Ontem, com um grupo de colegas, almocei com o novo ministro do Interior francês, Manuel Valls. Nasceu em Barcelona há 50 anos e tinha já 20 anos quando adquiriu, por naturalização, a nacionalidade francesa. Ocupa hoje um dos postos mais delicados do executivo da França, precisamente aquele que tem a seu cargo a questão dos direitos dos estrangeiros e a gestão dos fluxos migratórios.
Dei comigo a pensar se isto seria possível entre nós, se um estrangeiro que se tivesse naturalizado português no fim da adolescência seria aceite para ocupar um cargo de ministro, em especial numa pasta com esta sensibilidade específica. Como, já há meses, me tinha interrogado quando à facilidade com que a França conviveu com a candidatura à presidência da República de Eva Joly, uma norueguesa que, com 18 anos, veio trabalhar como "au pair" para Paris. Ou como os franceses acham natural que um cidadão como Daniel Cohn-Bendit, nascido em França mas apátrida até aos 14 anos, que, depois, optou pela nacionalidade alemã, deliberadamente para não cumprir o serviço militar neste país, tendo posteriormente dirigido a subversão estudantil no maio de 1968, seja hoje deputado europeu eleito nas listas francesas e uma das figuras cimeiras do partido ecologista.
Esta abertura da França àqueles que enriquecem a sua diversidade é uma das mais nobres marcas desta sociedade.
18 comentários:
Há duas formas de se pertencer a um país: o jus soli e o jus sanguini. A França acrescenta-lhe o jus core...
Conversaram sobre a recente e colossal manifestação independentista em Barcelona?
Na politica são sobretudo as ideias que contam. Depois as competencias, e as capacidades, para exercer um cargo.
Mas não se conhecem muitas reações de "ostracismo" no seio do grupo politico. Pelo menos não tantas como no seio da sociedade.
Não era o Sarkozy, embora nascido em França, de origem estrangeira recente?
O atual ministro do interior é visto por muitos como um dos ministros mais à direita deste novo governo e, até por isso, também, teria sido escolhido para as funções que exerce. É mais isto, as ideias, no seio do grupo, que contam.
José Barros
na verdade há paises que integram os estrangeiros que para lá emigram, os assimilam legal e administrativamente, os aproveitam e não os segregam: frança, eua, r u, australia, outros.
madeleine albright ex s.e. e embaixadora dos eua com clinton nasceu na checoslováquia e foi para os eua aos 5 ou 6 anos.
arnold schwarzenegger nasceu na austria, foi para os eua aos 20 anos e é há anos governador eleito da california.
zbigniew brzezinski nasceu na polónia e preparava-se para entrar no serviço diplomatico canadiano quando se passou para os eua aos 24anos onde veio a ocupar importantes lugares politicos alem de académicos.
quantos governadores de estado, congressistas, mayors, juizes, diplomatas, professores universitários, empresarios, militares, policias, etc, não há, de naturalidade latina, mexicanos, cubanos, caribenhos, ou doutras, nos eua?
há na australia funcionários do serviço diplomatico que eram estrangeiros imigrados (portugueses incluindo) se naturalizaram australianos e entraram na função publica, vida politico-partidaria, etc.
e presidentes da câmara em frança?
há efectivamente paises que aproveitam a imigração não só para colocar tijolos, carregar sacos de melões ou servir à mesa em restaurantes, mas como uma força demografica e economica impulsionadora do país que os recebeu.
a imigração tem sido nas eleições americanas um dos grandes temas de debate, sobretudo como legalizar os milhões de ilegais, mas não só dando-lhes o cartão, exigindo-lhe contrapartidas, fazerem o serviço militar, p ex.
em portugal não sei se os programas eleitorais dedicam 1 linha à imigração mas nem sequer nas televisões vejo apresentadores etnicos de programas como na bbc, cnn ou tv francesa. em contrapartida vejo os governantes pm incluido a aconselharem os portugueses a emigrarem
bonito ver um espanhol naturalizado francês ministro em frança. que venha agora um português!!
Desta vez vou ter tento a olhar para o teclado. Como os dias têm sido de "queixinhas" demais por estas bandas espero por outra altura para lavar o coração de algumas máguas e decepções pela "mesquinha" atitude e demora que temos tido em aparecer com os nossos compatriotas descendentes dos naturais do antigo ultramar. Já encontro alguns comissários de bordo na TAP e há dias fui atendida ao balcão de um Banco por outro. Há alguns bons na medicina e no direito. Já não é mau... Já houve o Tilman e o Ka deputados. Bem bom... Queriam mais?!
