segunda-feira, outubro 27, 2014

Brasil

Ganhou a continuidade, nas eleições brasileiras. Embora por escassa margem, o Brasil rejeitou um candidato que não conseguiu apresentar um projeto programático que fosse entendido como uma alternativa pela positiva ao modelo vigente - Aécio Neves foi apenas o candidato do "tudo contra o PT". O "risco" induzido do abandono do forte tecido de políticas sociais somado ao receio de um regresso ao "statu quo ante", que a eleição de Lula em 2002 derrubara, prevaleceram sobre o evidente desagrado face às disfunções do Estado e pelas práticas de apropriação privada ou partidária de bens públicos, que o eleitor brasileiro parece contudo entender como uma efeito colateral, endémico e inevitável, do seu sistema político. 16 anos consecutivos de poder do PT, com efeitos de "aparelhamento" da máquina político-institucional, poderão vir a afetar a capacidade de geração de alternância na grande democracia brasileira?

Em tempo: TSF e Antena 1.

12 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Creio que existe uma segunda leitura do resultado:

Para os progressistas latino americanos, o resultado é uma derrota para os Estados Unidos da América. Mesmo o adjectivo de anti-americanismo primário não me faz mudar de opinião.

As mudanças progressistas recentes na maioria dos países latino americanos, a criação de novas estruturas regionais de integração política e económica, a travagem das multinacionais, a distribuição equitativa das riquezas, a conquista das soberanias são crimes de lesa majestade vistos do lado de Washington. Mas este novo mundo continua sob a ameaça do predador.

Todos os media ligados à oligarquia foram mobilizados contra aquela que simboliza – apesar dos limites da sua acção e das derivas corruptivas mesmo no seu governo, uma politica de progresso social, de soberania nacional, de cooperação com as nações da região e mais geralmente de projecção no futuro no quadro dos Brics.

Dilma Roussef suportou as tais rasteiras ( e também os seus passaram algumas !) da burguesia que pensava que a sua "hora" tinha chegado, os mercados financeiros tendo ido até provocar na véspera do escrutínio a queda da bolsa anunciando um possível marasmo económico.

As populações extirpadas da pobreza (40 milhões estes últimos anos) uma parte daquelas que ainda de lá não saíram e a quem ela prometeu medidas rápidas e eficazes, uma parte da classe trabalhadora, os trabalhadores agrícolas e as novas classes médias , assim como uma fatia importante de jovens eleitores asseguraram a vitoria de Dilma. São estes que Dilma vai ter a obrigação de não desapontar.

Apesar da baixa considerável da pobreza e dos progressos na educação e na saúde, ainda há muito para fazer. E isso pode facilitar reacções no futuro que serão exploradas pela burguesia. A direita só sonha de voltar ao poder. E para lá voltar todos os meios são bons. Perdeu nas urnas, mas um pouco de surf sobre os descontentamentos que ainda existem e podemos assistir no Brasil aos eventos de Caracas. A alerta foi quente. Atenção Dilma!

Na América do Sul nada se inscreve antecipadamente, porque esta região está confrontada actualmente a uma vasta ofensiva ultra liberal inspirada e coordenada por Washington.

Anónimo disse...

Perdoem-me o desabafo mas esse tantinho a mais da metade do eleitorado brasileiro apostou na continuidade da roubalheira, dos desmandos, da desonestidade, da estagnação - ou mesmo retrocesso - económica e, essencialmente, moral.
Dizia minha avó que "quem com porcos anda, farelos come". Triste é saber que um tantinho a menos da metade dos "outros", obrigatoriamente e sem escapatória, terão de comê-los também.
Triste é ver o rebanho, porque Povo, brasileiro não é, ser enganado com tanta facilidade. Aposto que neste momento a presidentA, bem assim como seu chefe, comentam: "Foi mamão com açúçar".
É triste e dói.

Anónimo disse...

