Elegia para a Mesa Dois do Procópio*
"Não mais, amigos, já não existe
À roda da Dois a alegre companhia..."
Assim clamava, emocionado, o ancião.
Era quarta à noite. Do velho triste
Uma lágrima a alva barba humedecia,
Fazia tremer-lhe a voz a emoção.
"Lá nasceram poemas e amores,
Se reformou a Pátria, surgiram filosofias;
Esgrimiram-se epigramas, brilharam teses,
E litros de whiskey, de gin e de licores
Fluíam entre névoas de fumo. Alegrias
Quase sempre; tristeza às vezes,
Mas sempre o cintilar da amizade."
Calou-se melancólico e um suspiro
Agitou-lhe o peito venerando. Amargurado,
O senhor Luís rasgou, com gravidade,
O velho letreiro, qual histórico papiro,
Onde se lia a palavra "Reservado".
Ao balcão, a Alice esconde a comoção.
É a crise, claro, o euro, o mercado
Tem muita força o que tem que ser.
Um bando adolescente e trapalhão
Já desgasta o veludo avermelhado.
A mesa Dois acaba de se render.
Jamais o Procópio escapará à dor,
Terá a sua natureza amputada.
Mas é assim: o tempo tudo arrasa.
Afasta-se, solene, o provecto orador.
O cajado nodoso ajuda-o na jornada
Em direcção ao Restelo, onde é a sua casa.
23/Julho/2015
* Texto da autoria de António Dias, reagindo a uma "circular" do autor deste blogue, há dias enviada aos utentes da "Mesa Dois" do Bar Procópio, apelando ao reforço da sua presença mais regular no "escritório".
8 comentários:
Oh...O saudosismo, as suas metamorfoses
afetos inquebráveis narcisismos de grupo
manifestos cunhados na baba da pirose
revelam o gozo do fazer parte arguto
Ah... A inveja saudável empenho amigo
estilos literários, proezas, lérias,
acordos sem tempo nos encontros de postigo
bruma espirito prenuncio de férias
oh...Ironias, arremedos de quem quer comprar
prumos solitários amores que dão a vez
paródias saciadas que já não estão pra andar
moral, ética, não lhes apetece ser cortês
Já não me apetece viver de apetites
oh...Por que sim.Ah...Por que não...Odeio limites...
Fazem-me comichão...
Isabel Seixas, In(...) Não me apetece (...)
~~~
~ Tocante, nostálgico e verdadeiramente triste!
~ Não vos rendeis, ó «oradores de Procópios»!
~ Enquanto expuserdes as vossas ideias, conservais a vossa preclara lucidez, apoiada pela sabedoria de uma vida.
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~~~ Deixai-vos morrer de pé! ~~~
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~~~~~ Abraço solidário. ~~~~~~~~~
~ ~ ~
Senhor Embaixador, não tendo nada com o tema, reparei nas tantas vezes que já falou da nossa Cidade(vila Real), nunca me recordo de ter falado do "Bila", olhe que este ano o clube até fez 90 anos em Maio. Conte lá algum episódio curioso sobre este tema, quem sabe algum dos escaldantes(Vila Real x Chaves).
Senhor Embaixador. Há um poeta que secdiz ser frequentador mais ou menos regular dessa tal mesa nº2 que ee estranha muito não ter ainda contribuído com uma das suas estrofes para alimentar este post. Porque srá?
Bom dia, ontem referi que o Vila Real tinha 90 anos. Errei tem 95 anos, foi fundado em 20 de Maio de 1929. A nossa cidade é que se elevou a essa condição em 1925(90 anos), curiosamente a mesma idade da Gomes. Já agora em 1925, a Gomes começou com a designação de Flor da Cidade, visto que era uma sociedade do Senhor Gomes com outra pessoa. Após terem feito essa sociedade é que tomou a designação que ainda hoje possui.
Voltei a enganar-me na data do Bila, tem sim 95 anos, mas por erro coloquei 1929, mas é 1920.
Anónimo das 14.08, não sei se é comigo (pode ser presunção), mas se for, acontece que sobre este tema tenho preferido andar a versejar no facebook, em desgarradas com o meu bom amigo António Russo Dias. Mas será talvez presunção pensar que se trata de mim...
a) Alcipe
Ninguém a convocou, mas a 'velha senhora' avança com soneto (e quadra entre parêntesis) para dizer que não tem nada a dizer… Isto da idade não perdoa, coitada da minha velha amiga.
divertem-se os meninos - fazem bem! -
poeta e rimador da mesa dois
versejam no procópio - dentro, pois.
rimalhadeira, fora, eu cá porém
podia ter direito - oh! por quem sois,
amigos, só diria o que convém -
a rimalhar sobre o que ouvi e a quem,
de alguns de vós, secretos meus cobois.
mas, se pensar melhor, não digo nada.
pra quê tentar entrar na brincadeira
se a mim, de velha, tudo já me enfada?
quando - e se - lá for à quarta-feira,
num qualquer canto ficarei calada:
não há já quem - hélas! - ouvir-me queira.
(e até que finalmente bem me agrada
beber sozinha, sem ninguém à beira,
a rimalhar em vão pra ser chamada
palerma, velha e vã rimalhadeira)
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