sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Porque não

Pergunta de um amigo: "Então não escreves nem dizes nada sobre a iniciativa de Trump sobre a Ucrânia, logo tu que andas há anos a escrever e a falar do assunto?" É verdade, e não foi por falta de convites de televisões. Foi porque não.

Confissão

Não sou dado a invejas, mas tenho de confessar: tenho imensa pena de não estar hoje na Conferência de Munique sobre Segurança.

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

Ainda Crabtree



Uma das regras de ouro a ser seguida pelos membros da Crabtree Foundation, entidade a que aludi no texto anterior, é procurar sempre citar Crabtree nos livros que acaso publique. 

Assim fiz no meu "Diplomacia Europeia", em 2002, e, mais recentemente, voltei a cumprir essa regra no "Antes que me esqueça", em 2003.

Aqui fica a referência a Crabtree no índice onomástico deste último livro, bem como a clara página correspondente, para a qual o leitor é remetido.

quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Crabtree


Seria hoje à noite, no University College, em Londres, que iria ter lugar o jantar anual da Crabtree Foundation. Mas não será este ano.

Joseph Crabtree terá nascido em 1754 e a sua morte terá ocorrido em 1854. Desde 1954, uma centena de anos depois, um grupo de 200 personalidades, democraticamente cooptadas, reune-se, uma vez em cada ano, no University College, em Londres, na quarta-feira mais próxima do "Valentine's day", para ouvir uma de entre elas pronunciar-se, durante uma boa meia hora, sobre um aspeto da vida, da obra e dos feitos dessa figura única da história polįtico-cultural e sócio-económica britânica que deu pelo nome de Joseph William Crabtree. 

Juntam-se aos membros da Crabtree Foundation mais de uma centena de convidados, rigorosamente selecionados. Por ali está a nata da sociedade britânica, professores universitários, artistas, membros do parlamento, banqueiros da City, diplomatas, militares, advogados, empresários e outros profissionais de relevo. 

O nome do orador seguinte é anunciado no jantar de cada ano, pelo que o indigitado tem suficiente tempo para se documentar com a informação necessária ao fabrico da sua palestra, até porque esta pode vir a ser contraditada (quase sempre é) por outros presentes, nomeadamente por uma figura central da sessão, "The Living Memory and Keeper of the Archives and the Seals", personalidade que vela pela compatibilidade e não contradição entre as "orations" ao longo dos anos. E convenhamos que 70 textos dedicados à vida e obra de Crabtree é algo cuja coerência é difícil de preservar!

Os temas escolhidos para estas intervenções são totalmente livres, desde que traduzam estudo aturado, investigação aprofundada e reflexão intelectual adequada, com amor à parte da verdade a que temos direito e à imaginação tida por necessária. Até hoje, foram já publicados três belos volumes (edições "hard cover", com ilustrações) que recolhem as "orations" anuais sobre Crabtree, numa tarefa que incumbe ao "Keeper of the Scholars and the Colllected Orations". 

Note-se que, no jantar, cujos vinhos são selecionados, com elevado critério, pelo "Vinter of the Foundation", o uso de "smoking" para os homens é obrigatório (é admitido, como exceção, o traje escocês), sendo que algum formalismo elegante (e conservador) é também exigido às senhoras. 

Estas começaram a ser admitidas como convidadas a partir de 1995 (foi uma noite de discussão atribulada, lembro-me bem) e, posteriomente (numa decisão também muito contestada, mas hoje já digerida, embora por alguns ainda com visível resignação), passaram a poder integrar a Crabtree Foundation como membros plenos, naturalmente dentro do estrito "numerus clausus", que nunca foi abandonado. 

Convidado anteriormente durante dois anos, pela mão do saudoso e grande "scholar" crabtreeano que foi Bartolomeu Cid dos Santos, desde 1992 que tive a felicidade de ser chamado a integrar este distinto cenáculo, para o qual, diga-se, continua a haver listas de espera bem longas. 

Somos muito poucos os estrangeiros que foram até hoje admitidos, pelo que registo com grande honra o facto de já me ter cabido a presidência da Crabtree Foundation, no ano de 2012, responsabilidade que implicou a direção do rígido protocolo do jantar e a livre escolha do orador e do presidente meu sucessor, para ano seguinte. Escolhi uma mulher, o que não foi muito consensual. 

Convém sublinhar que não é só em Londres que a Crabtree Foundation se reúne. Há vários "chapters" distribuídos pelo mundo, de Harare a Glasgow, de Florença a Sidney, entre outras cidades. Em Lisboa estuda-se, desde há vários anos, a possibilidade de ser criado um "chapter", tanto mais que há fundada evidência das relações de Crabtree com o nosso país. Aliás, o espírito de Crabtree é cada vez mais universal, a sua mensagem espalha-se rapidamente à escala global e o passado desta personagem de perfil ímpar tem hoje assegurado um futuro radiante à sua frente. 

Este ano, problemas logísticos insuperáveis impedem que nos reunamos. Não haverá "oration", cujo título seria anunciado antes no jantar dos "Elder and Awful Guardians" -  sete figuras centrais na direção da Foundation, cuja indicação e representatividade democrática, se bem que desconhecida, nunca é contestada. Talvez por isso!

Algum leitor menos atento e menos habilitado é capaz de estar, a esta hora, a perguntar-se: "mas afinal quem foi Crabtree, o que é que essa figura fez de tão relevante que justifique que centenas de pessoas se reunam anualmente para saudar a sua memória?". Vá ao Google, às apps de Inteligência Artificial e será esmagado pela sua própria ignorância. Pode parecer presunçoso responder desta forma, mas apetece-me dizer que, se não sabe, talvez não mereça saber, o que me dispensa de ir muito mais longe. 

Deixo, porém, umas últimas notas. 

Não excluo, em absoluto, que a alguns leitores possa ter chegado, ou vir a chegar, a malévola indicação de que Joseph William Crabtree é afinal uma figura ficcional, com a sua vida inventada exclusivamente pelas "orations" que, ao longo destes 70 anos, foram produzidas a seu respeito (na imagem, deixo a listagem das últimas, por onde se pode avaliar a rara riqueza das temáticas). Eu próprio já ouvi dizer que "Crabtree nunca existiu" e outras barbaridades similares. Neste tempo de verdades alternativas, tudo é possível, até nada!

Outros poderão chegar a suspeitar, imagine-se!, que o retrato a óleo aqui reproduzido, que nos acompanha num cavalete durante os jantares e ao qual faremos a certo passo a reverente saudação, copos erguidos bem ao alto, com toda a sala a ecoar "To the Great Man!", teria, afinal, sido comprado em Portobello ou num mercado de rua similar. Às calúnias responde-se com o silêncio do desprezo. Eu respondo com a orgulhosa fotografia ao lado desse magnífico óleo.

