quinta-feira, março 21, 2013

Anos de chumbo

Eduardo Paz Ferreira lançou, há dois dias, na reitoria da Universidade de Lisboa, uma coletânea de textos produzidos entre 2008 e 2013, a que deu o sugestivo título de "Crónicas de anos de chumbo".

Por lá estivemos, a dar-lhe um abraço, bastantes dos seus muitos amigos, num testemunho sincero a um homem que pensa com rigor o país em que vive e que tem uma intervenção académica de grande valia, de paralelo com uma longa dedicação a causas cívicas, desde os seus tempos açoreanos. E que tenho cruzado, com regularidade, ao longo das últimas décadas, num registo de permanente cumplicidade.

Devo dizer que me impressionou o tom geral das intervenções produzidas na ocasião, comummente  marcadas por uma manifestação de sofrimento pelo tempo por que passamos, uma espécie de revolta cada vez menos contida, que não se sabe até onde poderá ir. Até pelas canções com que Cristina Branco fechou a sessão passou essa surda tristeza que a todos nos abala nos dias de hoje. Adequada, aliás, ao que se avisa na contracapa: "Este não é um livro alegre". Não é, de facto, mas também não é um livro macambúzio, é um livro simples na forma mas muito denso no conteúdo, feito em boa escrita, com notas de um humor que os dias que correm também convoca, porque, como diz o autor, "a ironia é uma arma muitas vezes mais poderosa do que a raiva". Mas a raiva também faz falta, às vezes.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ironia, raiva, mas temos é que ir mesmo às armas...

Guilherme.

Anónimo disse...

Não sei traduzir para português a frase "renverser la vapeur". Porque precisavamos de operar aquele gesto apressado que obrigue o barco a mudar de rumo e evitar que a sua velocidade desenfreada o leve direto contra o iceberg.
Poderão estes anos de chumbo servir de antidoto e permitir uma consciencialização e aprendizagem politico-democrática que permita reavivar a sabedoria popular onde é fácil separar o trigo do joio. Oxa lá que sim. Assim, este governo sempre terá tido a sua utilidade...
José Barros

Anónimo disse...

triste país realmente de chumbo..., sócrares,...costa..relvas... rtp....etc ,etc, e mais não digo..eles andam aí !, autêntica republica dos tempos de Duvalier....faltam apenas as bananas...no Continente !

Alexandre

Anónimo disse...

Depois de anos dourados veio-se a perceber que o ouro era apenas "plaqué or". Por baixo do dourado era chumbo. Acontece aos melhores.

Defreitas disse...

Não recordo quem disse um dia, que " a palavra não foi feita para cobrir a verdade, mas para a dizer",
Vivemos um tempo em que os homens não têm o tempo nem os meios de viver , pela culpa de outros homens que passam o tempo deles a procurar enriquecer-se ainda mais.

A revoluçao ... Já chegamos a esse extremo ? mais o tempo passa, mais as palavras "revolta" e" explosão social" se insinuam nas fileiras da classe média portuguesa. E quando esta classe, verdadeiro motor da economia e do progresso duma nação, chega a este ponto, é que as coisas estão realmente muito mal.
Mentiras, ocultações, uma opacidade sem fim. Ninguém sabe onde vai o aparelho do Estado. Anos de erros crassos, depois duma época em que parecia ter-se aberto para o povo uma perspectiva duma nova vida prometendo liberdades, democracia, dignidade e trabalho.

O sonho evaporou-se em pequenas doses homeopáticas até à derrocada total a partir da assinatura dum acordo mortal com os credores implacáveis. As mentiras múltiplas e diversas esmagaram o desejo de mudança nascido em Abril 1974.

Uma economia e as contas publicas ao bordo da falência, obrigado a aceitar empréstimos em condições humilhantes, um pais que é cedido a retalho ao estrangeiro, uma juventude que abandona o pais natal por falta de futuro, e um povo que se enterra na duvida e na desconfiança da política e dos políticos, ao ponto de se sentir traído por eles.
Esta desconfiança, duvida e desespero do povo português poderiam ser as premissas duma real mobilização popular para um projeto revolucionário a pensar e fazer.

Nisto compreendo e partilho a reflexão do Sr. José Barros

J. de Freitas

Obrigado, António

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