quarta-feira, outubro 30, 2013

Portugal - Polónia

Nos idos de 1975, a voga das "associações de amizade" estabeleceu-se em Portugal, em especial incentivadas por gente ligada ao PCP, no tocante aos países "satélites" de Moscovo, enquanto Pequim era a tutela afetiva para as congéneres dos émulos maoístas. Embora andasse politicamente algo longe dessas águas, através de Carlos Eurico da Costa deixei-me arrastar, com algum entusiasmo, para a criação da Associação de Amizade Portugal-Polonia. As reuniões tinham lugar num prédio do Campo de Santana e Alexandre Babo, advogado e escritor, funcionava como eixo - manifestamente, político - dessa operação. Não éramos "inocentes úteis", sabíamos ao que íamos e, na prática, acabávamos por ser uma espécie de "compagnons de route" de uma estratégia bem montada. Mas esse era "l'air du temps"...

A motivação essencial a que nos propúnhamos era levar a cabo um conjunto de iniciativas na área cultural e, na realidade, o grupo de figuras que a Associação foi capaz de juntar (e escrevo de memória) era muito interessante: José Cardoso Pires, Jorge Peixinho, João Abel Manta, Carlos Eurico da Costa, Jacinto do Prado Coelho, Maria Lúcia Lepecki, Luiz Francisco Rebello, etc. A embaixada polaca em Lisboa era titulada, à época, por um homem muito interessante, uma figura da cultura, com um toque de alguma heterodoxia. Lembro-me de termos "grandes planos", gizados com ele, nomeadamente nas áreas musical, teatral, literária, etc.

João Abel Manta produziu para a Associação um cartaz magnífico, com um camponês polaco numa atitude de companheirismo com o Zé Povinho português, num modelo idêntico àquele que fez para a "aliança Povo - MFA". A ideia era comercializá-lo para recolha de fundos, mas duvido que tenhamos tido qualquer sucesso na operação. Na realidade, a única iniciativa "concreta" da Associação de que me recordo foi um concerto de um pianista polaco no S. Luís, de música concreta... Toda a iniciativa desapareceu, no calor desses anos em que havia muito mais que fazer!

Hoje, aqui por Varsóvia, lembrei-me que as minhas ligações à Polónia são já antigas. Neste caso uma "outra" Polónia.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nos tempos do "po(l)vo-MFA", estava em voga uma "canção" duma tal Aldina Duarte(?) "uma gaivota voava, voava...", que rápidamente, culturalmente absorvida, se transformou em:

"uma gaivota voava., voava e a "f**" nunca mais se calava!"....alterações culturais !

Alexandre

patricio branco disse...

havia nesses anos 70 tambem uma mais exótica associação de amizade portugal albania, um amigo e colega fazia parte e esperava um dia ir em viagem de visita organizada a esse país, então governado pelo hoxsa, creio que nunca foi.

Anónimo disse...

hoje em dia estao mais na moda amizades portugal-qatar portugal-dubai...

outros tempos

Anónimo disse...

Recordações em "pot-pourri" de uma ida à Polónia. Em Agosto de 1975, em pleno Verão quente portanto, passei três semanas em Varsóvia. Tinha 16 anos e os meus pais, pessoas sensatas, acharam melhor mandar-me para a Polónia do que para o Brasil, para o caso de as coisas "darem para o torto", ou seja que o PCP levasse avante, si l'on peut dire, com sucesso a sua ofensiva de então. Valha a verdade que fiquei instalado na Embaixada de Portugal, então chefiada pelo pai de um amigo. A Embaixada estava ela própria instalada no então hotel Forum de cujo bar recordo com saudade três maravilhosas empregadas. Na Varsóvia de então era possível comprar toda a Pleiade pelo preço de um volume em França. A comida do hotel era boa - lembro- me de uma espécie de refogado chamada bigos. A então secretária do embaixador era a lindíssima Barbara e o chauffeur um aristocrata chamado Adam. Ambos falavam um francês primoroso. A cidade antiga tinha acabado de ser reconstruída e fomos num dia mágico à casa de Chopin. Havia também, como em todos os países eo Mundo, um português que tudo sabia e que me levou à feira da ladra local onde comprei um Longines de antes da guerra por 13 dólares. Fomos á ópera ver uma excelente Tosca e a vida era pacata. Em Portugal só se falava do discurso de Vasco Gonçalves em Almada- que não ouvi. Nunca mais lá voltei, com grande pena minha. JPGarcia

Anónimo disse...

Caro anónimo das 13h56m. Não confunda Aldina Duarte, que por aí anda a fadistar muito bem, com Ermelinda Duarte, a aurora de "Uma gaivota...", com arranjos do José Cid. O seu a seu dono. Como há dias alguém aqui citou, não se deve confundir o género humano com o Manuel Germano,ou a Aldina (Duarte) com a Ermelinda (Duarte).

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...