Em 2012, este governo decidiu que a nossa missão junto da UNESCO deveria deixar de ter um embaixador dedicado exclusivamente à organização e que o lugar deveria passar a ser exercido, cumulativamente, pelo embaixador em França.
Várias vozes se fizeram então ouvir contra esta decisão, tentando mostrar a insensatez da mesma, num tempo em que o país comemorava ainda a elevação do Fado a "património imaterial" da UNESCO, quando, no seio da organização, levávamos a cabo uma delicada negociação para a compatibilização da construção da barragem Foz Tua com o estatuto do Alto Douro Vinhateiro como "património material", para além de outros dossiês complexos em curso.
Procurou-se mostrar que não tinha sentido Portugal enfraquecer uma das principais frentes de defesa e promoção da língua portuguesa, numa organização a que o Brasil ou Angola dedicavam embaixadores e grande atenção, onde um modelo como o português, no quadro da União Europeia, só era seguido por um grupo reduzidíssimo de minúsculos países. Finalmente, explicou-se que o acompanhamento das questões do Mar, a que Portugal dedicava uma atenção, pelo menos retórica, ficaria debilitado por este gesto. Nada feito: a decisão de retirar o embaixador dedicado à UNESCO era definitiva.
O diplomata que ocupava o posto da UNESCO estava nele há menos de um ano e foi transferido para outro destino. Mudar um embaixador é caro, envolve encargos importantes, significa a perda de uma rede de contactos entretanto estabelecidos. Encerrar uma residência de uma embaixada também, com finalização de contratos, despedimento de pessoal, transporte de mobiliário, etc. Mas a decisão do governo, e do ministro que a titulou, cumpriu-se. E o embaixador em Paris (que, por acaso, era eu) assumiu as funções e as respetivas tarefas.
Passaram três anos. O governo decide agora recolocar um embaixador na UNESCO. Nunca o devia ter retirado. E lá vamos agora ter que realugar uma casa, mobilá-la, recontratar pessoal e toda a imensidão de passos necessários à instalação do novo chefe da missão, o qual, entretanto, nem gabinete passou a ter nos escritórios junto da UNESCO, dispensado então por desnecessário.
O que é que se terá passado para justificar que o mesmo governo que, com "sólida" argumentação, tomou a anterior decisão assuma agora uma posição inversa? Mudou o ministro? Ora essa! Então as decisões não são colegiais, do governo? E nesse governo não é hoje vice-primeiro-ministro a mesma pessoa que, em 2012, era o ministro dos Negócios estrangeiros?
Andam a brincar com o dinheiro e a dignidade do Estado, com este ao sabor de humores de quem conjunturalmente o titula.
14 comentários:
Se em 2012, para o ministro que tutela a "coisa" deixou de fazer sentido manter um embaixador para a UNESCO e todos os encargos inerentes ao cargo, (como muito bem pergunta) o que é que desde aí mudou para que hoje se considere necessário nomear e instalar um novo chefe de missão na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura?
Hmmm...
Das duas, uma: ou em 2012 quiseram dar mais trabalho ao Embaixador Seixas, ou então... estão a pensar elevar a património imaterial da UNESCO o nosso valioso e genuíno "NACIONAL BACOQUISMO".
Voto na segunda... ou na terça... na qurta, aliás!
Sr. Embaixador,
Antes de andarem a brincar com o dinheiro e a dignidade do Estado andam a GOZAR connosco. Povo Português!
Depois querem ser levados a sério. Por favor!!!
Se isto continua assim termina muito mal. Todos os partidos têm de começar a pensar melhor as suas atitudes.
Nem Mais:
“ANDAM A BRINCAR COM O DINHEIRO E A DIGNIDADE DO ESTADO, COM ESTE AO SABOR DE HUMORES DE QUEM CONJUNTURALMENTE O TITULA.”
Quem sera que vai ocupar o lugar? Talvez ai se encontre a resposta à inversao da decisão de 2012...
E na UNESCO havia uma equipa formidável, a apoiar excelentemente os embaixadores mencionados. Falo de Pedro Sousa Abreu e de Teresa Salado - e sei do que falo.
JPGarcia
Nem mais! O que esteve por detrás desta decisão terá sido o de satisfazer uma ambição pessoal de quem queria ir para Paris, inicialmente o Consulado Geral e depois, como entretanto "reservado", para o que se teve de reabrir o que se tinha fechado. Portas tomou uma decisão lamentável, ao encerrar a RP na Unesco e agora engole a sua reabertura, por decisão do PM, e não do Ministro. O MNE ao sabor de pequenos e egoistas interesses. Você tem razão. Convém sublinhar que quem saiu, quando se encerrou a RP da Unesco era um diplomata, embaixador, muito considerado e competente. Fosse outra pessoa, do circulo pessoal e politico de Portas que lá estivesse e a nossa RP junto da Unesco ainda hoje continuava e esta transferencia teria sido agora um acto normal de mudança de cadeiras diplomáticas. Assim não é. Ou não foi.
a)Rilvas
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~ Muito bem inferida,
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a conclusão da sua interessante crónica.
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Principalmente com a educação, que segundo alguns "foi uma festa"; do Blog "Delito de Opiniâo"
"Perpétuo Engano de um Aluno do 9º Ano
por Francisca Prieto, em 01.07.15:
Navegávamos em auto mar
Talvez seja para encaixar alguém do grupo. Até tremo, só de pensar que ainda podemos levar com eles de novo. Pois são de alta confiança e competência e só pensam no País e nos Portugueses (PaF).
Já agora. 19 menos 1, quantos ficam?
Infelizmente, na questão do Vale do Tua a UNESCO e o nosso Governo optaram pela decisão errada.
As Novas Barragens estão a ser construídas para servirem de apoio às Eólicas (para acumular o excesso de energia produzido pelas Eólicas). Ainda por cima, há poucos dias foi assinado um acordo, para as interligações da energia (redes eléctricas) dos vários países europeus o que torna as Novas Barragens um verdadeiro absurdo.
Este é mais um exemplo onde se vão gastar milhares de milhões para coisa nenhuma.
Envio a notícia que foi publicada no Jornal Público do 2-07-2015
Portugal, Espanha e França assinam acordo para as interligações de energia
www.publico.pt/economia/noticia/portugal-espanha-e-franca-assinam-acordo-para-as-interligacoes-de-energia-1700509
Chico Amigo
Depois do texto como sempre muito bem escrito, vivido e comentado que mais poderei dizer a não ser quem 2012 se tratou de uma decisão irrevogável...
Andam mesmo a gozar connosco, i.e. com os Portugueses.
Quo usque tandem abutere, Belém & S. Bento & MNE, patientia nostra?
Abç
E sobretudo reabre-se uma missão diplomática para colocar um jovem apparatchick que convém encaixar em phasing Out do poder laranja. É fartar vilanagem, que com Jaime Gama não se podia beneficiar os socialistas em nome do sentido de Estado e da equidistância. Volta Luis Amado para continuar o franquear de portas ao poder laranja!
Caro João Vieira. Ser de direita não lhe dá carta de alforria para ser "caceiteiro" por aqui. Ou escreve as suas ideias com elegância e educação ou corto-lhe a "coleta" e vai pregar para outra freguesia. Está entendido? Cumprimentos
Caro Francisco Seixas da Costa
E o que escrevi sem elegância e correção? Não o fiz, mas penso que escrevi qualquer coisa com o propósito de o incomodar.
João Vieira
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