Volta e meia, responsáveis políticos são chamados ao parlamento para serem confrontados com decisões que tomaram durante os tempos em que exerceram funções governativas. Nada de mais natural, numa República democrática em que a responsabilidade pessoal se não esgota no momento em que se abandonam os cargos.
O que mais me surpreende é o facto desses antigos responsáveis políticos aparecerem a responder nessas instâncias parlamentares escudados em documentação do tempo em que exerciam tais funções executivas. A menos que essa papelada lhes haja sido fornecida pelos seus imediatos sucessores - hipótese improvável, no ambiente de "guerrilha" em que se transformou a vida política nacional -, só posso presumir que, ao abandonarem os cargos, essas figuras políticas levaram consigo cópia de tal documentação, que hoje lhes serve de escudo contra eventuais acusações, muitas das vezes injustas, como se comprova pelo facto de raramente alguém ser "condenado" nesse contexto.
A posse de duplicados de tais documentos oficiais é, assim, um ato de mera prudência e até de bom-senso. Só que há um pequeno, embora talvez não despiciendo, problema: é que isso é ilegal. Ninguém pode guardar documentos oficiais quando deixa de exercer funções políticas. Ponto final.
Tive consciência disso ontem à noite, neste tempo em que me divirto a arrumar em casa a minha papelada, na curiosa revisão retrospetiva de vida que a aposentação propicia. No que pessoalmente me toca, não fiquei com um único dos despachos e, em especial, de qualquer das decisões de concordância relativas a verbas, cuja movimentação autorizei ao longo do mais de cinco anos de funções governamentais que exerci. Se acaso fosse hoje chamado a uma comissão parlamentar, entraria na sala apenas com a minha memória. A qual, não sendo má de todo para aquilo que me interessa, tem hoje saudáveis brancas para as burocratices da vida. Com os riscos inerentes, claro.
Comentava isto hoje a um amigo, ao almoço. A reação foi: "Dá-lhes ideias, dá!..."
13 comentários:
Não o apanharam, portanto, com a mão na fotocopiadora...
Sempre julguei que assim o fizesse. Não me enganei. Já me dei mal por não ter guardado uma cópia de um documento (que entretanto me recomendaram que não copiasse nem falasse aos colegas no assunto...). Não esquecer que no nosso país a Inquisição acabou bem mais tarde que nos outros países europeus. "Quem vai ao mar avia-se em terra" .
Agora há outras formas de inquisição bem espalhadas pelo mundo.
As pessoas odeiam (não vejo outro termo)as outras pessoas e há que as linchar , de preferência na praça pública pois o linchamento torna-se definitivo .
De resto é ver que , ao mais pequeno incidente ou acidente (que pode acontecer a qualquer um), aparecem de imediato câmaras e microfones que já estão a perguntar de quem é que o transeunte acha que é a culpa mesmo antes de se saber o que é que realmente aconteceu .
E a facilidade com que se põem "no ar" pessoas que não viram nada mas ouviram dizer ...
A minha primeira reacção foi de facto concordar com o seu amigo mas , pensando melhor , não está dar ideias a ninguém .
Rui MG
Meu querido amigo, oxalá a memória nunca lhe falhe. Mas permita-me a ousadia de um conselho, que sigo há muito: ter uma agenda pessoal, bem guardada. que lhe avive a memória. E ficar sempre não com a cópia, mas com o registo da referência e data dos documentos de despesa em que apôs a sua assinatura.
Acredite, é legal e evita as visitas do Alzheimer que ninguém pode garantir que não aconteçam...
Muito bem. E agora outra coisa. E Vexa vai à manifestação amanhã, dia 2?
Fotocopiadora Catinga ???
Mas está a viver em que século ?
Hoje existe digitalização e pen's ;-)
Pensamento de Sábado
Oh, fez o Sr. muito bem, faltava agora andar a fomentar delirios ávidos de futura conspiração,sombras e fantasmas da desconfiança,para além dos sorrisos que isso lhe deva proporcionar, do ponto de vista do bem estar da saúde mental o que está feito era a alternativa possivel e sem dúvida o Sr. é um Homem de boa vontade.
Solicitar os documentos aos sucessores também se afigura complicado porque prevalece a destruição antes de "abandonarem" os gabinetes.
Em Portugal, está instituída a política da "terra queimada" para destruir a maioria das provas a favor ou contra o que quer que seja.
Isabel BP
Será por causa disto que quando se procuram documentos do século XIX nos arquivos históricos deste país quase que nos dizem que desapareceram no terramoto de 1755??? Um país de memória curta.
Já Luis XIV no século XVII permitia que os seus Embaixadores pudessem manter a documentação referente às suas missões. Apenas depois da morte deles essa documentação seria entregue ao Estado francês pelos herdeiros.
Oh Júlia, era uma piada submarina e a minha querida amiga ficou em terra.
Desculpe lá Catinga é que sou loura... ;)
A resposta é facil, muitos membros do Governo quando abandonam as funções destroem a papelada que nã o interessa. Da que interessa até os originais vão, não vá serem necessários quando o seu partido voltar ao poder...Isto funcina para os dois maiores partidos. Falo do que sei.
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