Quem sabe se outros ainda pensarão, na pobre tristeza dos iludidos, que o cajado que, desde há décadas, figura sobre a mesa da presidência do jantar (e cuja guarda cabe ao "Keeper of the Cudgel"), e que se sabe à saciedade ter sido usado por Crabtree na sua histórica travessia dos montes Apeninos, teria sido adquirido, afinal, num qualquer "car boot sale". 

Finalmente, sabemos que chega a dizer-se que a romagem anual ao histórico local que a tradição oral indica como sendo de nascimento de Crabtree, Chipping Sodbury - infelizmente, a doutrina nunca foi pacífica sobre o local onde está a tumba de Crabtree - é apenas um pretexto para uma "cottage pie" e algumas "pints" no The Horseshoe, um pub local. 

O leitor pode acreditar no que quiser. Nós fazemos exatamente o mesmo. Por mim, convertido em definitivo ao espírito de Crabtree, tentarei voltar no próximo ano, como fiz no passado, por diversas vezes, ido de Lisboa, de Nova Iorque, de Viena, de Brasília ou de Paris. 

Por Crabtree, tudo! Até este longo texto cujos leitores, se tiverem conseguido chegar até ao fim, eu saúdo, pela sua paciência.




Falta pouco, Musk!

 



Fevereiro Negro


Não deve ser fácil, nos dias que correm, ser chefe do Estado da Jordânia e mostrar boa cara na Casa Branca.

terça-feira, fevereiro 11, 2025

RTP




Memória


Por que diabo este excelente prato com apfelstrudel, que ontem comi num restaurante, me fez lembrar tanto as imagens dos livros de religião e moral, ao tempo dos padres Moura e Montes, no liceu de Vila Real? 

Ele há cada coisa!

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Fados e guitarristas


No passado sábado, fui ao "Fama de Alfama" ouvir fado, com um grupo de amigos. Foi uma bela noite, com boas vozes e excelente música, numa "casa de fados" muito pouco "típica": é que lá come-se bastante bem, a preços muito confortáveis. Convenhamos que não é normal! Quase protestei! 

A meio do espetáculo, o guitarrista Micael Gomes, que vim a saber ser conhecido como Mike 11 no "hip-hop", que a imagem mostra, executou um magnífico improviso, um "blend" de sonoridades, no meio do qual me pareceu detetar algumas notas de Carlos Paredes. Como sou inseguro nas minhas perceções musicais, mas tendo o raro privilégio de estar sentado em frente da pessoa que, em Portugal, mais sabe dessas coisas, o meu amigo Rui Vieira Nery, vi a minha ideia confirmada.

E lembrei-me então do dia em que conheci Carlos Paredes. 

(Este blogue, em rigor, devia chamar-se "Isto é como as cerejas!"

Foi há precisamente 50 anos, nos primeiros meses de 1975, em casa de Carlos Eurico da Costa, poeta e administrador da empresa de publicidade Ciesa-NCK, onde eu então trabalhava como colaborador externo. 

Paredes ia apresentar sugestões que lhe haviam sido pedidas para a banda sonora de um "spot" televisivo e radiofónico, destinado a mobilizar as pessoas a votarem nas "primeiras eleições livres". A encomenda era do STAPE (Secretariado Técnico para o Assuntos Político-Eleitorais), ali então representado pelo seu diretor, comandante Luís Costa Correia (o Luís, estou certo, deve lembrar-se bem desta cena). 

O compositor e músico chegou, com o ar muito modesto que era o seu, um andar desengonçado, quase a pedir desculpa pela intrusividade da sua presença. Eu sentia-me fascinado pelo ensejo de poder conhecer pessoalmente o autor dos "Verdes Anos". Recordo ter-me sentado, reverencialmente, em frente do guitarrista, quando este começou a apresentar algumas hipóteses que tinha preparado para o fundo musical do anúncio. 

Dedilhou sucessivamente quatro ou cinco temas e, nas pausas entre cada um, dizia coisas como esta: "Não sei o que acharam. Esta parece-me fraquita..." ou "Só me saiu isto..." ou "Se calhar, isto precisa de ser melhor trabalhado!" A mim, cada uma parecia melhor do que a anterior!

Deslumbrado, creio que hesitei até ao fim em dar qualquer opinião sobre as peças, tal a sua qualidade. O Luís Costa Correia e o Carlos Eurico da Costa pareceram-me partilhar "l'embarras du choix", mas lá acabaram por eleger o tema que, durante semanas, viria a fazer parte do quotidiano televisivo e radiofónico de todos os portugueses.

Só voltei cruzar-me com Carlos Paredes quando, em 1993, acompanhado por Luísa Amaro, fez, em Londres, a convite de Mário Soares, no quadro da sua visita de Estado, um memorável concerto para a rainha Isabel II, no Guildhall. No final, a rainha fez questão de o conhecer pessoalmente e - recordo - quis ver as mãos de Paredes. Quando o felicitei, emocionado como estava pela sua magnífica apresentação, Paredes perguntou-me, modesto: "O amigo acha que eu estive bem? É que hoje não estava nos meus dias..."

Duvido que alguém possa ser verdadeiramente português se não gostar da música de Carlos Paredes. E, para quem gosta de Abril, a música de Paredes foi a banda sonora da nossa Revolução.

Ao sair, já bem tarde na noite, do "Fama de Alfama", dei comigo a pensar que Carlos Paredes, se acaso ainda fosse vivo, teria apreciado muito a prestação de Micael Gomes. Seria um outro Portugal a vir ao seu encontro. É que Paredes gostava muito do futuro.

domingo, fevereiro 09, 2025

Sarkozy e Sócrates


Vai ter início em breve, ao que se vai sabendo, o julgamento de José Sócrates, o culminar do famoso "processo Marquês". Em França, Nicolas Sarkozy começou a cumprir pena em casa, com pulseira eletrónica, tendo ainda vários outros processos pendentes. A tragédia tolhe a vida de ambos.

Como embaixador em França, tive o ensejo de testemunhar, por diversas ocasiões, durante mais de dois anos, a boa relação que se tinha criado entre esses dois homens. Passava por ali uma corrente que sempre me pareceu ser de mútua e franca simpatia, talvez porque também houvesse alguma similitude nos respetivos estilos. Ambos assumiam uma atitude fazedora, concretizadora, uma vontade de romper com as peias que, à partida, sempre dificultam a ação política.

Sarkozy era mais agreste, crispado, com sorrisos que eram quase esgares, mesmo desdenhosos. Sócrates, que tinha um feitio igualmente irascível, assumia nos contactos pessoais uma postura mais aberta e amável para o interlocutor, a qual, contudo, de um momento para o outro, ao que se dizia à menor contrariedade, podia transformá-lo no "animal feroz" que ele publicamente um dia assumiu ter dentro de si.

