sábado, outubro 26, 2013

A direita

Gostei muito de ler o Jaime Nogueira Pinto, naquele heterodoxia de linguagem que lhe vem dos tempos do nacionalismo revolucionário, dizer hoje no "Expresso" que, no património imagético herdado do Estado Novo, "a direita acabou por se tornar um cliché do Vilhena, os banqueiros de charuto com uma corista em cada braço ou no joelho, o latifundiário alentejano de "O Delfim", o inspetor da PIDE com uma gabardine e um chapéu, o Salazar nas caricaturas do Manta..." Para concluir: "Aquele Portugal existia, mas não era assim tão mau".

Olha que era, Jaime, olha que era!

24 comentários:

Defreitas disse...

Je crois avoir été l’un des hommes les plus détesté de son époque, ce fût longtemps mon chagrin, c’est aujourd’hui mon orgueil.
Antonio de Oliveira Salazar

margarida disse...

Olhe que não era, Embaixador, olhe que não era.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: que idade tinha quando foi o 25 de abril? Não quero resposta, mas apenas respeito por todos quantos sofreram esse período e pelo Portugal que permite, com generosidade, a acidez bílica das crónicas hebdomadárias que tanto a encantam. À bon entendeur...

Anónimo disse...

A Margarida estava a brincar. E o Sr. Embaixador estava a falar a sério.
José Barros

margarida disse...

Tenho imenso respeito pelos que sofreram essas décadas duras, admiração pelos que combateram por ideais distintos, e uma panóplia de sentimentos por um povo que ainda hoje padece a consequência genérica de um obscurantismo miserabilista.
Mas, para abreviar uma questão naturalmente complexa, aquele Portugal de caricatura era restrito e não tão malévolo quanto outros exemplos por esse triste mundo fora. Foi apenas isso que quis dizer.
O país que hoje permite a acidez que me diverte é o mesmíssimo que atura a pesporrência do seu caro filósofo. Xeque-mate. :)

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: claro que é o mesmo país! Mas se tivessemos ficado no "país da acidez", só os´"ácidos" é que jogavam à bola (lê-se-lhes nas entrelinhas). Agora jogam todos, uns têm direito a serem profissionais de bitaites catitas, feitos de descrença a todos os azimutes, numa sociologia de pacotilha, outros foram a jogo e, um dia, perderam. Assim, uns escrevem graçolas (como eu também faço), outros escrevem coisas sérias (estou certo que leu o livro, para poder afinar a ideia). Ou faz como os detratores de Paulo Coelho?: "Não li e não gostei". Ah! e estive lá, claro!

patricio branco disse...

grande vilhena, um dos ultimos verdadeiros artesãos da caricatura social e politica, um eremita que fazia tudo sozinho, desde os desenhos e os textos até enviar as publicações por correio aos assinantes; grande abel manta, com as caricaturas de politicos com nariz aquilino ou bochechas redondinhas a surgirem detrás de janelas ou de colunas; grande romancista o cardoso pires, o anjo ancorado ou o hospede de job que garcia marquez não desdenharia escrever, o delfim, claro, a balada, etc

margarida disse...

:) 'You're a hard player', mas assim é que é!
Não li, nem penso chegar perto (assim são as aversões). Li por aí " (...) O supracitado "livro", absolutamente desnecessário, é de facto uma prova escolar (uma "tese" de mestrado), sem uma ideia original ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de - vá lá, sejamos generosos - 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas fantasias francesas (Sciences Po oblige).(...)", do maldisposto do VPV, que é verrinoso q.b. e também me diverte muito. Chega-me como 'crítica', porque livros tenho muitos por ler. Dos verdadeiros.
Os humoristas mais à esquerda, se escreverem bem, também são muito cá de casa. Não sou sectária. Sou exigente. E, acima de tudo, uma pessoa de paixões. Defeitos...

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: Pronto, é isso, é o "não li e não gostei", opinião demolhada em "outsourcing" intelectual. Aí! Valente!

(Eu não: li. E vou ler o DN amanhã, como lerei a Sábado da próxima semana. Feitios...)

josé amador disse...

