Assunção Cristas, líder dos democrata-cristãos, deixou-se fotografar numa pose insinuante, tendo como fundo uma Lisboa estival, com um vestido branco, curto, com motivos de kiwis.
(Poderia colocar aqui a fotografia, que está a atravessar o país das redes sociais, mas prefiro não o fazer. Por duas razões. A primeira é porque a não apresentação da fotografia, mesmo para os leitores que já a conhecem, permite-me alimentar imageticamente esta narrativa (e isto não é despiciendo para a lógica expressiva deste espaço, desculpem lá!). A segunda razão é porque isso me permite concretizar um sonho: entrar num exercício idêntico à daquele programa da SIC, aos domingos, sobre futebol, construído com "paleio", sem imagens.)
A fotografia é tirada do miradouro de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa. Do piso superior, não do jardim de baixo, onde Fernanda de Castro, mulher de António Ferro, criou, com a complacência do ditador, um ramo da sua obra de assistência infantil. Desse nível, a perspetiva seria menos boa e a imagem decadente das estátuas, decapitadas ou mutiladas pela javardice das ressacas do Bairro Alto, não ajudaria. E, já nem no CDS deve haver muita gente que conheça a escritora, podendo ser assim sensível ao toque subliminar de uma referência conservadora.
Cristas (ou Líbano Monteiro ou Luís Paixão Martins ou António Cunha Vaz, dependendo da agência de comunicação avençada) quis ter Lisboa do alto. Mas não escolheu o vidro modernaço do terraço do Hotel Bairro Alto ou do Park bar ou da varanda do Insólito, por detrás da fotógrafa. Quis ter como base um peitoril sobre uma grade clássica, que esperou por uma excelente luminosidade para refletir uma cromia serena, nem excessivamente anoitada (inconveniente, na proximidade dos fados e do Bairro Alto), nem ensolarada de luz quente (que induziria nota de alguma lubricidade).
A pose é "casual", mas muito estudada. Por um lado, isso é bom. Um perfil totalmente natural induziria relaxamento, quiçá volúpia, abrindo portas (salvo seja!) a leituras liberais, nos usos e nos costumes. Ora Cristas é tudo o contrário disso, é uma senhora casada, mãe de família, com um rancho de crianças, num recorte muito tradicional. Fazer pose é, assim, de rigor.
Não se esperaria, porém, naquele cenário (com o Caldas ao fundo, para além do Condes) um "tailleur" cobrindo o joelho, como o fariam Ferreira Leite ou Teodora Cardoso, se lhes passasse pela cabeça deixarem-se retratar assim em frente à antiga FAUL, onde nasceu o PS lisboeta. Por isso, e porque é o elemento provocatório do conjunto, o vestido é toda "uma história". Tipo "saco", com meia manga larga, tem uma altura que não é chocante naquilo que revela, sem deixar de ter um toque ousado na sua contemporaneidade. Os motivos frutais têm tons de verde seco que acompanham os ramos do arvoredo por detrás da retratada, num conjunto que induz um tom algo intimista, de jardim, no mundo do recorte urbano. Os pés displicentemente cruzados, com sandália de tacão muito alto, assentam numa calçada dita portuguesa, embora verdadeiramente apenas lisboeta, reconduzindo a líder ao solo reconhecível. O relógio, negro, pouco clássico, rompe com a brancura da veste.
O olhar de Cristas é para a direita ("what else?"), para os lados do Paparrucha (outro belo possível cenário, para a próxima) ou do saudoso Pedro Quinto. O esgar é impecável, neutro, um toque de sobranceria que não fica mal, de destino assumido, auto-confiança, talvez com um excesso ligeiro de artificialismo na luz induzida. Há por ali firmeza, alguma distância, visão, uma determinação acentuada pelos tendões do pescoço, que revelam maturidade cruzada com a juventude adulta que se procura exaltar. Sobre os kiwis não me pronuncio, embora preferisse peras ou melões. Tudo menos laranjas!
Restam os joelhos. A decisão de mantê-los sem retoques de "photoshop" revela uma forte personalidade. "Chapeau"!
Que pensarå o PP sobre esta voluntária exposição da sua líder? E o velho CDS? E Portas, cujas poses eram em geral os seus piores retratos, porque ficava com ar de alguém que ironizava com a situação e tinha algo a esconder?
Esta é uma fotografia reveladora de uma certa imagem que Cristas procura fazer passar: ousada, firme, insinuante, conservadora moderna.
À atenção do PSD!
Cristas (ou Líbano Monteiro ou Luís Paixão Martins ou António Cunha Vaz, dependendo da agência de comunicação avençada) quis ter Lisboa do alto. Mas não escolheu o vidro modernaço do terraço do Hotel Bairro Alto ou do Park bar ou da varanda do Insólito, por detrás da fotógrafa. Quis ter como base um peitoril sobre uma grade clássica, que esperou por uma excelente luminosidade para refletir uma cromia serena, nem excessivamente anoitada (inconveniente, na proximidade dos fados e do Bairro Alto), nem ensolarada de luz quente (que induziria nota de alguma lubricidade).
A pose é "casual", mas muito estudada. Por um lado, isso é bom. Um perfil totalmente natural induziria relaxamento, quiçá volúpia, abrindo portas (salvo seja!) a leituras liberais, nos usos e nos costumes. Ora Cristas é tudo o contrário disso, é uma senhora casada, mãe de família, com um rancho de crianças, num recorte muito tradicional. Fazer pose é, assim, de rigor.
Não se esperaria, porém, naquele cenário (com o Caldas ao fundo, para além do Condes) um "tailleur" cobrindo o joelho, como o fariam Ferreira Leite ou Teodora Cardoso, se lhes passasse pela cabeça deixarem-se retratar assim em frente à antiga FAUL, onde nasceu o PS lisboeta. Por isso, e porque é o elemento provocatório do conjunto, o vestido é toda "uma história". Tipo "saco", com meia manga larga, tem uma altura que não é chocante naquilo que revela, sem deixar de ter um toque ousado na sua contemporaneidade. Os motivos frutais têm tons de verde seco que acompanham os ramos do arvoredo por detrás da retratada, num conjunto que induz um tom algo intimista, de jardim, no mundo do recorte urbano. Os pés displicentemente cruzados, com sandália de tacão muito alto, assentam numa calçada dita portuguesa, embora verdadeiramente apenas lisboeta, reconduzindo a líder ao solo reconhecível. O relógio, negro, pouco clássico, rompe com a brancura da veste.
O olhar de Cristas é para a direita ("what else?"), para os lados do Paparrucha (outro belo possível cenário, para a próxima) ou do saudoso Pedro Quinto. O esgar é impecável, neutro, um toque de sobranceria que não fica mal, de destino assumido, auto-confiança, talvez com um excesso ligeiro de artificialismo na luz induzida. Há por ali firmeza, alguma distância, visão, uma determinação acentuada pelos tendões do pescoço, que revelam maturidade cruzada com a juventude adulta que se procura exaltar. Sobre os kiwis não me pronuncio, embora preferisse peras ou melões. Tudo menos laranjas!
Restam os joelhos. A decisão de mantê-los sem retoques de "photoshop" revela uma forte personalidade. "Chapeau"!
Que pensarå o PP sobre esta voluntária exposição da sua líder? E o velho CDS? E Portas, cujas poses eram em geral os seus piores retratos, porque ficava com ar de alguém que ironizava com a situação e tinha algo a esconder?
Esta é uma fotografia reveladora de uma certa imagem que Cristas procura fazer passar: ousada, firme, insinuante, conservadora moderna.
À atenção do PSD!