O que sobrou em nós dos nossos mortos? Nestes dias em que, por um ritual também deles herdado, os evocamos intimamente, talvez valha a pena interrogarmo-nos sobre se soubemos construir, em nós mesmos, alguma coisa com aquilo que eles nos deixaram, à hora da morte, como tributo daquela que foi sua vida. É que se "isto" tem algum sentido, esse sentido só pode ser a consagração dos valores que deveriam ter transitado para nós. Se isso não aconteceu, se não fomos fiéis a essa herança (e todos encontraremos alibis conjunturais para o não termos sido), então talvez alguma da saudade que sentimos seja apenas um mal-estar íntimo por esses mortos estarem, afinal, já muito distantes daquilo que hoje, em realidade, somos.
2 comentários:
Só recordamos felizmente as melhoras facetas daqueles que nos deixaram. E, nesse sentido, nunca conseguimos ser fiéis à imagem idealizada que deles temos, o que nos nutre o sentimento de culpa de que fala. Mas o exercício de memória que este dia acarreta permite-nos, ainda assim, manter viva a tal bitola de valores (idealizada) que os nossos mortos nos deixaram. E gostava de acreditar que isso faz de nós pessoas melhores...
Entre nós infelizmente, continuam os morto-vivos, zombies vindos do PREC 75.
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