Existe um Brasil que tem ódio tremendo, quase de morte, ao PT e que é incapaz de lidar com a democracia.
Com todos os casos de corrupção e de tomada de parte do Estado por interesses partidários, a maioria do povo brasileiro achou que o PT merece continuar a governar; ou seja, a maioria achou que a alternativa era pior.
Em democracia é assim.
Nota: não acho Dilma uma presidenta competente; nem é uma pessoa com quem simpatize.

David Caldeira

Joaquim de Freitas disse...

Os dois comentários supra fazem-me pensar nas eleições francesas de 2012.

O anónimo das10:47 parece "digerir" mal o "tantinho" a mais do eleitorado que votou Dilma. E daí o processo da roubalheira, que existe ( nunca existiu antes?) no pais do "jeitinho"! Mas é a última frase que chamou a minha atenção: " Triste é ver o rebanho, porque Povo, brasileiro não é,". Diabo, aqueles do "tantinho que votaram a mais por Dilma não pertencem ao Povo Brasileiro, porque votaram por ela?
Tenho a impressão que o "anónimo" ainda não compreendeu a significação da palavra " Democracia".

Se soubesse, compreenderia que o meu Presidente, da França, François Hollande, foi eleito no dia 5 de Maio de 2012, por 51,64% dos sufrágios, contra 48,36% ao seu adversário, isto é, pela mesma margem que Dilma Roussef. E é o Presidente de todos os Franceses.

F. Hollande também não é hoje o homem preferido dos Franceses, com quem mesmo muitos que votaram por ele não simpatizam. Longe disso! Mas, como escreve o Senhor David Caldeira a propósito da Dilma, a solução do seu adversário, Nicolas Sarkozy pareceu, no momento, uma alternativa pior ainda. Por consequência, um "tantinho" de Franceses mandaram-no às favas! Isto chama-se Democracia.
A propósito: Talvez um Brasileiro possa explicar-me qual é a tendência do adversário da Dilma : Social Democrata ?, porque ao longo da campanha não ouvi falar da Direita.

Anónimo disse...

Não foi nada por não apresentar um projeto programático...
Perdeu porque no Brasil tem a Bolsa família, um tipo de voto obrigatório de aluguel.
São 14 bilhões por mes para sustentar 50 milhões de pessoas que nada produzem.São 5 vezes Portugal.
De onde a Dilma vai tirar esse dinheiro num país falido????

Anónimo disse...

Senhor Joaquim de Freitas,
Escrevi às 10:47, como anónimo. Porém tenho nome e passaporte, aliás passaporte esse que me deu permissão para que pudesse ter vivido em três continentes, em diferentes épocas, obviamente. Conheço, por isso, muito bem a palavra Democracia. Não conheço apenas as letras que a compõem, mas sim o seu significado pleno. Se para o Senhor, democracia é o maldito e desprezível "jeitinho brasileiro", a malandragem do (des)governo do PT, ora valha-nos deus! Os brasileiros ainda tem de viver muitas e muitas gerações para que sejam realmente um Povo! Ou acha que um aglomerado de pessoas que facilmente são ludibriadas com o recebimento de parcas esmolas (que trabalhar cansa!) pode ser chamada de Povo?
Não me irritei, Senhor Freitas, com suas palavras. Talvez a "minha" democracia seja diferente da sua. A sua deve ser a corintiana e essa realmente eu desconheço. Mil perdões, Senhor Freitas.

Anónimo disse...

Peço desculpa ao Senhor Embaixador por ter usado o seu espaço para fazer meu desabafo.

Joaquim de Freitas disse...

Caro Senhor Anónimo: Dirigi-me ao anónimo, porque era o único meio de identificação possível. Mas tem o direito de ser anónimo. Permita que lhe responda a respeito da Democracia. Vivo num pais democrático há 55 anos, mas nasci num pais sob regime ditatorial: Portugal.

Sou e somos neste pais filhos da democracia . Creio que é através dos nossos modos de vida que podemos compreender os fundamentos das nossas democracias, comparando-as aos sistemas políticos do passado e do presente. E vemos que baseamos as nossas sociedades sobre princípios que não escolhemos. Possuir um passaporte não basta para afirmar que se é democrata ou que se compreende a democracia.