Caro amigo: nós apanhámos o crepúsculo do Estado Novo, apesar das imensas tertúlias no Monte Carlo, no velho Saldanha, na eterna brasileira e por aí fora. Era o tempo do jornal cor de rosa que era devorado por toda a esquerda estudantil e não só excepto pelos Pêcês que tinham o Notícias da Amador e o Jornal do Fundão. E não esquecer o boom económico no tempo do M. Caetano com os rpazes da Sedes como O Salgueiro, Rogério Martins e por aí fora.

Anónimo disse...

Acabei de escrever um comentário sobre o crepúsculo do regime da altura onde pontuava uma imprensa de esquerda como o comércio do funchal etc, fora as tertúlias dos cafés monte carlo, Saldanha, império, brasileira onde se desancava forte e feio no governo da altura. Ainda referia o bom económico no tempo do M. Caetano com os rapazes da Sedes como o Salgueiro,o Rogério Martins etc mas o comentário foi-se. Fica este.
José Maria Amador
Nota: não sou anónimo! Essa coisa dos nomes a azul fica bem.

margarida disse...

LOL!
É por isso que o aprecio tanto!
:)

Anónimo disse...

Veremos quantas pessoas de esquerda existirão quando este regime actual cair. Em Portugal os regimes caídos não teem adeptos e isto desde a "viradeira". É a burguesia oportunista no seu esplendor

Anónimo disse...

Não era. Concordo com Jaime Nogueira Pinto, os "normais" estavam-se nas tintas para a "pequena-burguesia-intelectulóide-jacobina".
Outras familias da pequena burguesia, não sendo Salazaristas também não "iam á bola com esses republicanos-jacobinos", eram mais maia abertos á cultura ocidental anglo saxónica !

Vivi esses tempos, faço setenta anos em breve e lembro-me muito bem do só "quem não é por nós é contra nós" utilizado tanto pela direita de Salazar e pela esquerda, mas dita de outras maneiras:

- "unidade"
"fascismo nunca mais"


Alexandre






om a palavra

Defreitas disse...

Não Margarida ! Portugal não é o "mesmíssimo pais" . Portugal nunca foi tão rico. A prova : as somas colossais oferecidas aos bancos para os salvar da falência, devido à incompetência dos seus dirigentes. Os salários e as regalias dos ministros e deputados . E os salários, emolumentos, indemnizações, prémios, stock options, presentes e outras vantagens de função oferecidas aos quadros superiores e dirigentes de empresas. E os salários de certas "vedetas" da televisão, encarregados de nos informar-formatar, e os salários dos jogadores de futebol e outros desportistas, cujo talento não tem nada a ver com as somas que metem no bolso.

Portugal nunca teve tantos filhos instruídos e formados graças a um regime de liberdade .

Portugal nunca teve tantos acidentes rodoviários causando tantas vitimas num longo week-end estival.

A riqueza e portanto o poder existe, mas não data de hoje nem de ontem. Mas o que também é verdade é que esta riqueza continua a ser mal repartida. O fundamento essencialmente egoísta e egocêntrico da natureza humana permanece.

Assim, para lá dos exemplos escolhidos, devemos interrogar-nos sobre a fatalidade que engendra esta diferença cada vez maior entre os pólos da riqueza e da pobreza, a partir do momento em que a máquina do progresso técnico se intensificou. Sim, qual é esta fatalidade que se ri do progresso real das técnicas e dos resultados propriamente fantásticos obtidos?

Portanto, esta miséria e pobreza quotidiana, que constatamos hoje, com o cortejo de ilusões dum mundo melhor para todos, são o único parâmetro que lhe daria razão quando diz que o pais é o mesmíssimo que ontem. Porque Portugal paga hoje aqueles anos tenebrosos onde não era só a economia e as liberdades que não progrediam, mas, pior ainda, a preparação do povo aos novos tempos não era assegurada. Anos de violência moral e desespero, num Portugal atrasado que mais parecia aquilo que Bernanos descreveu sob o nome de " Grands cimetières sous la lune".

E eu tenho receio que as mesmas forças que presidiram aos destinos de Portugal durante aquela longa noite de meio século, sejam as mesmas que hoje alienam os Portugueses, em troca duma liberdade arrancada, certo , em 1974, que essas forças consideram como saldo definitivo da revolução. E basta ! Como se houvesse liberdade na indigência.

