sexta-feira, maio 23, 2014

Mónaco


Este fim de semana, tem lugar o Grande Prémio de Mónaco, em Fórmula 1. Os automóveis não me dizem rigorosamente nada, nunca dei um passo para ir ver uma dessas competições, fosse no Estoril, fosse noutros circuitos próximos de várias cidades onde vivi. Contudo, talvez tivesse gostado de ter ido um dia "às corridas" ao Mónaco. Como primeiro embaixador português no Principado, teria aliás sido fácil fazê-lo mas, por uma qualquer razão, nunca me organizei nesse sentido. Mas sempre me seduziu aquela feira anual de vaidades, um circuito onde a destreza conta mais do que a velocidade, onde o ambiente circundante, como a imagem ilustra, acaba por rivalizar com a importância desportiva do evento.

Ao longo de alguns anos, estive por diversas vezes no Mónaco, tanto em períodos em que a cidade tinha um ar calmo e quase provinciano como em momentos de grande agitação, em festas nacionais ou no casamento do príncipe Alberto, em que representei o nosso país. E é a propósito do príncipe que recordo aqui uma historieta com alguma graça.

Uma noite, em Paris, ainda antes de estar "acreditado" no Mónaco, fui jantar a casa de uns amigos. O convidado de honra era o príncipe Alberto. É um homem muito cordial, nada "poseur", bom conversador, que me falou com agrado do modo como, pouco tempo antes, fora recebido em Portugal e, muito em especial, nos Açores. Ao final da noite, que se prolongou mais do que esperado, dei-lhe conta que, no dia imediato, estaria presente num almoço com empresários e políticos, em que ele falaria sobre os esforços que o Principado estava a fazer para harmonizar as suas regras fiscais, fugindo às suspeitas que o seu estatuto de "paraíso" estavam a levantar. Simpático, o príncipe, retorquiu-me: "Coitado de si! Esteve aqui a ouvir-me toda a noite e amanhã vai ter de aturar-me de novo..."

No dia seguinte, num conhecido clube, fiquei colocado numa mesa redonda, perto da porta de entrada no salão, onde largas centenas de pessoas iam almoçar e ouvir o príncipe. Pela "geografia" da minha mesa, fui praticamente das primeiras pessoas com quem o príncipe Alberto deparou, ao entrar na sala. Ao ver-me, e recordado da cara com quem estivera a conversar até poucas horas antes, fez um largo sorriso e saudou-me de forma bastante efusiva. Vários dos meus colegas embaixadores, presentes na sala, ficaram visivelmente surpreendidos com o gesto e, no final do almoço, vieram inquirir de onde é que vinha aquela minha "intimidade" com o príncipe monegasco. Aí, confesso, não resisti e, com grande gozo, antes de mais tarde lhes revelar a verdade da circunstância, deixei cair para alguns: "O Alberto?! Oh! Grandes noitadas passámos juntos..." 

13 comentários:

Anónimo disse...

Lindo :) Será que aguentava o ritmo do Alberto?!

Anónimo disse...

Quem me dera ser "Sol".

Anónimo disse...

A foto não será de fórmula "2"?
Um Vila-Realense não gostar de automóveis é como um qualquer não gostar de ovos estrelados!
antonio pa

patricio branco disse...

boa historia diplomatica...
importante economica e financeiramente esse minusculo país, pelos vistos, e a importancia e o papel que têm os monacos, lichstensteins e andorras na europa, talvez tambem o vaticano...

Anónimo disse...

S. Embaixador,

Nice! Gostei...

Foi para nos descontrair?

Merci bien

São disse...

Não me agradam as corridas de automóveis, mas as de moto sim...embora também não me desloque para as ver.

Estive no Mónaco dias antes do casamento do príncipe , já com tudo engalanado e o palácio(que visitei) em grande azáfama.

Lamentavelmente , penso que aquele casamento não resultou...mas isso não é de minha conta.

Quanto ao circuito do Mónaco gostaria de o ver ...em helicóptero, pois descrever a curva do casino num bólide entrando depois no túnel é algo que me deixa espantada!

Achei piada às suas "noitadas" com Alberto, :)

Os meus cumprimentos e desejos de boa votação.

Anónimo disse...

É curioso, tenho a mesma distância relativamente ao futebol. Não me passa pela cabeça ver um jogo num estádio ou mesmo pela TV. Nem mesmo os do Mundial que aí vem. E também por lá há modelos e bikinis, companheiras dos jogadores, ao que consta. Gostos.

Defreitas disse...

Para mim, Mónaco, esse horrível rochedo com pilhas de imóveis uns sobre os outros, evoca-me uma das várias anomalias da Europa , mais que outros Estados do mesmo gabarito: Inferno do jogo, paraíso fiscal, evasão fiscal, máfia russa e de outras nacionalidades.

Mas o que me desespera mais é a subvenção que o Príncipe recebe de Bruxelas. O escândalo da Politica Agrícola Comum, a famosa PAC, que tem o maior orçamento da UE : 10 mil milhões de euros.

Os beneficiários são por vezes inesperados: A Rainha de Inglaterra e o filho, o Príncipe Charles, recebe um dos cheques mais volumosos, e o Príncipe Alberto de Mónaco também recebe um bem chorudo. E porquê ? . A Rainha de Inglaterra é uma grande proprietária de terras agrícolas no Reino Unido, e o Príncipe Alberto também, só que as suas terras se situam em França!

Há um outro grande "agricultor" francês que também recebe um grande cheque : LVMH ! Só algumas centenas de milhões , para juntar ao lucro sobre os sacos Vuitton , que os Chineses e os Japoneses compram em massa ! Não há duvida nenhuma que estes "pobres agricultores" precisam de subvenções, que nos outros , contribuintes, pagamos!

Entretanto , aprecio mais o Rallye de Monte-Carlo quando passa cá nas minhas montanhas dos Alpes!

Desculpe , Senhor Embaixador de destruir assim a bela imagem que ilustra o seu "post", mas ali para os lados da ilha do Levante há beldades mais simples que recordam o paraíso perdido, mesmo se não fazem trabalhar a industria têxtil !

Anónimo disse...

Caro Francisco

Bela estória, bem contada (como sempre) e muito gozada. Resumindo como diriam os meus netos: bué da fixe!

Abç

Anónimo disse...

Foi pena não se interessar pela F1, teria sido muito mais excitante e melhorado a sua visão global do mundo da finança.

O futuro não augura nada de bom na Europa.

Alexandre

Anónimo disse...

Nã0 foi por acaso que o Leonardo Jardim se milionou com o Mónaco...

Guilherme.

Isabel Seixas disse...

Oh que folia e conto de fadas o embaixador e o príncipe o príncipe e o embaixador, na noite , claro.
Realeza a quanto obrigas...

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Dá Deus nozes a quem não tem dentes

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...