O governo francês, sob a inspiração do seu novo ministro da Economia, Arnaud Montebourg, decidiu publicar uma legislação destinada a condicionar a aquisição de empresas francesas por capitais estrangeiros. Vivendo nós no país em que vivemos, onde a ânsia liberal de "vender o país" leva tudo à frente, parecerá bizarra esta atitude de nacionalismo económico. Mas não é isso que aqui hoje importa.
A decisão do governo de Paris tem diretamente a ver com a recente disputa em torno da tentativa de aquisição da empresa Alstom, que provocou fortes ondas internas de choque. Montebourg é conhecido por ser um acérrimo defensor do protecionismo económico, uma atitude que, desde há muito, está no ADN dos franceses, à esquerda ou à direita do espetro politico. O facto das eleições europeias estarem à porta é também um fator que ajuda a entender esta posição.
Pelo que vi escrito sobre a nova legislação, ela parece-me, em absoluto, não conforme com as normas do "Mercado interno" comunitário, que a França livremente subscreveu nos tratados europeus e que, ironicamente, é tutelado, no seio da Comissão, pelo comissário francês Michel Barnier. Quero com isto dizer que teremos um inevitável processo de contencioso à vista. Enfim, como se diz na banda desenhada francófona, "à suivre"...
2 comentários:
O grande dilema , hoje, para muitas belas empresas europeias, é de resistir ao "apetite" das multinacionais americanas, chinesas e outras, dotadas de imensos capitais.
O problema Alstom, que foi accionista principal da empresa que dirigi durante anos, vendida um dia por Alstom a capitais americanos, é o da dimensão em termos de volume : Alstom, 95 000 empregados, General Electric (GE) 305 000. Volume de vendas Alstom: 20 000 milhões. GE, 146 000 milhões. Está tudo dito.
Logicamente, em puro espírito europeu, é a Siemens que deveria ser escolhida. Mas os alemães e os franceses são concorrentes directos nos transportes (TGV). E como 1+1, não faz 2 , os empregos seriam ameaçados.
Daí a ideia de Siemens de ceder à Alstom o sector TGV , em troca do sector energia de Alstom. A Europa teria assim dois gigantes : Alstom nos transportes e Siemens na energia.
Mas como aceitar de perder o sector energia, absolutamente estratégico para a França? Sobretudo quando se sabe que a energia eléctrica em França, é 75% nuclear, e que é Alstom que fabrica as turbinas?
Proteger os sectores industriais estratégicos : a Espanha, a Alemanha, os EUA, fizeram-no , e a França também em 2005. Mas não resolve o verdadeiro problema de Alstom na sua falta de dimensão para atacar o mercado mundial.
Quanto ao Cher Barnier, a protecção dos interesses essenciais estratégicos em cada Estado membro é previsto no tratado.
Este negocio eventual entre Alstom e GE, ou Siemens, preocupa o mundo do trabalho. Ele demonstra onde se encontra o verdadeiro poder no mundo globalizado, e o papel ínfimo dos políticos, mesmo se estes não perdem de vista o problema do emprego.
A oligarquia é o modo natural e geral do exercício do poder. A evolução de todas as técnicas e a globalização do espaço instalam as oligarquias como o poder dirigente de todas organizações humanas: nação, família, empresa .
é que não é por acaso que os franceses têm uma escola de guerra económica e são dos maiores especialistas em inteligência económica. Um nome: Alain Juillet
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