Hoje, ao pensar nos dois e nas suas mútuas atribulações com juízes e tribunais, lembrei-me do episódio de um encontro entre ambos, em Paris, que um dia testemunhei.

Estávamos em maio de 2010. Sócrates, como primeiro-ministro, tinha ido à capital francesa para um encontro de trabalho com aquele que era o seu verdadeiro homólogo, o chefe do governo, François Fillon. A embaixada havia preparado cuidadosamente essa reunião, que tinha uma agenda essencialmente bilateral, muito técnica, e só escassamente europeia. Essa seria depois a dimensão política que Sócrates iria tratar pessoalmente com Sarkozy.

A presidência da República francesa indicou-nos que, ao contrário da reunião com Fillon, que tinha bastante gente dos dois lados, o que se justificava pelo caráter específico de vários dossiês, na reunião com o presidente só poderia haver sete pessoas do lado do visitante. Essa era a regra, como vi depois confirmado em reuniões de Sarkozy com Passos Coelho e deste com François Hollande.

Como é da prática protocolar, após a chegada dos carros ao pátio do Eliseu, a delegação portuguesa subiu rapidamente para a "Sala Verde", onde já se encontrava a equipa de Sarkozy. Para trás, para as fotos sorridentes e para o aperto de mão na escada do palácio, ficaram o próprio Sarkozy e Sócrates, comigo e o embaixador francês em Lisboa em plano recolhido. Depois, no passo nervoso que Sarkozy impunha, subimos a escadaria para o primeiro andar e entrámos na "Sala Verde", onde deveria ter lugar a reunião e onde estavam já as delegações.

Sarkozy olhou o ambiente e, claramente, não lhe apeteceu o exercício com toda aquela gente. Saudou as pessoas com um seco "Bonjour à tous", atravessou e, abrindo a porta para o seu gabinete, que ficava adjacente, convidou Sócrates a entrar. E fez a sua escolha: "Tu viens", disse para Jean-David Levitte, seu conselheiro diplomático. E, esquecendo o seu embaixador em Lisboa, disse-me: "Vous aussi, M. l'Ambassadeur". E fechou a porta atrás de si. Na "Sala Verde", entre toda a gente, ficavam "apenas" dois membros do governo português...

Eu conhecia bem aquele gabinete, o mesmo em que Jacques Chirac recebera várias vezes António Guterres. Mas, dessa vez, Sarkozy queria, claramente, ter um encontro quase a sós com Sócrates. E logo se percebeu porquê.

Eu e Levitte seríamos as únicas testemunhas. Conhecia muito bem Levitte, desde os tempos de Chirac até ao período em que ambos tínhamos coincidido em Nova Iorque, como representantes dos nossos países junto da ONU. Éramos amigos.

"Está calor! José, não queres tirar o casaco?", propôs Sarkozy, com Sócrates a aceitar. Nem a mim nem a Levitte passou pela cabeça, por um segundo, fazer o mesmo, embora o calor fosse idêntico para nós. Os diplomatas sabem as regras implícitas destas coisas.

Os mais de três quartos de hora seguintes foram épicos. Sarkozy fez a sua radiografia da União Europeia, mas não só. Falou de alguns líderes que eram colegas de ambos à mesa do Conselho Europeu, sob uma perspetiva crítica que ultrapassou tudo quanto eu achava possível poder vir a ouvir. Mas também analisou, de forma acerada, outros líderes mundiais, integrantes do então G8, bem como alguns do G20. Raros tiveram uma sua "nota positiva". Um a um foram escalpelizados de forma, quase e muitas vezes, cruel. "Imbecil", "burro", "incompetente" e outros epítetos, com caraterizações físicas de permeio, foram sendo distribuídos por primeiros-ministros e figuras cimeiras do mundo. Poucos se salvaram...

José Sócrates não acompanhava o tom de Sarkozy, ainda tentou atenuar uma ou outra crítica, apenas sorrindo perante o imparável colorido semântico do presidente francês. Eu, que ali estava de Moleskine em punho, escusei-me intimamente a tomar a menor nota do que era dito. Levitte, como é do seu estilo, mantinha-se seráfico, às vezes com um esgar giocôndico, no que podia ser lido, ou não, como estando em sintonia com a análise do chefe.

Acabada a reunião, atravessámos de novo a "Sala Verde", de onde as frustradas delegações tinham entretanto saído, com a nossa gente já instalada nos carros que nos levariam ao aeroporto. Por isso, não tive ocasião de observar a cara dos nossos dois governantes socialistas, que Sarkozy deixara especados à porta do gabinete. Nem a do meu colega francês em Lisboa, mas essa era o menos importante: os embaixadores, como ouvi um dia a um diplomata que foi meu chefe, são "expendable" - descartáveis, sacrificáveis.

Quando, feitas as despedidas e ditas por Sócrates as rituais palavras à nossa imprensa, no "perron" do Eliseu, ele e eu entrámos no carro, exclamou: "Viste aquilo? O homem é intravável!" E riu-se imenso. Eu, burocrático, rindo também, limitei-me a dizer: "Optei por não tomar notas dos 'retratos" que ele fez. Seria uma imensa bronca se, algum dia, aquilo se viesse a saber em pormenor!" Com Sócrates a concluir, divertido: "Fizeste bem. Aliás, dificilmente alguém acreditaria..."

sábado, fevereiro 08, 2025

Hamas

Raptar civis inocentes, como fez o Hamas, é um ato obsceno. Pô-los a falar num palco, antes de os libertar, é um gesto ignóbil. 

A legitimidade da resistência palestina contra a ocupação israelita das terras que o Direito Internacional reconhece como suas é muito mal servida desta forma. 

As angústias de Zelensky


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As guerras económicas


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O imobiliário americano em Gaza


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Diário de um otimista


Há uns anos, numa rua de Paris, passeando com um grande amigo que o tempo já me levou, ao olhar um cartaz de um espetáculo do Tony Bennett, vi-o reagir assim: "Ora ali está um tipo otimista!". 

Pensei que fosse pelo sorriso clássico do "crooner", de tacha arreganhada no imenso placard. 

Não, não era por isso: é que estávamos em fevereiro e o espetáculo era só em novembro. E Bennett, por essa altura, rondava já os 90 anos. Esperar estar vivo e em condições de poder cantar, a tantos meses de distância, relevava de algum otimismo, pensava ele.

Pensava ele, digo bem. Mas pensava mal: Bennett haveria de sobreviver por ainda mais uma década e esse meu amigo acabaria por ir-se-nos embora praticamente ao mesmo tempo que o cantor.

Mas onde é que este tipo quer chegar?, perguntará o leitor. 

