O país não conhece ainda
a decisão do presidente da República em face da rejeição parlamentar do governo
minoritário do PSD/CDS. As escolhas não são muitas e podem vir a ser rodeadas
de requisitos ou exigências que acarretem novas incógnitas. Os
institucionalistas e alguns falsos ingénuos dizem ser este “o tempo do
presidente”, mas é óbvio que a decisão já tarda.
Aquilo de que venho aqui
falar tem a ver com a imagem externa de Portugal e com os impactos que, da
decisão de Cavaco Silva, possam para ela decorrer.
Portugal é um país tido internacionalmente
como frágil, por virtude da sua precária situação económica, da ausência de um crescimento
sustentado, da nossa falta de competitividade e da persistência de
desequilíbrios sociais internos muito pronunciados. Temos sido uns felizes “free-riders”
da política do BCE e da vontade europeia de nos mostrar como exemplo de um
ajustamento que todos sabem ter sido inquinado de erros. Saímos “limpos” do
resgate por um hábil “photoshop”, com um défice artificial, uma dívida monstra,
serviços públicos no osso, desemprego e emigração. A nossa banca está “por
arames” e a que não está não cumpre o seu papel de apoio à economia, tendo
sobre ela a espada de Dâmocles do “Novo Banco”, que todos acabaremos por pagar.
Com as instituições
internacionais permanentemente a passarinhar por aqui, a realidade económico-social
portuguesa é hoje muito transparente. Todos sabem a nossa limitada margem de
manobra e que o essencial daquilo que nos pode afetar está nas mãos da Alemanha
(em Frankfurt ou em Berlim). Por isso é que a bolsa sobe nos dias em que os
analistas da paróquia entendiam que devia descer. É que muito pouco depende de
nós. Só mesmo os erros graves.
Há, contudo, algo que o
exterior ainda não controla, embora, às vezes, alguns revelem vontade de fazer:
as nossas escolhas políticas internas. Em geral, o mundo olha para elas com muito
maior serenidade do que se julga. O que se quer saber é se, por virtude dessas
escolhas, o país romperá com o essencial daquilo a que se comprometeu na ordem
internacional. Fora disso, os mercados, os investidores e quem importa na ordem
económica apenas querem saber, com clareza e previsibilidade, quais são as
regras do jogo.
Por tudo isso, espera-se que o presidente não
aproveite o anúncio da sua decisão, ou a posse de um eventual novo governo,
para vir a despertar novos fantasmas que possam provocar um inconveniente alarme
externo. Se acaso vier a reeditar uma mensagem catastrofista como a que fez há
semanas, o presidente estará a prestar um péssimo serviço ao país. E Portugal
não esqueceu ainda que foi o primeiro-ministro Cavaco Silva quem, por um
imprudente comentário televisivo, agravou desastradamente o “crash” da bolsa
nacional em 1987.