Por esta altura, em 2018, o Brasil terá experimentado 16 anos consecutivos de presidência de personalidades do Partido dos Trabalhadores (PT): oito anos de Lula da Silva e outros tantos de Dilma Rousseff.
Estes duplos mandatos não foram idênticos.
Lula acedeu ao poder depois de ter sido derrotado várias vezes. Moderou o seu discurso e conseguiu sossegar os meios económicos. Com Lula e com uma conjuntura internacional favorável, o Brasil cresceu e muita gente saiu da pobreza. O enriquecimento do país forneceu recursos orçamentais para generosas políticas sociais. Pelo meio, o PT revelou-se um fiel aprendiz dos vícios endémicos do sistema brasileiro, que antes tanto denunciara. O Brasil, grato a Lula, como que o absolveu do descarado “patrimonialismo” do PT e, mesmo no auge do chamado “mensalão”, reelegeu-o. E Lula chegou em glória, interna e externa, ao termo dos dois mandatos.
Para lhe suceder, Lula escolheu aquela que tinha sido a sua mais importante ministra. Dilma Rousseff foi eleita em 2010 apenas e só porque era a candidata de Lula. Também porque, do outro lado, tinha José Serra, um homem de centro-esquerda bem preparado mas sem o menor carisma. Dilma Rousseff teve de titular um Brasil que começava a sair dos “anos de ouro” e a ter de enfrentar as sequelas da crise. Mais ideológica do que Lula, demonstrou ter um forte tropismo intervencionista, que desagradou ao empresariado e às classes sociais mais elevadas, que começaram a dissociar-se de um governo que pressentiam menos pragmático do que o do antigo presidente. E sentem Rousseff crescentemente “prisioneira” do peso financeiro da malha de programas sociais, que arregimentou muitos dos votos que no domingo a reelegeram. Temem agora que, num cenário de um Brasil sem crescimento, a despesa pública que sustenta essa imensa rede de políticas possa levar ao desregramento das finanças, fazendo disparar a inflação (o grande pesadelo brasileiro). Esse outro Brasil errou ao opor a Rousseff uma figura de recorte “kennediano”, com uma aura de “playboy” e um perfil programático muito pouco definido, que ela conseguiu, com sucesso. colar à imagem do Brasil pré-Lula.
Em 2018, teremos a possibilidade de aferir em que medida 16 anos consecutivos de “petismo”, com o inevitável aparelhamento da máquina do Estado que é regra no Brasil, terá ou não induzido consequências deletérias no sistema, bloqueando mesmo a facilidade da alternância.
Um dia, numa conversa com Lula da Silva, referi-lhe a apreciação positiva que ele tinha obtido junto de vários embaixadores estrangeiros, pelo facto de ter resistido à tentação de “brigar” por uma reforma constitucional que lhe autorizasse um terceiro mandato, e que seria fácil de ele obter. Na ocasião, disse-lhe que, de certo modo, ele “tinha conseguido tirar o Brasil da América Latina”, onde a opção pela continuidade política costuma prevalecer sobre a estabilidade institucional. Em 2018, logo veremos se o Brasil regressou ou não à sua geografia natural.
Artigo que hoje publico no "Diário Económico"
10 comentários:
Cada vez mais o brasil alinha com a outra america latina e perde a individualidade e caracteristicas que lhe eram proprias.
a demagogia e o populismo imperam.
e dilma não é lula, não tem nem 1/5 da popularidade e simpatia do antecessor.
as eleições afinal foram decididas no dia do acidente de avião.
Plenamente de acordo com as suas interrogações. Veremos qual o impacto dos 50 milhões de subsiodependentes, conforme um economista brasilero.Num flash televisivo, uma mulher nova dizia que recebia 150 reais e mostrava dúvidas em quem votar por causa de perder subsídio.. Parece pouco o valor.
Cumps.
"errou ao opor a Dilma um perfil Kennedyano" porquê? Eu realmente não acho Kennedy uma grande espingarda... mas eu sou de direita. E á demagogia opôs-se que perfil?
