Os comentadores, na sua natural liberdade, podem, e até devem, falar da possibilidade de Portugal, caso venha a constatar-se que não consegue regressar ao mercado financeiro sem garantias externas, poder ter de vir negociar um novo programa de ajuda, no pior cenário em moldes idênticos ao atual, na melhor das hipóteses através de um "programa cautelar", apoiado apenas nas instituições europeias.
Aos mesmos comentadores assiste também o direito de refletirem em voz alta sobre se Portugal e os seus credores não deverão, em momento oportuno, encarar a possibilidade de recorrer a uma "reestruturação da dívida" (alguns, dados ao "economez" que agora é gíria, dão-se ao luxo de falar de "haircut"), elegante forma de se assumir que parte dela será necessariamente "perdoada" e não paga, atenta a implausibilidade manifesta de o país vir a registar taxas de crescimento capazes de corrigirem os atuais desvios.
De igual modo, nas tribunas de imprensa ou nas conversas de café, a questão do nível do défice das nossas contas públicas para 2014 pode ser objeto de comentários, às vezes informados, outras vezes meras "fezadas". Ou, retomando Augusto Gil: "Será 4%? Será 4,5%? 5% não é certamente, porque a "troika" não deixa assim..."
De igual modo, nas tribunas de imprensa ou nas conversas de café, a questão do nível do défice das nossas contas públicas para 2014 pode ser objeto de comentários, às vezes informados, outras vezes meras "fezadas". Ou, retomando Augusto Gil: "Será 4%? Será 4,5%? 5% não é certamente, porque a "troika" não deixa assim..."
Os comentadores têm todo o direito de especular sobre tudo isto. Mas os políticos não. Só que, em Portugal, já não se percebe bem onde começam uns e acabam os outros.
Numa situação internacional na qual a imagem de Portugal sofre hoje de uma clara fragilidade, em que os detentores - atuais ou potenciais - da nossa dívida olham "à lupa" qualquer dissonância por parte do nossos decisores políticos - também eles, atuais ou potenciais -, o óbvio recomendável seria que todos eles se calassem, sobre os temas que acima referi. Mas já se percebeu que isso não é possível e que a politiqueirice os impele a fazerem, de quando em vez, considerações "ligeiras" sobre estas questões, que sendo de uma extrema sensibilidade, nos custam a todos, e todos os dias, imenso dinheiro. Que não são eles que pagam, claro.
6 comentários:
Não posso estar mais de acordo.
Nem sei mesmo se, face às consequências das opiniões dos mais qualificados comentadores, que aliás se vão desclassificando pela irresponsabilidade , se não são todos, genéricamente, criminosos, no sentido de nos irem ao nosso desfalcadíssimo bolso, com a maior desfaçatez.
João Vieira
O silêncio no contexto não é uma boa terapia, abre demasiadas portas à realidade nua e crua...
Desviar as atenções com subterfúgios, ainda que já nem se dissociem alhos e bugalhos, é um relaxante tão irritante que até o silêncio é um espumar de raiva...
Talvez a melhor forma de fazer catarse seja o fora o árbitro ou o comentador...
Depois de ouvir hoje o Dr António José Seguro dizer que tem um caminho alternativo ao da Troika, perdi as esperanças todas de não termos um 2º resgate. Será que ele sabe que nós sabemos que ele sabe que está a mentir?
Saber calar é uma grande virtude. Porém, virtudes escasseiam demais na nossa classe política.
JR
Eu bem sei que não sou politizado mas:
Pelo texto em apreço pode-se entender que se devia ter novamente um "exame prévio" para os orgãos de comunicação social?
Isto "tá bem tá"!!!!
Caro Anónimo das 19.11: leu mal. Ninguém quer calar ninguém. O que se pede é que cada um pese as palavras antes de falar.
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