sábado, setembro 23, 2017

Afinal, quando é?

Estava um grupo sentado na mesa do Procópio, a meio dos anos 90. Três membros do governo de António Guterres, recém-nomeado, faziam parte da tertúlia, numa dessas barulhentas sextas-feiras. Eu era um deles.

Veio à conversa uma determinada política pública, de natureza social, e, perante uma reivindicação sobre a urgência na sua implementação, um dos nóveis governantes comentou que havia que dar mostras de contenção, que era irresponsável estar a "pedir o céu", que devíamos ser gradualistas nas nossas ambições.

Foi então que um menos contido membro do nosso grupo, um homem que desportivamente arquiteta a alegria da vida com voz grossa e gesto largo, que se havia entretanto juntado à "mêlée" da Mesa Dois, interpelou os governantes que por ali estavam, de copo à ilharga:

- Eh pá! Desculpem lá! Durante os últimos 13 anos, andámos a "levar porrada" do Cavaco, que se marimbava para tudo o que nós defendíamos. Nessa altura, pronto!, nada era possível e a malta tinha de amouxar. Agora que o PS chegou ao poder, porque o país estava farto das políticas "do gajo", surgem-me vocês a dizer que temos de ser "modestos", que não é prudente colocar excessiva pressão sobre um governo que "é nosso". Então respondam-me lá: quando é que podemos, sem qualquer limitação, pedir e obter financiamento para uma política que é necessária, justa e que o país compreende como essencial? É que assim não se percebe para que serve mudar de governo, a não ser para estarem lá vocês e não os outros? 

Às vezes, nestes tempos de Geringonça, lembro-me disto.

4 comentários:

Anónimo disse...

Soyez realistes, demandez l'impossible.

2. Sobre o que Marco Antonio Costa considera ser "preocupante"(sic) era bom lembrar que ha uma cortina de silencio publico sobre as inquirições de que foi alvo. Transparência, a bem dizer, so pode apregoar para os outros.

Anónimo disse...

Obrigado por explicar como chegámos ao pântano e como nele iremos continuar.

Anónimo disse...

"como chegámos ao pântano"

mas alguma vez de la saimos?...

Anónimo disse...

Passados estes anos.....mais do mesmo...

Qurem que acreditemos que António Costa, Mário Centeno, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa podem meter no bolso as "causas" de propaganda nacional, mas não conseguem "enganar" todos ao mesmo tempo......

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