quinta-feira, novembro 24, 2016

Uma coisa em forma de livro

A Objectiva acaba de publicar uma biografia de Marcelo Caetano da autoria do cidadão brasileiro Francisco Carlos Palomanes Martinho.

Comprei o livro na tarde de ontem e comecei a ler o período posterior à tomada de posse de Caetano como Presidente do Conselho.

Vejam-se estas "pérolas", apenas entre as páginas 366 e 391:

(1) Ao citar uma frase de Pedro Feytor Pinto, que referia ter ouvido algo na "Rádio Argel", o autor acha que se trata de uma "emissora estrangeira", deconhecendo que é a "Rádio Voz da Liberdade", uma rádio da oposição portuguesa no exterior, dirigida pela Frente Patriótica de Libertação Nacional.

(2) Ao anotar a famosa reportagem do "L'Aurore" com Salazar, diz tratar-se de um "jornal suíço"... E dá à entrevista uma importância que ela esteve longe de ter, não explicando devidamente o estado mental do antigo ditador.

(3) Diz que o Bispo do Porto esteve "exilado em França". Ora, na sua quase década de exílio, António Ferreira Gomes apenas por um brevíssimo período esteve em Lourdes, passando a esmagadora maioria do exílio em Espanha (Santiago de Compostela, Valência, Ciudad Rodrigo e Salamanca).

(4) Refere que Mário Soares estava "exilado" em S. Tomé. Uma coisa é o exílio, outra bem diferente é a residência fixa. Páginas adiante, o autor já fala em "degredo", o que é mais próximo da realidade e prova uma lamentável ausência de rigor nos conceitos utilizados.

(5) Afirma que Marcelo Caetano "passou a utilizar a rádio e a televisão semanalmente", o que é rotundamente falso. As "conversas em família" nunca tiveram essa periodicidade: nos cerca de cinco anos e meio do seu governo, Caetano apenas fez 16 programas desses.

(6) Diz que Pinto Balsemão integrou, pela "ala liberal", a lista de deputados do Porto, quando o foi pela Guarda! E chama-lhe "jornalista do Porto"!

(7) Assinala que Sá Carneiro fez parte, em 1969, das "listas da UN/ANP". Ora a Ação Nacional Popular só foi criada em 1970. E o erro é repetido várias vezes, pelo que não se trata de um lapso, mas de desconhecimento.

(8) Diz que o lisboeta Américo Tomás era "trasmontano"... 

(9) E tem, finalmente, esta "tirada' de antologia: "através de decreto-lei o governo deixou de exercer uma influência direta nos Serviços de Censura, que passaram para a recém-criada Secretaria de Estado da Informação e Turismo" (!!!). 

Se, em 25 páginas estão tantas enormidades, imaginemos o que não estará nas restantes 564...

A Objectiva estará aberta a reembolsar-me dos mais de 20 euros que paguei por "isto"?

4 comentários:

Reaça disse...

Rádio Argel estrangeira? Voz da América, BBC, Rádio France Internacional, Rádio Vaticano, Deutche Welle, Rádio Varsóvia, Rádio Moscovo, Rádio Praga, Rádio Tirana, RSA...e algumas em dois horários nobres, um para o Brasil, e outro para Portugal e África.

Tudo em bom português segundo o último acordo ortográfico.

Mas que império!

Que saudades!

Que tomates!

Anónimo disse...

É óbvio que a Rádio Argel era uma emissora estrangeira com algumas horas operadas por portugueses(esses sim no exílio) e alguns até
meus amigos.Mas a rádio era obviamente estrangeira...

Anónimo disse...

Livràmo-nos de uma ditadura para acolher e votar livremente, é certo que a 5ªdivisão pretendia uma nova UN comunista ou outro nome para enganar os patêgos.

Não se esqueça que hoje é véspera do 25 de Novembro, passaram 41 anos em que foi possível travar a descida aos infernos do "sol radioso comunista" e associados.

Mal por Mal disse...

Os brasileiros, brasileiros mesmo, (também há brasileiros que não têm nada de brasileiros), nesse tempo da ditadura de Salazar nem sabiam que Portugal tinha colónias e que o Brasil tinha sido uma das várias colónias portuguesas no tempo dos seus avós.

Só pela raridade, um brasileiro descer à terra e olhar para um português que merece a sua atenção, é de comprar o livrinho.

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