Há dias, e durante algumas horas, prestei um testemunho, com objetivo histórico e académico, sobre a minha experiência diplomática. Foi muito interessante refletir em voz alta sobre cada uma das diversas fases desse percurso. Dei-me conta de que, ao ser inquirido, de forma conhecedora e informada, sobre determinadas temáticas, fui levado a aprofundar algumas perceções e a dar-lhes um significado diferente. O tempo ajuda muito a isto.
Uma das matérias que estiveram em evidência nesse exercício foi a questão europeia e, muito em particular, o modo como a diplomacia portuguesa se colocou perante o processo integrador. Já um dia fiz um boquejo escrito sobre a atitude das Necessidades nesse contexto, ressaltando que a escola soberanista prevaleceu fortemente, frente a uma certa pulsão europeísta minoritária. Já ouvi alguns opinarem que esse foi um confronto entre uma "direita", tributária da cultura tradicional da "casa", e uma "esquerda", titulada por alguns "jovens turcos" que apostavam na bondade intrínseca das instituições comunitárias, como âncora essencial para o "salto em frente" do país saído do 25 de abril, num tempo pós-imperial. As coisas, porém, não são tão simples e esquemáticas como isso. Alguma "esquerda" foi e é fortemente soberanista, talvez por razões diversas das de alguma direita. E outra "direita" tinha e tem uma atitude muito pró-europeia, nalguns pontos por motivos que divergem da "esquerda". Ainda falaremos mais disto por aqui um dia.
Hoje, quero apenas deixar registada uma consagrada historieta. Um alto funcionário de um importante ministério técnico-político português afirmava-se sempre abertamente crítico da opção integradora, entendendo que os interesses portugueses ficariam muito melhor defendidos se permanecêssemos fora do "clube" de Bruxelas. As suas ideias não prevaleceram e, um dia, numa reunião técnica, veio à baila a necessidade de Portugal fazer mais algumas concessões em matéria de soberania, então resistidas por certos setores. Implicitamente, o homem sentiu-se vingado e logo se saiu com esta:
- Então não foram os meus amigos que quiseram entrar na grande "orgia" que é a Europa? E agora não querem tirar as calças?
Concedo que a frase não é de extrema elegância, mas ficou na memória desses primeiros tempos de Portugal na CEE. Diz quem assistiu que foi um grande momento...
4 comentários:
Bem há cada figura de estilo...
"Le style c'est l'homme même"
Buffon
Há metáforas!...
Quizeram a UE, agora a malta que aguente.
A UE foi só para meia dúzia encher os alforjes executar-obra- para o olho (e respectivo bolso),o resto é o que sabemos.
A política dita "imperial" foi substituida pela politica da mão-no-bolso entretendo o pagode com maravilhosas estratégias e futuros risonhos !
Todo o País agradece, nomeadamente aos socialistas e aos banqueiros-do-poder, a ajuda dada a tipo de política de enterro de Portugal.
Quem vier a seguir é o mesmo do mesmo, não existem variantes tipo Costa, Sócrates, etc.
Muita gente do "cisma" cinzento como falou o "bailarino", teria emigrado no PREC.
Foi esta democracia que nos deixaram no fim da vida ! Parabéns Portugal
Alexandre
Caro Embaixador,
Penso que há uma gralha em
"permanecêmos".
Interessaria saber quem o PS apresenta às europeias. Pena que não seja uma Mulher. Faria a diferença. Assis, sólido intelectualmente, não é galvanizador. Costa seria uma boa escolha.
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