Porque para o resto, Socialistas ou sociais liberais, os políticos geram "les affaires" como os de ontem. Em nome da livre empresa, do capital privado, único capaz de gerir "harmoniosamente" a economia, só a "mão invisível da lei da oferta e da procura" ( nova versão do "deus ex machina) pode resolver todas as contradições económicas e portanto sociais, e todos se precipitam agora com a gamela na mão pedinchar ao estrangeiro.

No tribunal da Historia, aqueles que durante meio século nada fizeram para que fôssemos adultos, serão tão culpados como aqueles que hoje nos tratam como carneiros.

Resta portanto o enigma... o mais simples, mas o mais secreto, o mais misterioso, porque, apesar dos raríssimos momentos de protesto, é a extraordinária longanimidade dos Portugueses... Mais um paradoxo do homem, e a prova que a inteligência superior que lhe foi concedida se acomoda bastante bem da servidão voluntária... Hoje, como ontem.

EGR disse...

Senhor Embaixador: Jaime Nogueira Pinto é certamente um homem inteligente e culto; mas é seguramente um dos empenhados no branqueamento do regime de Salazar e Caetano, o que habitualmente faz assumindo um ar de descontração um tanto quanto presumido.
Quanto aos comentários de Margarida só podem ser resultado da ignorância sobre o Portugal desse tempo.
Ah e afirmação acerca do filosofo denuncia o incomodo que por aí vai e, pelos vistos, também a atinge.

EGR disse...

Senhor Embaixador: esqueci-me há pouco de me referir ao comentário do anónimo das 19 e 13.
Indiscutivelmente brilhante !
Como é que ainda ninguém se tenha lembrado disso?

Isabel Seixas disse...

"Portugal nunca teve tantos filhos instruídos e formados graças a um regime de liberdade."Defreitas
Como concordo.

Comungo da sua opinião face ao post sr. Embaixador

Anónimo disse...

O Tony Carreira dá um concerto musical para 15000 fans. Os manifestantes contra a Troika não passam de 3000 em todo o País. Logo a manifestação foi manifestamente mal programada em cima do concerto…
Eu peço muito dinheiro emprestado, e emprestam, logo eu fico rico…
Os Portugueses estão cada vez mais iliteratos (José Morais). Logo (concluem outros) é resultado daqueles anos tenebrosos…
Notas à parte: O pessoal que chega de Paris vêm cá com uns instintos torturantes!... vou ter muito cuidado com quem chega de lá…
antonio pa

margarida disse...

Defreitas, não percebeu o meu 'mesmíssimo país'.
Não era comparação passado - presente, mas presente-presente.
Procuro escrever pouco, para se entender o essencial, mas mesmo assim falho, helás.
Este é um tema delicado, e os sentires inamovíveis.
Fiquemos assim.

Anónimo disse...

Declaro que li atentamente a entrevista a Jaime Nogueira Pinto. Não vou ler a tese de mestrado do Engenheiro Sócrates.Recomendo como leituras o "Dinossauro Excelentíssimo" do José Cardoso Pires, ilustrado pelo João Abel Manta. Cá por mim, ando a deliciar-me com "A liberdade de pátio" do Mário de Carvalho e com o "Quinto Livro de Crónicas" de António Lobo Antunes.Quanto ao considerando do José Maria Amador sobre o "Jornal do Fundão", as coisas não eram bem assim, digo eu, leitor antigo e actual, além disso beirão: Zé Maria: boas vistas sobre o Funchal e um abraço!

Anónimo disse...

…E assim sonetilhou a 'velha senhora' dirigindo-se à cara Margarida:

ai margarida tão querida
pra quem não leu nem chega perto
tem convicção mui convencida
plo verrinoso sem conserto

que se calhar também não leu
por mim li tudo e até gostei
do livro ateu do seu sandeu
ah digo já que pouco sei

médica sou critico sem
rigor demais quanto me enleia
que paixões tenho eu cá também

tal como a amiga paixões tem
dizer sem ler é que a desfeia
que ter paixões fica-lhe bem

amém

João Pedro disse...

Jaime Nogueira Pinto precisa de reler o seu Cardoso Pires: o latifundiário de "O Delfim" era da Extremadura, da zona de Óbidos (como de resto a descrição da geografia da zona indica), não do Alentejo.

Anónimo disse...

Pelos vistos, a "direita" não só está ausente da transmissão das suas ideias, como também não sabe interpretar o que lê.

Guilherme.

Agostinho Jardim Gonçalves

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