O modelo das eleições primárias, através do qual um partido escolhe o seu candidato a um determinado cargo através de uma auscultação de um universo mais alargado do que a sua direção política, não tem uma tradição em Portugal. Os EUA já há muito vão por aí e a França começa a testar o modelo.
Ontem, durante o congresso do PSD, assistiu-se já a um curioso e atípico "ensaio". Aproveitando o sopro de otimismo que as últimas estatísticas económicas insuflaram no partido, uma revoada de antigos líderes entendeu por bem dar à costa. Se, no caso de Marques Mendes, alguma discrição foi seguida, se Luis Filipe Meneses deixou apenas palavras sobre o passado, já Marcelo Rebelo de Sousa e Santana Lopes aproveitaram habilmente o ensejo para se exporem ao seu eleitorado potencial, numa pouco subliminar pré-prova para as presidenciais.
No caso de Marcelo, a sua dualidade de comentador/político, depois da moção de Pedro Passos Coelho o ter excluído da preferência da direção do partido, obriga-o a um exercício, muito inteligente, através do qual, com humor e fidelidade oficiosa q.b., procura tocar a simpatia que sabe que por ele tem uma grande parte da massa "laranjinha" (como ele gosta de dizer) - o que, contudo, pode ser algo diferente de o querer como presidente da República. Veremos se a "performance" foi suficiente para poder gerar o início de uma "vaga de fundo" que o faça "regressar à terra", já que nestas coisas da política nada é "irrevogável", como ele bem sabe.
Já Santana Lopes é um caso diferente. Desde há uns anos, agora ajudado pelo papel na Misericórdia de Lisboa, tem procurado construir uma imagem diversa do perfil "playboy" e pouco "statesmanlike" que os portugueses antes dele haviam fixado, modelo que o seu efémero e patético governo havia ajudado a instalar, de forma indelével, na memória coletiva. O modo pausado como fala, as constantes referências religiosas que pontuam o seu discurso, o registo "humano" e de atenção para com os desprotegidos da sorte que marca uma em cada duas das suas atuais palavras, desenham um retrato que tem pouco a ver com aquilo que sobre ele ainda predomina no imaginário coletivo.
Portugal é um país de memória muito curta. Se para aí estiverem virados, os portugueses podem facilmente vir a esquecer a "vichyssoise" de Marcelo e as "trapalhadas" de Santana. Uma coisa é certa: ambos não deixarão, no momento oportuno, de lembrar ao PSD a "fuga" de Durão Barroso para Bruxelas, se e quando o declinante presidente da Comissão Europeia, esgotadas que sejam as ambições por outras alternativas, entender que não tem outra escolha senão tentar regressar a Portugal via Belém.
A procissão presidencial ainda vai no adro. Mas os vários andores começam a engalanar-se. O pessoal das confrarias começa a vestir as opas, os anjinhos do costume já agitam as asas e os fiéis estão a alinhar-se nas respetivas bermas. Só falta a música, mas ela não tardará.
17 comentários:
Marcelo tem desenvoltura suficiente para falar de igual para igual com os seus pares internacionais, aisance que Cavaco não tem. Guterres tem consistência suficiente para outro salto. Belém pode ser um lugar-trampolim para um lugar internacional, mas não quando se regressa do Berlaymont. Santana Lopes, com quem simpatizo e que é uma pessoa educada poderá ter ambições, mas os seus graus de liberdade são limitados quando exerce uma prebenda apenas por magnanimidade do poder actual. Falta saber o que Costa pensa de Belém.
Como diz o povo, e muito bem, venha o Diabo e escolha.
Alem das confrarias, também os anjinhos das Lojas.
Alexandre
É preciso dizer que o Dr Santana Lopes é, e continua a ser, a "inveja de estimação" da "society" lisboeta, que é quem nos governou 40 anos (ou mais)!
antonio pa
Dr. Seixas da Costa, politiquismo, convenhamos, não é bonito. Os piores exemplos estão no PS e PSD, no entanto prefiro ser governado por estes.São mais previsíveis.
Cumprimentos
A meu ver, nenhum dos partidos existentes, está imune aos "seus próprios Marcelos e às suas próprias trapalhadas". Apenas diferem o nomes e as situações.