É muito simples: acabo de receber um convite para fazer uma palestra ... em abril de 2026. Ora eu sei lá "como" é que vou estar daqui a um ano e tal! Mas, pronto, faço como o Bennett e vou aceitar. Depois, logo se verá!

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Aviso à navegação


Atenção! Esta é uma conta falsa que foi criada com o meu nome no Instagram. Já foi denunciada e esperemos que seja eliminada.

Teste do algodão

O PSD tem agora uma oportunidade de ouro de se mostrar à altura da clássica atitude de Marques Mendes, quando um dia afastou os autarcas infrequentáveis. Se, por tibieza ou oportunismo, Montenegro ficar "a meio da ponte", confirmará o que muitos pensam dos partidos do sistema.

Mendes - take one

Marques  Mendes, no seu competente discurso de candidatura, mostrou maturidade política e que sabe bem ao que vai. Da parte dele, e espero não estar enganado, o país poderá contar com uma campanha limpa e substantiva, a qual, contudo, só irá verdadeiramente arrancar depois das autárquicas de outubro.

Welcome back!

Parabéns à Polícia Judiciária, e à ministra da Justiça de quem ela depende, pela eficácia na detenção dos fugitivos de Vale de Judeus. Espero que já haja "trancas à porta", que evitem ter de novo a "casa roubada".

Já agora...

Ou muito me engano ou, daqui a dias, os EUA vão descobrir uma fórmula que permita a Israel atuar sem limitações na Cisjordânia, como se esse fosse um território seu. Será a lei da Bíblia imposta à lei da bala - o sonho sionista da extrema-direita judaica, em Israel e nos EUA.

Bayrou

François Bayrou conseguiu fazer sobreviver o seu governo. Mostrou a Macron que tinha razão quando o forçou a nomeá-lo PM. Partiu a coligação das esquerdas, isolou Mélenchon e deu ao PSF oportunidade de se mostrar responsável. Faltam dois anos para as presidenciais. E se...?

No sítio

É nestes dias sombrios que vai ser posta à prova a coragem dos jornalistas americanos, pelo menos dos meios de comunicação social cujos donos não tenham conseguido domar a liberdade dos seus profissionais.

quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Periscópio

O militante do PS que propôs um referendo interno sobre o candidato que o partido deve apoiar nas presidenciais já tinha anunciado que iria apoiar o oficial da Armada na reserva Passaláqua de Gouveia e Melo. É o que se chama um socialista com o periscópio de fora.

Gaza

É muito óbvio que a sistemática destruição urbana de Gaza foi uma ação deliberada, com vista a tornar praticamente inviável o regresso dos cerca de dois milhões de palestinos às suas casas, abrindo assim caminho a "soluções" como aquela que Trump ousou propor.

quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Seguro

António José Seguro tem todo o direito a querer ser candidato presidencial. E as pessoas da sua área política têm igual direito de achar que as suas possibilidades de ser eleito são próximas de zero e que a persistência nessa candidatura favorece os adversários do partido que lhe deu o palco de que hoje dispõe.

Periscópio

Há críticas ao atual ocupante de Belém, assentes na leitura negativa sobre o seu excessivo uso da palavra. Mas, pelo menos, conhecemos bem o que pensa. Preocupa-me muito haver um candidato presidencial cuja principal "qualidade" é esconder as ideias que eventualmente possa ter.

Oh diabo!


Será que devo anunciar que não ando à procura de emprego?

Tudo sobre rodas


A minha paciência na escolha de um novo carro estava a esgotar-se. Fui a um stand e voltei para casa meio convencido. Na madrugada, andei pela net. Fui a outro stand, "desconvenci-me" do anterior e acabei por comprar outro carro. Desta vez, gastei meia hora na compra. Vá lá!

Gaza, SARL

Cada minuto que passa sem que a União Europeia reaja, com firmeza, à abstrusa ideia de Trump de colocar os Estados Unidos a tomar conta do território de Gaza, forçando a saída dos palestinos da sua terra, é um atestado do estado da sua saúde moral. 

Maria Teresa Horta


A melhor homenagem que se pode fazer a um escritor é ler a sua obra. No caso Maria Teresa Horta, que agora desaparece, de cujos poemas tinha apenas uma já distante memória, decidi lê-la, há meses, estimulado pela magnífica biografia escrita por Patrícia Reis - "A desobediente".

terça-feira, fevereiro 04, 2025

Aga Khan



Morreu hoje, em Lisboa, com 88 anos, o príncipe Aga Khan, figura tutelar do mundo ismaelita, uma prestigiada orientação muçulmana.

A comunidade ismaelita no nosso país tem fortes raízes em Moçambique e constituiu-se, em especial após 1974, como um setor muito respeitado, dotado de um profundo sentido de responsabilidade social.

Durante o tempo em que dirigi o Centro Norte-Sul, do Conselho da Europa, tive o gosto de conduzir o processo de atribuição ao príncipe Aga Khan do Prémio Norte-Sul 2013, votado em Estrasburgo, pelos Estados membros do Centro.

Foi um galardão unanimemente decidido, em face da notável obra cultural e social, à escala internacional, que tinha vindo a ser realizada sob a orientação do príncipe.

Neste triste momento, quero deixar uma palavra solidária de muito pesar ao meu amigo Nazim Ahmad, personalidade ismaelita de grande relevo no nosso país, pessoa que há muito representa, de forma exemplar, a sua prestigiada comunidade, cujo percurso na sociedade portuguesa acompanho, há décadas, com sincera admiração.

Está perdoado...


Pronto! Vítor Gaspar está perdoado! 

Agora é que era...

Agora que começa a soar, dos lados de Washington, a sinistra expressão "Greater Israel", talvez valesse a pena alguém perguntar aos líderes da União Europeia se continuam fiéis à solução dos "dois Estados" e se estão dispostos a defendê-la face aos EUA.  

Não era tão bom...

... aquele tempo em que se vivia desta forma na Amadora, em que havia colónias, pides e coisas assim?

Não...


... não fui eu quem tirou esta fotografia.

Quatro rodas e dois pedais


Os carros são um tema que nunca me interessou. Nem para conversa. Desde que sejam confortáveis e rápidos, basta-me. Há 20 anos, lembro-me que perdi apenas 15 minutos para comprar um. 300 mil quilómetros depois, ele está a pedir reforma urgente. Por estes dias, muito a contragosto, já perdi mais do que um quarto de hora com o assunto. Deve ser da idade. Do carro, claro.

segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Rapaziada

Pela experiência destes primeiros dias, já se percebeu que o lema da intervenção de Elon Musk na administração americana lembra uma rapaziada que também temos por cá: menos Estado, melhor Estado e o que sobrar fica para nós e para os amigalhaços.