João Vieira
Caro Francisco
Também conversei com Lula, aqui em Lisboa, aparentado pelo Mário Soares. Foi um "papo" interessante - Dilma já era Presidente, ainda havia quem dissesse Presidenta... - em que tive a oportunidade de lhe dar a minha opinião em resumo sobre os seus dois mandatos: excelentes e o mensalão
Sorriu, talvez contrafeito, mas respondeu-me: "Gostei, Vou ensinar isso na Dilma..." Sobre a qual tinha e tenho dúvidas e reticências.
Abç
Tendo menos uns bons vinte e tal anos a menos que o Embaixador FSdaC, tenho idade suficente para ter acompanhado a fase final de João Figueiredo e da transição.
Isso de um Brasil onde a corrupção não fosse endémica é pois coisinha de que me não lembro. De Sarney, a Collor, passando por FHC, pelo PT, pela ARENA.
Cancro tamanho tem de ser ferozmente combatido, e Dilma contemporizou menos que Lula, mas isso nem a tornou mais atraente para o eleitorado conservador. Igual resposta deve ser dada a muitas das justas reivindicações pré-copa do mundo.
Agora, não me venham tentar convencer com capas de revistas e jornais marrons que em vez de jornalismo fazem propaganda e intoxicação em nome das extrema-direita dos coronéis, dos velhos amantes do DOPS e até da 3ª via travestida de social-democrata. A realidade não é o que os jornais fazem dela, nem tem de ser aquela a que os boicotes dos possidentes conduzem.
Acredito que o aparecimento de Lula no final da campanha, tenha ditado o veredicto. Mas duvido que Dilma chegue sem problemas muito sérios a 2018.
Cconvem ser leitor do "observador", diáriamente, por exemplo:
"Europa: a esquerda não é solução"
A Senhora Helena Sacadura Cabral escreveu pouco mas disse tudo.
Eu acrescento:
"Quem ventos planta, tempestades colhe".
Haverá, algum dia, Justiça no Brasil?
Ao EMBUSTE, venha de onde vier, digo e direi sempre NÃO.
Da má fé da direita e da terceira via com a eleição de Dilma, falam bem muitas excelências, inclusive nesta caixa de comentários.
Que foi por pouco, foi sim, por mais quase três milhões e meio de votos, menos que da última vez, ams três milhões e quase meio de votos é voto pa catano. E Dilma Teve 51,64 % dos votos contra os 48,36% de Aécio.
Depois dizem que há o país ao meio. Preocupação que só dá na Venezuela ou no Brasil. Devem esquecer-se de Portugal, mais pequeno é certo, mas onde José Mattoso escreveu um livro chamado Identificação de um País e fala de um país desde sempre em dimorfismo social e cívico. Claro que isso do país dividido só interessa quando a esquerda ganha.
Em 1992, Clinton ganhou com 42 por cento dos votos, em 2004, Bush filho, esse que tão boa figura fez com Barroso, na Terceira, teve 50,7% contra 48,3%.
Mas bão, bão tinha sido em 2000 quando o Bushito se ficara com 47,9% dos votos e ainda assim foi eleito contra Gore, que arrecadara 48,4%.
Eu percebo o problema da divisão dos votos. E da divisão do país. Que traz problemas. Mas percebo eu, que para os que andam preocupados com eventuais c onflitos por causa da divisão isso nem será problema. A direita sul-americana é golpista e não sei se estará curada. O golpe foi foi usado recentemente na Venezuela, da primeira vez de Chavez esteve eleito, ou nas Honduras, onde o governo eleito se varreu para debaixo da mesa uns tempinhos curtos após a sua vitória.
Garanto que se tivesse vencido Aécio, os actuais preocupadinhos se estavam lixando para a divisão do país.
Elogia-se o Observador, circular promocional da candidatura de Barros a PR, dirigido pelo seu antigo assessor de imprensa, David Dinis - um homem que ainda mal tinha deixado o lugar e já assumia editorias políticas em tudo que era jornal nacional do DE ao DN, sem pudor em entrevistas antigos e recentes chefes - e José Manuel Fernandes, cuja opinião se escora em mais do que nos pontos de vista reaccionários e que traz sempre atrelada a propagandista Helena Matos, antiga educadora do povo que só perdeu os bons hábitos da esquerda nunca tendo perdido os maus de alguma dela.
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