o meu nome na sua caixa de correio virtual, pudesse ler a mensagem através da qual lhe coloquei algumas questões relacionadas com a minha tese de licenciatura.
Agradeço-lhe desde já, senhor Embaixador, pela sua disponibilidade e despeço-me com muita admiração por uma vida tão cheia, que felizmente continua a partilhar connosco.

Cumprimentos,
Rodrigo Pereira

Anónimo disse...

Sr Embaixador ja que tanto gosta de ler recomendo-lhe este livro meio clandestino,

Livro «Contos Proibidos» memórias de um PS desconhecido de Rui Mateus, muito bem documentado.

Fax de Macau, cia, trafico de armas para o Irao, pagamentos manhosos e muitas coisas mais acerca dos Srs Mario Soares e Cavaco Silva um deles ja foi outro ja la haveria de estar ha muito mais tempo.

http://ferrao.org/documentos/Livro_Contos_Proibidos.pdf

aproveitem para fazer o download enquanto podem porque por estas terras este livro e tratado como se fosse pesta.

Anónimo disse...

Mais um livro

Quando Portugal Ardeu
Histórias e segredos da violência política no pós-25 de Abril

Ligacoes do PS com a rede bobmbista pós-25 de Abril
Mais de 560 ataques da "rede bombista", que aterrorizaram os militantes pró-revolução e mataram muita gente.

Anónimo disse...

Portugal amordaçado, uma infâmia de terrorismo encartado. Para quem não sabe, ou ainda não existia, deixa-se escrito que já naquele tempo havia, nesse pequeno País, um número significativo de delinquentes habituais, de delinquentes por tendência e de delinquentes crónicos...

Anónimo disse...


Ex-combatentes da Guerra do Ultramar (que também chamam Colonial) :
Um País que não respeita os seus cidadãos, que sacrificaram a sua juventude, a sua saúde, e puseram em causa a sua própria vida para ajudarem os seus concidadãos e as populações a defenderem-se do terrorismo e dos terroristas, não merece essa designação, decerto por ter sido capturado e apropriado por delinquentes, nomeadamente compulsivos, que pelo País nada fizeram, a não ser em proveito de uns tantos..

Lembrar

Todos quantos acham que Mário Soares, se fosse vivo, se associaria a uma celebração do 25 de novembro fingem esquecer que o próprio Mário So...