Espaço vital

Sob a vergonhosa cumplicidade do mundo, os setores radicais de Israel estão agora a converter a Cisjordânia na "nova Gaza". Chamemos os bois pelos nomes: a "solução final" do "problema palestino" passa pela expulsão dos habitantes daquela terra.

Escolhas

Cheguei à conclusão de que, nas escolhas eleitorais que fui fazendo ao longo da vida, senti maior satisfação em poder contribuir para a derrota de algumas hipóteses sinistras que andavam no mercado político do que o gozo que tive nas várias vitórias que partilhei.

Até que enfim!

Lê-se que 175 portugueses, sorteados entre Vilar de Perdizes e o Pulo do Lobo, decidiram já o futuro resultado autárquico em Lisboa. Finalmente, a democracia funciona! Há que acabar com o velho centralismo de serem apenas os lisboetas a escolherem o seu presidente da câmara!

Assim começa o 17° ano deste blogue...


domingo, fevereiro 02, 2025

"Portugal diplomático"


O "Portugal Diplomático" é um site dedicado à política externa portuguesa, dirigido por Bruno Oliveira. 

Tive o gosto de ser convidado a dar uma entrevista para a sua última edição, cuja transcrição pode ser lida das páginas 17 a 33, através deste link.

Democracia e autoritarismo em África


Ver aqui.

16 anos deste blogue


Confesso que quase me ia escapando que este blogue comemora hoje 16 anos de existência. Uma existência que tem a curiosidade de ser teimosamente diária, a desmentir o "motto" cauteloso que, desde a primeira hora, entendi dar-lhe.

Recordo, na imagem, as primeiras palavras do primeiro "post". 

Em outros anos, neste dia, simpáticos comentadores tinham por hábito saudar aqui a efeméride. O facto de eu ter decidido, por razões que não vêm ao caso, prolongar a suspensão dos comentários no blogue impede hoje essas amáveis mensagens. Mas sei que os leitores deste espaço, com uma média que ronda os dois mil visitantes/dia, continuam comigo.

Naquele dia, eu acabava de assumir funções como embaixador em Paris, ido do Brasil. Em Belém estava Cavaco Silva, em São Bento permanecia José Sócrates, as Necessidades eram chefiadas por Luís Amado. Manuela Ferreira Leite liderava a oposição. Dias muito difíceis para Portugal estavam ao virar da esquina. Onde tudo isso vai, felizmente!

O mundo, com uma ONU onde permanecia Ban Ki-Moon, tinha líderes como Barack Obama, que acabara de tomar posse, mas também Angela Merkel e Nicolas Sarkozy. Em Londres, Gordon Brown fazia as despedidas de um longo período trabalhista. A ordem internacional estava a viver a crise económica mais grave desde a Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Era um outro mundo.

... e Trump só agora chegou!


Ver aqui

A Sérvia em tensão


Ver aqui.

sábado, fevereiro 01, 2025

Bayrou

Chegou a hora da verdade para Bayrou. O homem que pensou ser possível aprovar um orçamento sem recorrer ao mecanismo constitucional que só pode ser ultrapassado através da censura e queda do governo, vai ter agora a sua segunda prova de fogo.

Trump não me vai estragar isto, aposto!


Preto


Hoje, apetece-me falar de coisas sérias. Aqui fica uma rara imagem de um pinguim preto. Digam lá se não tem elegância e distinção!

sexta-feira, janeiro 31, 2025

Hello!

Há muitos anos, fingidamente confundido com as diversas vozes que falavam com os EUA em nome do Velho Continente, Henry Kissinger comentou: "Qual é o número de telefone da Europa?". Hoje, com Trump, o problema está resolvido: ninguém nos liga...

Notas breves sobre Belém

1. Luís Marques Mendes anunciou que vai apresentar a sua candidatura. O PSD vai apoiá-la, pressentindo que necessita de tentar segurar o seu eleitorado, de onde sabe que está a fugir muita gente para ir atrás do almirante. É injusto para Marques Mendes que o apoio do seu partido seja feito "faute de mieux". É um homem sério, será um candidato competente e, se acaso fosse eleito, estou certo de que teria um comportamento à altura do sentido de Estado que se exige a um presidente. Mas acho que, nesta fase, ele próprio tem plena consciência de que esta é uma candidatura sem a menor hipótese de sucesso. 

2. A candidatura de António José Seguro está muito longe de poder vir a mobilizar o Partido Socialista, isto é, entusiasma apenas aqueles que, dentro do PS, vivem ainda numa espécie de vingança virtual face a António Costa - tal como acontece com o próprio Seguro. Da mesma forma que Marques Mendes, Seguro é uma pessoa íntegra e que sempre revelou um sentido de Estado que, a meu ver, não colidiria, em tese, com o perfil necessário para o exercício da função presidencial, embora o que há semanas disse a propósito de o OGE não necessitar de aprovação parlamentar tivesse revelado uma estranha pulsão propositiva, que se aproximou de alguma irresponsabilidade. As suas hipóteses de ser eleito são próximas de zero, por muito que algumas sondagens ainda o promovam. Diria mesmo mais, algo que julgo não ser necessário explicar: a maioria das pessoas que, num outro circunstancialismo, se poderiam sentir motivadas a votar em António José Seguro já se decidiram pelo almirante.

3. A meu ver, sem mais reflexões que escondem hesitações, o Partido Socialista tem, muito rapidamente, de "fechar" o seu apoio em torno de uma candidatura de António Vitorino. A larga distância de outros potenciais candidatos oriundos da mesma área - e eu votaria, sem a menor dificuldade, em Augusto Santos Silva, Mário Centeno ou Elisa Ferreira -, António Vitorino, embora tendo por ora um evidente défice de notoriedade, dado ter estado afastado do país muitos anos, é, no plano substantivo que importa para o perfil de um chefe de Estado, uma personalidade com preparação e conhecimentos que só António Guterres suplantaria. Vitorino seria um excelente presidente da República. Possui uma experiência internacional que o qualifica como aquele que, a grande distância, melhor representaria Portugal pelo mundo. Quem o conhece, nomeadamente o mundo partidário fora do PS e os setores económicos e sociais, sabe que a sua capacidade de diálogo seria uma garantia de o país poder vir a ter em Belém uma figura moderada e moderadora. O que Portugal bem precisa, nos tempos que se avizinham.

quinta-feira, janeiro 30, 2025

Dois mais dois

Já pensaram que, se o futebol fosse uma ciência exata, o Casa Pia podia dar uma abada à Juventus?

... e não têm vergonha?

Em lugar de se prestarem a promover as óbvias manobras de diversão temáticas que estão a ser montadas pelo Chega, para disfarçar o embaraço do caso do deputado Samsonite, será que as televisões não sabem que nada as obriga a irem ouvir o senhor Ventura, quando a este lhe dá na gana chamá-las?

Será?


