A ausência da presidente Dilma Roussef da cimeira/cúpula/cumbre ibero-americana deve ser avaliada com alguma atenção. E, estranhamente, não vi ninguém atentar nisso por cá.
O Brasil é um país que nunca viveu muito bem a "cultura" ibero-americana. Porquê? Porque sempre achou, sem o dizer, que este exercício está desequilibrado em favor do polo hispânico, porque a dimensão lusófona no seio desta estrutura não tem a dimensão que o Brasil considera à altura da importância que a si próprio se atribui. E tem toda a razão nisto.
Neste exercício ibero-americano, diga-se o que se disser, o polo hispânico prevalece, a Espanha surge como um país tutelar. Com exceção do México, a Espanha é maior do que todas as suas antigas colónias americanas. E isso tem importância na "autoridade" com que Madrid se afirma, a qual é reforçada pela constante presença do seu rei, que não "roda" como os restantes mandatários. Noto que esta terá sido, salvo erro, a primeira cimeira do género a que Juan Carlos faltou, neste caso por razões de saúde.
(Conta-se uma história divertida, ocorrida numa anterior cimeira, ainda antes do famoso "por qué no te callas!". O rei espanhol terá, no decurso de um debate, deixado uma nota crítica sobre o grau de democraticidade de uma eleição em que Hugo Chavez foi eleito. Este não "se ficou" e replicou: "Juanito, quando te presentares a una elección me llama, por que yo voy a votar por ti").
Voltemos ao Brasil. O conceito de "América Latina", para quem o não saiba, é um tabu na linguagem diplomática brasileira. Não se encontrará nunca um único diplomata brasileiro a utilizá-lo. O Brasil usa o conceito de América do Sul e as iniciativas em que mais abertamente se empenha (Unasul, Mercosul) não incluem geralmente a América Central, o Caribe e, naturalmente, o México (que é um país da América do Norte). Não quero aqui elaborar sobre as razões por que isso acontece, muito embora elas sejam óbvias. Quero apenas deixar claro que tem de se ter isto em conta para melhor perceber esta "incomodidade" do Brasil no exercício ibero-americano. E a razão por que lhe não atribui uma grande importância.
Dito isto, não será possível fazer nada para suscitar mais a atenção do Brasil para este quadro bilateral de entendimento, ao qual Portugal atribui (e bem!) um real valor? Claro que sim. O único modo de o conseguir é tentarmos gizar com o Brasil uma coordenação de posições, a montante destas cimeiras, transportando para o seu seio algumas vertentes que ambos partilhamos e em que temos uma experiência própria incontestável, para o bem e para o mal. A palavra África não diz nada?
9 comentários:
Tem toda a razão na sua análise!
Eu acho que só faz sentido Portugal participar neste exercício se o Brasil também o fizer e em consonância com ele. De outra forma, mais vale reforçarmos e aprofundarmos as excelentes relações bilaterais que temos com todos os países da região, apesar do caso Hugo Morales, e deixarmos a Espanha a braços com as complicadas questões com as suas as ex-colónias, aproveitando-nos disso. Não é o que a Espanha faz em Angola e Moçambique?
nunca 1 cimeira ia tinha sido rão ignorada pela tv portuguesa como esta, no mexico. infelizmente, é isto das cimeiras ias um exercicio pouco ou nada util, uma conversa de salão entre os participantes que acaba ali, maximo haverá algum trabalho de coordenação previo para afinar os temas e conseguir um comunicado final a gosto de todos.
depois há paises que já quase não enviam o seu chefe de estado, caso este ano do brasil, e outros.
o brasil não envia o pr, pois isso mostra tudo o que foi dito acima na entrada e tambem que não está para perder tempos sem conteudos e seguimentos, alem de que há agitaçãozinha dentro e ainda iriam dizer que o pr vai gastar dinheiro num passeio ao mexico, etc.
no entanto a ideia inicial destas cimeiras contem algo de positivo, é simpatica: um dialogo entre varios paises unidos por linguas e historias.
mas hoje não passa dum ritual anual cada vez mais vazio e pouco util que nem os encontros bilaterais à margem justificam. que fazer? deixar a cimeira definhar e ir morrendo ou revitalizá la não se sabe como?
O fato de o Brasil "estar fora da América latina" é devido a língua, só nós falamos o português, e os hispânicos não nos entendem, falamos o portunhol mesmo assim eles não nos entendem. A língua sempre foi um fator agregador.
