sexta-feira, maio 30, 2014

Alberto Costa e Silva

Há alguns meses, contei por aqui um episódio. Um dia, numa intervenção pública que proferi no Rio de Janeiro, no início das minhas funções no Brasil, afirmei que era chegado o tempo de abandonarmos a retórica nas relações bilaterais e passarmos a preenchê-las com a substância do relacionamento humano, cultural e económico desses novos tempos. No final dessa minha fala, o antigo embaixador brasileiro em Portugal, Alberto Costa e Silva, aproximou-se de mim e disse: "Não despreze a retórica, Francisco. Ela tem sido historicamente essencial ao nosso relacionamento bilateral. Foi ela a "almofada" de afetividade que permitiu sustentar as nossas relações, quando as coisas correram mal". Tomei nota dessa observação e, com os anos, vim a dar plena razão àquele nosso amigo.

Há minutos, uma jornalista quis saber a minha opinião pelo facto de acabar de ser atribuído a Alberto Costa e Silva o "Prémio Camões". Fiquei imensamente satisfeito com a decisão, que distingue uma personalidade riquíssima da cultura brasileira, que é igualmente um bom amigo de Portugal e uma das figuras da intelectualidade brasileira que maior atenção tem dado às questões africanas. Se há alguém que pode, com legitimidade, ser visto como representando bem a lusofonia que está na matriz do Prémio Camões, essa figura é o meu amigo Alberto da Costa e Silva.

Um forte abraço, Alberto.

4 comentários:

Portugalredecouvertes disse...


Muito bom! parece que sentimos mais vontade de descobrir o trabalho desse senhor da língua portuguesa!

Anónimo disse...

Caro Francisco

Uma vez, aqui em Lisboa, no Palácio das Laranjeiras o embaixador Alberto Costa e Silva - de quem fiquei amigo - durante um jantar que nos ofereceu (à Raquel e a mim), disse-nos que nós que viveramos uns anos em Angola devíamos ter muitas coisas para conversar com ele.

E assim foi: a Vera e ele foram várias vezes a nossa casa e para além de Angola mais (muitos) temas vieram à colação. Naturalmente Goa teve um lugar relevante. E fomos bastantes vezes à embaixada, retribuindo as conversas que tinham acontecido na Lapa, onde eu então vivia. Homem notável e - modestíssimo.

Quero ver se sei o mail dele, para lhe mandar um grande abraço de parabéns. Naquele tempo nem pensar em correio electrónico. Vou tentar junto da embaixada do Brasil.

Mas, se o meu caro Francisco me puder ajudar desde já fica o meu muito obrigado.

Abç



Isabel Seixas disse...

Fazendo jus ao comentário de Portugaldecouvertes gostei deste poema por analogia de quando alguém se lembra de alguém despede a morte...

A Despedida da Morte

Falo de mim porque bem sei que a vida
lava o meu rosto com o suor dos outros,
que também sou, pois sou tudo o que posto

ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,
cicia apenas — O teu tempo é a trava
que te impede de ter a calma clara

do chão de lajes que o sol recobre,
este esperar por tudo que não corre,
nem pára e nem se apressa, e é só estado,

e nem sequer murmura: — O que te trazem
é o riso e o lamento, o ser amado
e o roçar cada dia a tua morte,

que não repõe em ti o, sem passado,
ficar no teu escuro, pois herdaste
e legas um sussurro, um som de passos,

uma sombra, um olhar sobre a paisagem,
memória, cálcio, húmus, eis que o mundo
nada rejeita, sendo pobre e triste
no esplendor que nos dá. A madrugada.

Alberto da Costa e Silva, in 'Antologia Poética'
Tema(s): Vida

patricio branco disse...

interessante este camões ao diplomata brasileiro que será não só pelo bom profissional que é e amigo de portugal, como por outros valores que tem, irei então ver o texto da atribuição onde se explicará as razões e o merito de receber o premio...

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...