Quase dez horas num avião são, para mim, um desafio bem revelador. Desde logo, configura uma desilusão comigo mesmo: não leio as várias revistas que comprei no aeroporto, fiquei muito aquém no consumo da pilha de jornais que trouxe, o livro que tinha para acabar continua quase como o comecei, uma notas para um texto que contava fazer ficaram para a próxima. Depois, foi a tragédia das vitualhas: comecei por abrir um saboroso parêntesis num projeto de redução de exageros culinários que (embora sem grande convicção) trazia esquiçado, porque o menu era magnífico, havia uns alcoóis imperdíveis e só se vive uma vez (e desconfio que esta é a última). Seguiram-se os filmes: sem paciência para coisas deprimentes, idem para comédias idiotas, dei comigo a saltitar entre coisas de forte ação, tiros e carros espatifados, desde que sem sangue - até porque, nesse domínio, já tinha lido o "Correio da Manhã" à saída de Lisboa. Enfim, concluo, se acaso fosse dado a frustrações, teria de sair deprimido por não ter "acertado uma" no meu esforçado planeamento. Como não sou, acabo por gozar comigo mesmo e com a minha recorrente ingenuidade. É que amanhã, quando regressar à Europa, sei que vou fazer exatamente o mesmo, tendo, claro, o mesmo resultado. Não aprendo, ou melhor, vou aprendendo a aceitar-me como sou.
3 comentários:
Excelente última frase!
Já cheguei à conclusão que a melhor táctica acaba por ser rendermo-nos a esses ócios forçados e ...apreciar.
Ora aí está uma frase lapidar: aceitar-se como é. Poucas coisas serão mais importantes do que isso. Talvez, no meu caso, aprender a perdoar-me a mim própria!
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