sábado, fevereiro 22, 2014

"Preparemo-nos! Ide!"

Na sua imperdível crónica no "Diário de Notícias", Ferreira Fernandes falou ontem de Bernard-Henry Lévy, o filósofo francês que estimulou Nicolas Sarkozy à invasão da Líbia e que, recentemente, surgiu, no alto da tensão ucraniana, a estimular publicamente em Kiev os opositores ao regime a rebelarem-se pela força.

A França é muito dada à gestação deste tipo de "guerrilheiros da palavra", de corajosos combatentes com os mortos dos outros, prenhes de gesticulação mediática e com uma avaliação das consequências das lutas ao nível das batalhas de soldadinhos de chumbo. Lévy é um filósofo de algum mérito, com uma expressão mediática constante, uma exagerada exposição da sua figura física e do seu verbo. Veste-se daquilo que os brasileiros qualificam de "esporte fino", isto é, bons fatos com camisa branca aberta até ao terceiro botão, a mostrar o peito, cabelo ondulado e esvoaçante graças à eficácia da laca. Lá o vi, há semanas, no "Flore", em Paris, preponderando numa corte de admiradores.

Na minha terra, em Vila Real, há um exemplo clássico destes estrénuos lutadores com as forças alheias, que o meu pai me recordava sempre. No início dos anos 60, aquando de uma das primeiras incorporações para a guerra colonial, ficou famoso o discurso jingoísta de um capelão do Regimento de Infantaria 13, o qual, voltando-se para os militares em parada, a dias de partirem para o braseiro de Nambuangongo e similares, terminou a sua alocução com uma frase que ficou histórica: "Rapazes! Preparemo-nos para a guerra. Ide!"

9 comentários:

Anónimo disse...

Também temos por cá Lisboa pessoas com muita ânsia de protagonismo que ameaçam sair do Partido Socialista e depois não saem.
Má notícia é o aparecimento de Vitorino ao lado de Gaspar que desprestigia o PS.
Fiquei com pena de Capucho ao ter sido expulso do PSD, mas pensando bem duas vezes é pena que o PS não faça o mesmo a Alegre e Vitorino.

Guerra disse...

Viva sr. Embaixador.
O que ma havia de lembrar. O Sr Abade que refere foi meu prof.
Naquele tempo já dizia ter ido a Cuba e ter dormido com um Leão no quarto. Publicava livros de poesia e fazia sermões por encomenda dos que faziam chorar as velhinhas. Já agora, Cuba era a simpática terra alentejana e Leão era o seu companheiro de viagem. Ao que julgo ainda é vivo e que assim continue. Por isso, quando nos referiamos ao sr abade lhe chamavamos o "heroi de negaça".
Cumprimentos cá da Bila

Anónimo disse...

Mas não é isso que todos os "pensadores", "estrategas", políticos, fazem? Opinar sobre a vida dos outros e jogar com a mesma?

Uns são bons e outros são maus, consoante o lado da barricada? Como sempre...

Julia Macias-Valet disse...

http://www.youtube.com/watch?v=KOz9bUVQdbI

Anónimo disse...

Relacionado com o texto, excelente como sempre, de Ferreira Fernandes, ocorre-me referir o que li hoje, numa notícia da RTP:
Comentando o acordo que com outros mne,s apadrinhou, prestes a ser estilhaçado pelos manifestantes e pela oposição em Kiev, o ministro dos negócios estrangeiros francês, salientou - "Sejamos prudentes, porque a situação económica é aterradora".
Cobardes!
Primeiro, com o cherne de Bruxelas na primeira linha, incentivaram à rebelião e ao descalabro, agora que vêm "a criança a cair-lhes nos braços" é que ficam aterrorizados.
Grandes cobardolas, já estarão a preparar para eles um "programa" igual ao nosso?

Anónimo disse...

A UE tem agora na Ucrânia um bébé nos braços e não pode assobiar para o lado e de duas vinte e quatro: ou dá cacau ou encoraja a sua adesão.

patricio branco disse...

sempre foi um assunto muito querido dos franceses, o intelectual e a politica, rousseau, montesquieu, victor hugo, camus, sartre, senghor, mauriac,malraux, regis debray, bhl, etc, lista interminavel, catolicos, ateus, comunistas, de direita, etc, ou seja, os intelectuais e a politica, em intelectuais entra tudo, filósofos, romancistas, poetas, ensaistas, professores disto ou daquilo, devem eles envolver-se com a politica, tem o direito de agir assim, intrometer-se nesse campo passando mesmo à acção? ou terão ao direito de se alhear, ignorar,da situação politica dos homens, seus concidadãos ou não? nos ultimos 50 anos foram publicados em frança vários livros com este nome, os intelectuais e a politica,ou titulo parecido, tambem do tipo a morte dos intelectuais, alguns foram best seller.
sartre andou por cá com a simone logo a seguir ao 25a, outros andaram pelo chile de allende, por cuba.
pois será uma forma de fazer politica sem ser dentro dum partido nem ser ministro nem maire, nem ir a eleições, mas através de ideias e principios que teorizam, defendem, e se tiverem a possibilidade de influenciar politicos como este bhl com sarkozi apontando para a libia...
pois o denhor sentirá se seguro, influente, estrela, e até o é, parece que tem um livro de investigação sobre a morte, rapto e assassinato, do jornalista americano daniel pearl interessante.
pois nós aqui temos algo parecido mas em menor escala, manuel carrilho, viegas, vários durante a ditadura salazarista, pois ir a kiev à praça da liberdade arengar é interessante, há por ali vocação a uma causa politica, humanista, claro, deve existir uma grande dose de narcisismo dentro do sr bhl, mas então, se ele até influencia presidentes não sendo um maquiavel, pois que continue, etc etc

Anónimo disse...

BHL é assim mesmo. Talvez ainda pior.

Anónimo disse...

Nem todos, nem todos são assim... O Regis Debray "molhou a sopa" em Cuba.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...