Será que as autoridades policiais são realmente incapazes de detetar quem está por trás destas tentativas de vigarice?

De fato...


Se o Bin Laden tivesse tido juízo, tinha contratado um alfaiate em Damasco e era meio caminho andado. Mas não, embrulhou-se naqueles panejamentos e foi o que se viu. Este rapaz - cujo currículo "agora não interessa nada", como diz a outra - é tudo menos vestuariamente parvo. 

Sair das mãos


O meu pai era um fraseador. Não lhe herdei o génio, mas guardei dele algumas expressões que passei a usar.

Um irmão da minha mãe, que vivia em Lisboa, era um perfecionista, fazendo emendas sobre emendas em tudo quanto tentava alinhavar no papel. Notei que, quando o ia visitar, o meu pai olhava com estranheza para aquele esforço do seu cunhado em torno dos textos, no trabalho profissional que este sempre teimava em trazer para casa. Um dia, desabafou comigo: "O teu tio escreve bem, mas perde muito tempo, porque nada lhe sai das mãos!" Guardei a expressão.

Ontem, ao constatar que estava a perder minutos a mais, à volta de três ou quatro simplórios parágrafos de um texto que tinha pressa em acabar, e já depois de voltar atrás não sei quantas vezes, dei comigo a pensar: "Nada me sai das mãos!" 

Foi então que deduzi que isto deve ser da idade. Não no sentido em que, malevolamente, estão a pensar, mas para concluir que, para o ano, tudo me vai passar a sair das mãos, com toda a certeza, bem melhor e mais rapidamente. Ou será que não?

É só saúde!


Imagem dos EUA, depois do país abandonar a Organização Mundial de Saúde.

"Faithfull"


Com 78 anos, morreu hoje a cantora Marianne Faithfull. A sua vida pessoal e o modo como ela olhava Alain Delon, na fotografia em que também figura o seu então namorado Mick Jagger, confere forte significado ao título que ela escolheu para o seu livro de memórias: "Faithfull"...

Kallas

Admito que Kaja Kallas possa ter sido uma meritória PM da Estónia. Mas a sua prestação à frente da diplomacia da UE tem sido tão fraca que já criou saudades de Borrell e até quase de Ashton. Alguém que explique à senhora que a russofobia é um sentimento, não é uma atitude política.

80 anos de "A Bola"


O jornal "A Bola" fez 80 anos. Que bela idade!

Há já uns anos, em Paris, alguém me contou esta história (detesto o neologismo palopiano estória), que vendo como me a venderam. Ter-se-ia passado nos anos 60 ou 70. 

Três ditos "terroristas" tinham sido detidos numa operação militar, no Norte de Angola. Estavam alinhados, na parada de uma unidade militar portuguesa. Eram homens que combatiam pela independência da sua terra, contra o nosso "ultramar". O exército tinha-os neutralizado e aguardavam transporte para Luanda.

Num determinado momento, um dos "turras" (era assim que, popularmente, os independentistas eram chamados nesses tempos) deu um salto em frente e como que voou alguns metros, para apanhar um papel que se lhe escapara e que o vento havia feito deslocar na parada do quartel. A rapidez do seu movimento corporal apanhou de surpresa os militares à guarda de quem estava, que puxaram logo de arma, numa reacção que, por muito pouco, não foi trágica para a vida do homem. Mas o "turra" rapidamente regressou à formação alinhada com os seus camaradas, recolhendo o papel no bolso.

Os militares portugueses não brincavam em serviço e, de imediato, exigiram a entrega da folha de papel. Quem sabe, podia tratar-se de um documento estratégico, a revelação de planos militares. Se o "turra" tinha corrido o risco de avançar para agarrar o papel, numa ousadia que podia ter-lhe custado a vida, alguma valia ele teria. O detido ainda hesitou mas, face ao óbvio imperativo, acabou por entregar o papel.

O resultado foi mais simples do que se esperava: tratava-se de uma página do jornal "A Bola", esse federador "avant la lettre" do grande e imparável mundo que é a lusofonia desportiva.

Muitos talvez não tenham consciência do importante papel desempenhado por "A Bola", não apenas na ligação entre Portugal e os portugueses que vivem no exterior, mas igualmente na manutenção de uma permanente relação de afeição pelos principais clubes portugueses, que persiste em muitos países africanos de língua portuguesa. 

Pensando bem, talvez "A Bola" tenha feito mais pela preservação de um vínculo dessas pessoas a Portugal do que muitos atos oficiais da nossa política externa...

Não sou um leitor regular de jornais desportivos. Mas no dia de hoje, nos 80 anos de "A Bola", que me preencheu muitos anos da adolescência, já prometi a mim mesmo que vou fazer uma coisa que não faço há bastantes décadas: vou comprar "A Bola". Será a minha modesta homenagem a um grande jornal português.

quarta-feira, janeiro 29, 2025

Ficam a saber

As pessoas que se expressam em termos que revelam que, para elas, a segurança e o bem-estar do povo israelita prevalecem, em absoluto, sobre a segurança e o bem-estar do povo palestino adotam uma atitude que é, muito simplesmente, racista. Se não sabiam, ficam a saber

"DeepSeek"


O DeepSeek é a nova coqueluche da Inteligência Artificial. É chinês e parece que abalou os mercados mundiais.

Decidi experimentar e, numa atitude que admito pode ser vista como algo egocêntrica, mas que me pareceu um teste fácil para avaliar do rigor dessa plataforma, perguntei ao DeepSeek que livros é que eu tinha publicado. E o DeepSeek respondeu assim:

"Francisco Seixas da Costa é um autor prolífico, tendo escrito diversos livros sobre temas relacionados à diplomacia, política internacional, integração europeia e reflexões sobre a sociedade contemporânea. Alguns dos seus livros mais conhecidos incluem:

1. "Crónicas de uma Guerra Improvável" (2003). Uma análise sobre a guerra no Iraque e o contexto internacional que a envolveu.

2. "Portugal na Transição do Milénio"(2004).Reflexões sobre o papel de Portugal no mundo no início do século XXI.

3. "A Europa e os Outros" (2006).Um ensaio sobre as relações da Europa com o resto do mundo, abordando desafios e oportunidades.

4. "Diplomacia"(2007). Uma obra que explora o papel da diplomacia no mundo moderno, baseada na sua vasta experiência como diplomata.

5. "O Fim da Inocência: A Europa depois do Não" (2008). Uma reflexão sobre o impacto do "Não" no referendo ao Tratado Constitucional Europeu e o futuro da União Europeia.

6. "A Europa em Tempos de Crise" (2012). Análise dos desafios enfrentados pela Europa durante a crise económica e financeira.

7. "Diário de Bordo: Crónicas de um Tempo Incerto"(2016). Uma coletânea de crónicas e reflexões sobre política internacional e a sociedade contemporânea.