Engana-se Patrício Branco. Então, não vê apresentadores "étnicos" na televisão? Nunca viu o Fama Show com as suas meninas de leste ou o Preço Certo (e o monumento Lenka)? Passou ao lado do "fenómeno" Merche Romero (Andorra)? Ou essa coisa do "étnico" é apenas uma forma encapotada de dizer PRETO? Se é isso, estamos mal, mas talvez também se arranje qualquer coisa..
De qualquer forma, convém lembrar que os "étnicos" não vão além de uns 3% da população...
Caros comentadores: esqueçam as antigas colónias. Falei de países sem esses vínculos, como é o caso da relação da França com a Espanha, a Noruega ou a Alemanha. Nada disto tem a ver com heranças coloniais. E também não interessa o caso Sarkozy, dado que é francês desde a nascença.
Grande confusão por aqui vai (nos comentas). De qualquer modo, estou de acordo com o senhor Embaixador: um dia vai ser possivel em Portugal eleger um Presidente nascido na terrinha e folho de um emigrante do Leste ou de Africa? Claro que sim!!! (hi hi... ) Calhando, calhando, daria melhor do que muitos - suivez mon regar vers Belém, SanBento....
Grande confusão por aqui vai (nos comentas). De qualquer modo, estou de acordo com o senhor Embaixador: um dia vai ser possivel em Portugal eleger um Presidente nascido na terrinha e folho de um emigrante do Leste ou de Africa? Claro que sim!!! (hi hi... ) Calhando, calhando, daria melhor do que muitos - suivez mon regar vers Belém, SanBento....
muito obrigado pelas dicas para ver os programas com as meninas de leste, a lenka e a merche romero que, alem de serem fenómenos e monumentos, mulheres belas portanto, têm a vantagem de não serem ministros, classe de que cada vez menos gostamos.
É de facto extraordinário que o País seródio que cunhou a palavra "chauvinisme" tenha este novo historial, muito mais consentâneo com os tempos que correm.
Muito diferente do país imberbe que reclama a cunhagem da palavra "liberdade" e que, ainda hoje, procura desesperadamente provas do nascimento do seu presidente, constroi muros de 6 metros de altura e condena milhões a uma vida à margem do sistema.
Em relação à nossa Lusa Pátria parece-me evidente que a a prova dos nove só será possivel quando os novos fizerem prova(imigração dos países africanos de expressão portuguesa, países de leste, etc) ... até lá considerações sobre o nosso Portugal só de profetas.
Nuno 361111
exma dra helena sc ora va la dizer isso aos argelinos...!
mas compreendo o post do sr embaixador, mas como e que alguem que venha de um pais com um nivel educacional muito menos desenvolvido, pode enriquecer a franca? e como é que a franca os enriquece a eles (nao falo do plim)?
(fico sempre com a duvida se podemos personalizar um pais...)
mas caro embaixador
nao vejo como possa ser um problema haver politicos portugueses nascidos na noruega, alemanha etc,
quem nos dera!
venha uma orda de suevos erradicar esta tao nossa "misconception" de meter tudo o que é de todos ao bolso,
cortar a relva pela raiz...!
bem haja
A seguir a presidente da associação de pais da escola do filho da nossa ex-first Lady...uma prémière para uma portuguesa aqui no bairro...quem sabe o que o destino me destina : ))))
mas caro Nuno
como é que se personaliza um pais?
quem é a cabeca quem sao os olhos quem o coracao, a razao, os pes, as maos, o sangue etc?
um pais tem as caracteristicas dos seus habitantes ou sao os habitantes sao caracterizados pelo seu pais?
bem haja
Nós também já temos estrangeiros a governar-nos. Normalmente chamamos-lhes "os troikos."
Caro anónimo,
Tudo é a soma das partes. E todas as partes são um pouco do tudo de que fazem parte...
Cumprimentos,
Nuno 361111
Ora cá está mais um post progressista, além da interessante reflexão...
Já são uma realidade por exemplo os chefes de serviço médicos de nacionalidade espanhola nos nossos serviços de saúde...
Menor a probabilidade de enveredarem pela política pois não é tão rentável na maioria dos casos nem assegura o deslumbramento do prestigio cristalizado e perpétuo.
Agora a curto, médio e longo prazo aliás no próximo "trinténio" será mais provável serem os portugueses a ocupar lugares de dirigentes políticos nos outros paises onde exercem atividade profissional. Talvez uma das variáveis a introduzir no conceito afetivo de pátria seja local onde se reside a maior parte do tempo e que permite a sobrevivência sustentada ...
Na mesma linha de pensamento arriscaria dizer que é pacífica a eleição de um emigrante no nosso país desde que faça a aquisição de um discurso fluente para brilhar em campanhas e seja apoiado pelas fações dominantes de um dos dois partidos que governam em modelos de alternância...
lembrei-me agora de henry kissinger
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