Caro Anónimo das 11.06: mas o Brasil está, a 100%, "dentro" da América do Sul, onde todos os restantes falam o mesmo espanhol
A não presença do Brasil, assim como de outras representações nesta cimeira, tem a meu ver, uma dimensão que ultrapassa a singularidade da falta em si mesmo. Temos vindo a notar, cada vez mais, uma crescente utilização das denominadas reuniões bilaterais para "fecho" de acordos económicos e outros assuntos, cujo impacto nem sempre se restringe ao espaço de dois países apenas.
Há portanto um esvaziamento do conceito de raiz que justificava a organização destas cimeiras, levando ao desaproveitamento deste forte "bloco" económico e social de influência mundial.
Mais importante do que tentar justificar as faltas de A ou B, seria perceber as razões de fundo, e em conjunto e de forma integrada e estruturada encontrar novos pontos e interesses comuns.
Prezado Embaixador, coloquei entre aspas "estar fora da América latina" como um sentido figurado, queria dizer fora do contexto hispânico da América latina.
Sou brasileiro e latino americano,claro?
Só que falo português, essa falta de integração é devido a língua e outras diferenças como o embaixador bem sinalizou no seu texto.
A propósito do Brasil,
Ler:
"Com entrega de reserva estratégica de Libra, Dilma deve arrumar mais dívidas para o Brasil e a Petrobras
Edição do Alerta Total –
www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net"
Alexandre
Com a devida vénia, um pouco do que o El País disse:
XXIII CUMBRE IBEROAMERICANA
»La Conferencia Iberoamericana se reforma ante el riesgo de extinción
La mitad de los mandatarios invitados no acuden a la cumbre de Panamá
Miguel González (Enviado Especial)
Tal vez la comunidad iberoamericana no parezca útil a muchos de sus miembros, pero será más fácil que sobreviva si no resulta demasiado molesta ni cara. Esa es la filosofía que impregna los debates de la XXIII Cumbre Iberoamericana, que se inauguró ayer en Panamá con una exigua presencia de líderes. A las anunciadas ausencias del rey Juan Carlos (España), Cristina Fernández (Argentina), José Mujica (Uruguay), Sebastián Piñera (Chile), Dilma Rousseff (Brasil), Rafael Correa (Ecuador), Raúl Castro (Cuba) y Nicolás Maduro (Venezuela), se sumaron las de Evo Morales (Bolivia), Otto Pérez Molina (Guatemala), Ollanta Humala (Perú) y Daniel Ortega (Nicaragua). Estos cuatro últimos, que habían confirmado su asistencia, se limitaron a alegar vagos compromisos internos.
La cifra de bajas iguala a la del fiasco de la cumbre de Asunción (2011), cuando la mitad de los mandatarios también plantaron a su anfitrión, y refleja el escaso interés que estas cumbres suscitan en América Latina. El ya saliente secretario general iberoamericano, Enrique Iglesias, lo justificó recordando que cuando este foro se puso en marcha, en 1991, era el único de este tipo, mientras que ahora debe competir con otros muchos, como Unasur. Para evitar que las cumbres se extingan por incomparecencia de sus protagonistas, se ha decidido pasar su periodicidad de anual a bienal. Tras la cita de 2014 en Veracruz (México), la siguiente tendrá lugar en 2016.
También se pretende aligerar el peso de una estructura que, aunque liviana, ni España (que financia la parte del león) está en condiciones de mantener, ni los países latinoamericanos quieren asumir. Se da por seguro que el sucesor o sucesora de Iglesias al frente de la Secretaría Iberoamericana (Segib) —la costarricense Rebeca Grynspan es la favorita— abordará un ajuste de la plantilla y del presupuesto de la Segib, unas 60 personas y siete millones anuales; y recibirá el encargo de buscar sinergias (es decir, compartir gastos) con la pléyade de organizaciones iberoamericanas, que abarcan campos como la educación, la ciencia o la cultura.
Si hay alguien a quien las cumbres no dejan indiferente es al Rey, al que solo su convalecencia ha impedido asistir a una cumbre iberoamericana por primera vez en 23 años. Aun así, no quiso estar ausente del todo y, en un mensaje grabado que se emitió durante la inauguración, bromeó con su reciente operación de cadera (“he tenido que pasar por el taller”), tuvo palabras de cariño y reconocimiento para el saliente Enrique Iglesias y expresó su confianza en poder estar el año próximo en Veracruz. Pero, consciente de la crisis que atraviesa la comunidad iberoamericana, don Juan Carlos propuso “adaptar mejor nuestras reuniones a la realidad internacional actual” y “adecuar la Segib para que cumpla con más eficacia sus cometidos”.
Ass: o anónimo do outro dia das 2.14
Enviar um comentário