8. "A Diplomacia de Portugal e os Novos Desafios Globais" (2018). Um livro que aborda os desafios da diplomacia portuguesa num mundo em rápida transformação.

9. "O Mundo em Voo Baixo: Crónicas de um Tempo de Incerteza" (2020). Reflexões sobre as incertezas e transformações do mundo atual, incluindo temas como globalização, populismo e crises internacionais.

Belos títulos, excelentes descrições do respetivo conteúdo. Há apenas um pequeno problema: EU NÃO ESCREVI NENHUM DESSES LIVROS. É tudo falso, tudo inventado!

Se é esta a maravilha da Inteligência Artificial chinesa, vou ali a Xangai e já venho!

terça-feira, janeiro 28, 2025

Um homem com pressa


Regressemos a janeiro de 2017, ao tempo em que Donald Trump iniciou as primeiras funções como presidente. Já poucos recordarão hoje a amálgama de temas que o candidato vitorioso então suscitou, durante a sua furiosa campanha contra Hillary Clinton. 

O caos que envolveu a nova administração, nos anos seguintes, tornou tudo mais confuso. A relutância de Trump em abandonar o poder, rejeitando a derrota e o estímulo que deu ao criminoso assalto às instituições, revelou algo que sempre pareceu ser mais uma obstinação, uma doentia afirmação pessoal, do que a definição de um projeto com um mínimo de coerência. 

Goste-se ou não dele – e ele é, com certeza, o último a estar preocupado com o modo como o mundo exterior o olha –, o Trump de janeiro de 2025 parece ter algo de diferente. O primarismo das formulações, repetidas à exaustão, gongoricamente adjetivadas num léxico limitado, recheadas de exageros patrioteiros, não perdeu o seu caráter simplório. Mas, ouvindo-o, fica evidente que alguma coisa mudou. 

A “filosofia” básica de Trump nunca se afastou muito do mantra que aduba as agendas da extrema-direita, embora se note, nos analistas europeus, uma contínua relutância a qualificá-la como tal, talvez por alguma rotineira subserviência ao mito da bondade da democracia americana. Se, por um segundo, pensássemos nas imensas ditaduras que Washington continua a proteger pelo mundo, nos Abu Ghraib e Guantanamo, talvez nos contivéssemos mais nessa admiração. 

O que quer, afinal, Trump? Em síntese, três coisas. 

Desde logo, quer polarizar na sua pessoa, que deseja fique como salvífica nas páginas da História em que ambiciona figurar, a reação a um mundo progressista e igualitário que, nos últimos anos, tinha desafiado de modo crescente alguns tabus do extremo conservadorismo americano. O Trump II libertou-se do republicanismo rotineiro de aparelho e passou a ser a bandeira do reacionarismo mais ideológico, hiper-religioso, moralista, “back to basics”, às vezes com laivos quase cavernícolas. 

Além disso, o cultivo da ideologia do sucesso terá convencido Trump de que sentar à mesa do poder os mediáticos gurus das grandes empresas do mundo digital, associar a isso uma exploração intensiva dos recursos energéticos e minerais, próprios ou mesmo alheios, pode ser uma receita para o bem-estar quase imediato dos cidadãos americanos que nele confiam. E esse é claramente o único critério que importa a quem não revela uma gota de solidariedade humanista perante os problemas dos outros. É a América, só a América, que interessa a Trump. 

Depois, muito depois de tudo, surge, finalmente, o resto do mundo. Um mundo onde os aliados são meras entidades dependentes dos humores do suserano, onde os quadros regulatórios há décadas criados na ordem global, para evitar a selva da luta entre poderes, aparecem hoje como mero estorvo para quem reivindica, sem o menor pudor, não apenas uma excecionalidade, mas que exige ser aceite como a nova e indisputada tutela ordenadora. 

Não tenho visto sublinhado, com suficiente ênfase, o facto de este comportamento à escala global, que se anuncia despudoradamente ditatorial, não ser compaginável com as “amplas liberdades” dos cidadãos americanos. Voltamos assim à iluminada democracia só para os atenienses! 

Trump tem pressa. Quer ficar na História. Percebe que não tem estofo para ser Roosevelt, nem gente à volta que o faça um Reagan, nem tem a efémera estrelinha de Camelot de Kennedy. Quer garantir, com rapidez, uma onda egoísta de progresso para os seus cidadãos, à custa do que for necessário, doa a quem doer. E vai doer. 

Sabe que, daqui a dois anos, a Câmara e parte do Senado regressam a votos, e que pode deixar de ter as mãos livres no equilíbrio legislativo. E que não pode ser reeleito. Por isso, Trump tem toda a pressa do mundo, porque já não vai para novo e porque a morte não espera por ninguém.

(Artigo publicado a convite do Jornal i)

segunda-feira, janeiro 27, 2025

Auschwitz


A Alemanha, país responsável pelo extermínio organizado de milhões de pessoas, durante a 2ª Guerra mundial, e que era então dirigida por um partido de extrema-direita, chefiado por Adolf Schickelgruber, depois chamado Hitler, havia criado, em Auschwitz-Birkenau, na Polónia ocupada, um campo de concentração. 

Há 80 anos, as tropas do regime comunista da União Soviética, dirigida por Josef Vissariónovitch Stalin, ocuparam o local e libertaram os prisioneiros que aí estavam.

(Estas coisas não costumam ser ditas assim. Mas eu faço-o)

Brasil

O Brasil vive um período de crescente vazio político. Este mandato de Lula não tem sido um sucesso, a sua reeleição oferece muitas dúvidas e não tem um sucessor político óbvio. Com Bolsonaro quase fora de jogo, não emergiu ainda uma figura alternativa à direita. O centro parece que morreu.

Ainda há Europa?

A proposta de Trump de afastar os palestinos de Gaza vai ser um belíssimo teste para se perceber se ainda resta um pingo de vergonha e de decência, no seio da União Europeia, face à questão Israel-Palestina, depois do comportamento miserável da Europa nos últimos meses.

Sob teste

Vai ser interessante observar que Estados da Liga Árabe irão tomar iniciativas, no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, com vista a oporem-se ao processo de limpeza étnica dos palestinos de Gaza agora proposto por Trump. E será muito curioso ver a reação da Rússia e China.

Bielorrússia


Lukashenko foi reeleito na Bielorrússia. Está no poder desde 1994. Se a vodka lhe der vida e saúde, ficará até 2030. Ou mais.

A Bielorrússia é, nos dias de hoje, um Estado vassalo da Rússia. Chegou a ganhar alguma distância face a Moscovo, mas, após a aventura russa na Ucrânia, Lukashenko sabe que o seu futuro está cada vez mais ligado ao de Putin. Para o seu bem e para o seu mal.