Estamos em democracia, devemos decidir das nossas leis e do nosso futuro. E portanto, não escolhemos a nossa constituição, nem os princípios seculares inscritos no nosso código civil, os direitos das pessoas, a pertença a uma Nação, a propriedade privada, a família...

Há somente alguns séculos, os Franceses eram súbditos do rei, como os Brasileiros antes do grito do Ipiranga. A democracia era então um sistema político há muito tempo esquecido, os Franceses não sabiam mesmo o que a palavra significava.

O fracasso e a queda da monarquia francesa foi devido às disparidades entre alguns privilegiados, que beneficiavam do sistema, e o resto da população. Este sistema politico foi um fracasso como o foi no seu tempo a república de Roma, a democracia de Atenas ou mais recentemente a Rússia dos Tsars e depois a URSS.

Estas leis que respeitamos numa democracia são seculares , e são as mesmas que permitiam aos patrícios Romanos de empilhar as riquezas de geração em geração, à nobreza francesa de beneficiar das propriedades adquiridas pelo direito do sangue.

No tempo do fascismo, o controlo dos governantes sobre os povos exercia-se de maneira autoritária e a repressão era a regra contra os oponentes ao regime. Hoje o direito de voto constitui a base da democracia.

O "tantinho" que fez a diferença entre Dilma e o adversário pertence a essas dezenas de de milhões de miseráveis para quem, a Democracia, é a única arma de defesa.

Para reduzir o numero basta fazê-los evoluir através da equidade e a justiça.

nuvorila disse...

João Carlos Prestes não viveu e morreu em vão...Nem a sua mulher, morta pelos nazis! História a uma hora destas???

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Nuvorila. Luiz Carlos Prestes

Anónimo disse...

O meu total apoio ás palavras de Joaquim Freitas, quer no que disse sobre o resultado elitoral no Brasil, quer aos outros comentadores.
Dói, à Direita (aqui, no Brasil, nos EUA, etc), ver que o candidato que se opunha a Dilma foi derrotado. Dói á Direita ver que os EUA e a reles Finança internacional que durante as eleições tentou influenciar e destabilizar o eleitorado, sem o conseguir, não conseguiram o que desejaram.
A Direita aqui (e lá por fora) finge-se ingénua em acreditar que o candidato derrotado iria, assim sem mais, acabar com a corupção.
Embora Dilma esteja longe de ser uma Santa, mesmo muito longe, é importante a sua continuidade por várias razões. Apesar de tudo tem condições para, desta vez, não podendo renovar o seu mandato e tendo visto a sua base eleitoral diminuir, proceder a reformas que se impõem, sobretudo de carácter social, bem como económicas.
Por outro lado, pode, deste modo, prosseguir com a sua política externa, mais distante dos EUA, da traficância dos Mercados e reforçar as relações com a Rússia, China, Índia, etc, ou seja os “Brics”. E até a essa inovadora ideia de um novo “FMI”.
Nesse sentido, ainda bem que Dilma não perdeu (não perdeu para o candidato que se lhe opunha), no caso presente.
Quantos mais países na América Latina se distanciarem da influência nefasta norte-americana (a mesma que pagou e apoiou no passado os inúmeros golpes de Estado colocando no Poder desses países uma burguesia abjecta, parasita e criminosa), como o Brasil e outros, melhor.
Alegro-me com a reacção da Direita por cá e lá por fora, de raiva surda pela vitória de Dilma.
Lourenço

Anónimo disse...

Anônimo das 22:02

A democracia pode explicar como que na contagem dos votos o Aécio estava ganhando com 89% dos votos computados e faltando apenas 11% a Dilma vence???
O Lula disse: FAREMOS DE TUDO PARA QUE A DILMA VENÇA AS ELEIÇÕES.
Já ouviu falar em chips clonados.
como é possível faltando 11% a Dilma vence??? Eu não acredito em papai Noel, saci Pererê, cegonha, e muito menos nessa vitória da Dilma.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...