Vamos ver quem são os candidatos do PS, porque pode acontecer serem mais do que um.
E, na direita, ainda faltam alguns nomes, como por exemplo Rui Rio...
Quanto a Barroso, a nossa memória será curta, mas não tanto!
Nunca tinha visto tantos ex juntos.
Gostei muito de ver, durante o tempo de antena das informações, o Rebelo de Sousa e o Santana Lopes e o Marques Mendes e o Luís Filipe Menezes. O Luís Filipe Menezes também.
Quem não foi ao Congresso foi o Sr. Presidente da República, Anibal Cavaco Silva, que também foi um ex do PSD, nem o Sr. Barroso, outro ex. Ainda pensei que iriamos ter a surpresa de os ver por ali, a mostrarem-se com ex-responsáveis, mas afinal parece que não apareceram. Mesmo assim, francamente, nunca tinha visto tantos ex-responsáveis juntos...
E do que mais gostei, de tudo aquilo que vi, foi da intervenção do Sr. Rebelo de Sousa, que fez rir toda a galeria... gostei à brava! Eu não sabia, mas pelo que vi, fico a saber que estamos em tempo de risos. Ainda bem. Podemos rir.
José Barros
Podem pôr o Villaret a recitar a "Procissão"...com os badalos, os badalados e os balões.
Post muito suculento, alem de bem certeiro.
Esta acutilancia agrada.
Senhor Embaixador: por mim fico apenas assustado com a eventualidade de qualquer deles vir a ocupar o Palacio de Belem.
Depois de quem actualmente lá se encontra era só mesmo o que nos faltava.
Pois...Um postcom o qual concordo que dá que pensar...
Fez-me lembrar alguns provérbios, ditados e ou pensamentos...
Alguns como antídoto do desânimo...
"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética...
O que me preocupa é o silêncio dos bons." Martin Luther King
"Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados
diferentes."
"Mudar com as mesmas pessoas"?...
"A árvore quando está a ser cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira."
"Não declare que as estrelas estão mortas
só porque o céu está nublado."
"Não se assinala o caminho apontando o dedo,
mas sim caminhando à frente."
"Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar." Francis Bacon
"Antes de nos empenharmos muito por uma coisa, examinemos se aqueles que a possuem estão felizes" François De La Rochefoucauld
"É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe" Epíteto
"O que não me mata imediatamente me fortalece." Friedrich Nietzsche
"Somos seres condenados a escolher." Sartre
"As convicções são prisões." Nietzche
Eu estou como o Valentim Loureiro num comício qualquer em meados dos anos noventa: Guterres! Guterres! Guterres! e assim sucessivamente.
Interessante análise caro Embaixador. No entanto, importa referir que no plano das presidenciais, Marcelo foi o pateta no circo e Santana Lopes o constaste num congresso vazio.
Pode tentar colocar a manta que quiser de Provedor, o certo é que um Congresso serve para debater, reflectir e apresentar ideais.
E Santana Lopes foi o único! E de forma brilhante, ao contrário do número de Marcelo.
mrs subiu pontos na minha consideração e simpatia, em vez dos habituais elogios panegiricos ao grande chefe do partido, disse que era preciso (ao chefe) falar mais das pessoas, não tanto dos numeros e estatisticas, apesar da boa cor da transmissão percebiam se os sorrisos amarelos da mesa da presidencia enquanto o ouvia, ainda por cima pensavam aliviados que ele já não iria ao congresso...
E quais são os prognósticos de Vexa quanto ao PS? Costa, Guterres, Sócrates, Gama, Alegre, Soares? Outro?
"Trapalhão" e "Playboy" foram e são alcunhas injustas e invejosas para o melhor político português da actualidade - PSL.
O Professor Marcelo conseguiria votos de todos os quadrantes políticos e de organizações sociais, sem falar da Igreja Católica. Se se o Professor se candidata voto nele, mais não seja pelo facto de nunca terem deixado que Ele desempenhasse lugares determinantes na governação do País: voto nele... Nunca antes dei votos a pessoas do partido do Professor. Uma vez seria a primeira.
Enviar um comentário