Confesso que sempre achei muita graça aos bonés militares bielorrussos. Nem o porteiro-mor do excelente Marriot de Minsk tem um com tanta pinta.

domingo, janeiro 26, 2025

O outro Trump

Uma discreta mas nunca assumida simpatia por Trump era detetável numa certa esquerda, que alimentava a ilusão de que, como presidente, ele faria o jogo de Putin na Ucrânia. Agora, Trump parece arrastar os pés no jogo com Moscovo. Essa rapaziada, compreensivelmente, anda agora um pouco triste.

sábado, janeiro 25, 2025

Ramalho Eanes


Quando cheguei a Angola, ido da Noruega, em maio de 1982, para trabalhar na nossa embaixada em Luanda, fui obrigado a viver, por alguns meses, no Hotel Trópico, então uma sombra do que já fora e, em especial, do que hoje é.

Os tempos eram difíceis, nesses dias de guerra civil, e o abastecimento de Luanda era muito precário, com a hotelaria a ressentir-se fortemente disso. No Trópico, o vinho servido era português, mas escasso e muito mau. "Deve ser bom para usar como decapante de pintura de carros", ironizava o Sebastião Gomes, um técnico que ali estava destacado pelas OGMA, o qual, com o Hélder Martins e o Alfredo Esteves, da STAR, muitas vezes abancava comigo nas sinistras refeições de peixe frito com arroz, que era o prato nosso de cada dia no Trópico.

Um dia, veio almoçar connosco um amigo angolano. Ao queixarmo-nos do vinho servido, ele saiu-se com esta: "Já sinto saudades dos Ramalho Eanes!". Ficámos a olhar para ele, surpreendidos por aquele plural majestático: "Os Ramalho Eanes"! O que é que ele queria dizer com isso? 

A explicação veio de seguida. Pouco tempo antes, o presidente Ramalho Eanes estivera de visita de Estado a Angola, a convite do seu homólogo José Eduardo dos Santos, uma ocasião que teve um grande impacto político. Na ocasião, o governo angolano colocara à venda uma larga importação de garrafões de vinho português. Mas foi sol de pouca dura: acabada a visita, eles logo desapareceram do mercado. Nunca consegui apurar que espécie de vinho traziam esses garrafões, que a voz pública luandense logo crismou como "os Ramalho Eanes"! 

Hoje, 25 de janeiro de 2025, dia em que o general António Ramalho Eanes cumpre a bela marca de 90 anos de idade, deixo aqui, com os meus sinceros parabéns e nota de respeito ao aniversariante, esta historieta que liga o seu nome a um leve aligeirar das dificuldades que os angolanos atravessaram nesses anos bem dramáticos. 

Mas é necessário sermos rigorosos e justos: o nome de Ramalho Eanes, em Angola, foi muito mais do que isso. Eanes é alguém que, desde o seu histórico encontro com Agostinho Neto, em 1978, em Bissau, tudo tentou para que as relações entre Portugal e Angola avançassem por um bom caminho. Esse caminho, infelizmente, revelou-se muito mais tortuoso e difícil de percorrer do que então parecia possível. Mas ele teve esse indiscutível e assinalável mérito.

Bola

Em termos de "jogo jogado" (adoro futebolês saloio, saído da "cultura de balneário"), o (meu) Sporting está longe de convencer. Mas, vá lá!, o novo "mister" conseguiu inverter um pouco as coisas. E há uma rapaziada que, em outras bandas, tem dado um simpático contributo relativo.

Dar a cara

O PM espanhol vai propor o fim do anonimato nas redes sociais. Há anos que defendo o mesmo. Os riscos decorrentes do uso dos pseudónimos ultrapassam, em muito, a sua suposta "graça", favorecendo os cobardes que não têm coragem de assumir o que dizem com o seu verdadeiro nome.

... e ainda não chegámos à Madeira

O PS deveria estabelecer uma regra de prescrição sobre o número de vezes que está disposto a perder as eleições na Madeira mantendo o mesmo candidato. É que já vai em nove derrotas consecutivas...

Trump e Montenegro

Trump aprendeu bem as lições do caos que foi o início da sua anterior administração. Desta vez, parece estar tudo muito mais oleado, seja em decisões legislativas, seja em nomeações. E, claro, nas demissões de quem estava lá antes. Terá pedido assessoria a Montenegro?

California...

 


A esfinge do Cairo

Os dois únicos países do mundo que escaparam à suspensão temporária da ajuda americana ontem decidida por Trump foram Israel e ... o Egito. "O Egito?" reagirão alguns. Isso acontece em todos os tempos políticos americanos e nos vários ciclos ditatoriais egípcios. Realpolitik...

Artista

O Brasil está a alimentar uma esperança tal de que Fernanda Torres obtenha um Óscar que, no caso de isso não vir a acontecer, pode converter-se numa tragédia nacional.

Nada mais, nada menos

Por muito que isso custe aos preconceituosos, é preciso afirmar, alto e bom som, que, aos imigrantes, se deve exigir exatamente o que se exige aos cidadãos nacionais: que cumpram as leis do nosso país. Nada mais, nada menos. Tenham eles a cultura, a língua e religião que tiverem.

sexta-feira, janeiro 24, 2025

Afinal...

Fico com a impressão de alguns que, desde há vários meses, estavam convencidos de que a chegada de Trump à Casa Branca significaria a imediata cessação do apoio militar americano à Ucrânia andam já um pouco nervosos com alguma ambiguidade discursiva que agora chega de Washington.

Se eu fosse...

Se eu fosse militante do Partido Socialista, seria obrigado a afirmar, no dia de hoje, o meu desacordo com a forma e, em especial, com a oportunidade das palavras do seu secretário-geral sobre a questão imigratória, na sua entrevista ao "Expresso". Como não sou...

Será respeitinho?

Apelidam-se de extrema-direita as figuras europeias que têm esse iniludível recorte ideológico. Mas por que será que não se usa o mesmo qualificativo para Trump, o qual, aliás, não hesitou em convidar a fina flor extrema-direita para a sua posse? Será que é respeitinho à América?

A sério?

Um país em que os jornaleiros para quem o crime compensa abrem noticiários com um político pilha-malas, um país que está prestes a entregar a chefia do Estado a um fulano que ganhou fama por ter feito uma eficaz distribuição de vacinas, é um país que não pode ser levado a sério.

"Forum Demos"


A voz lúcida de Celso Lafer, jurista, académico e antigo ministro das Relações Exteriores do Brasil, animou mais um jantar-debate do "Forum Demos", um grupo de reflexão criado por Álvaro Vasconcelos, dedicado à análise das grandes questões globais. Trump esteve bastante por lá.

Língua portuguesa

Tive muito gosto de participar ontem no Congresso "Da minha Lingua vê-se o Mundo", organizada pelo jornal "Público", no ...