Na semana que agora termina, fiz parte de um painel de seleção de jovens "trainees" para uma das maiores empresas nacionais, cujo negócio se situa maioritariamente fora do país. Ao longo de vários dias, foram muitas horas de diálogo com dezenas de jovens de diversas origens académicas, sem exceção com mestrados em excelentes instituições universitárias, com idades que raramente ultrapassavam os 25 anos. O grupo a selecionar representava já só 1% (leram bem) dos inscritos, que haviam sido sujeitos, ao longo de meses, a um rigoroso processo de seleção profissional. Já em 2014 tivera experiências idênticas, em Portugal e no estrangeiro. Dentro de semanas, farei isso noutro continente.
Devo dizer que ser parte deste exercicio é, ao mesmo tempo, uma experiência fascinante e delicada.
Fascinante porque este tipo de experiência acaba por ser uma montra ilustrativa do Portugal de hoje. Ouvir os jovens falar das suas ambições, dos seus interesses pessoais, do modo como olham o país e o mundo, da sua leitura da relação com a família e os amigos é muito interessante e instrutivo. No meu caso, para quem viveu muito tempo no estrangeiro e perdeu um pouco a ligação à realidade do país novo que aí está, este tipo de tarefa, somada às incursões que tenho vindo a fazer na vida universitária, permite "atualizar-me" sobre Portugal. E, sem ter tido surpresas, confesso que tive algumas revelações.
A delicadeza deste tipo de exercícios é, contudo, muito grande. Trata-se de conseguir avaliar, pela observação da interação em exercícios conjuntos, complementada por entrevistas individuais, a disponibilidade para o trabalho em grupo, o potencial de liderança e de entusiasmo pelas tarefas que os esperam, que leitura esses jovens têm da realidade que os envolve, procurando perceber, por detrás do que exprimem e de como se exprimem, se revelam potencial para as exigências específicas da profissão a que se estão a candidar. A complexidade agrava-se ainda mais pensarmos na imensa responsabilidade que consiste, através de um simples "sim" ou de um "não", dar sequência ou pôr termo a um sonho de carreira, a um investimento pessoal num concurso que, para cada um deles, pode significar uma profunda mudança de vida.
5 comentários:
os jovens devem estar preparados para a eventualidade de receber um "não" quando apostam num novo desafio, porque quando se fecha uma porta, também se abre uma janela :)
Podia dizer-nos algo mais, que não disse,mas pensa. Será assim tão penoso? Todos seríamos ajudados a reflectir. É uma reflexão feita de desilusão?
Ao comentador das 20.30: "Desilusão"? A única coisa penosa no exercício é a responsabilidade de ter de dizer "não" à entrada de alguns candidatos. Sem uma única exceção, trata-se de gente de muito boa qualidade, o que é demonstrado pelo facto de terem chegado tão longe no processo de seleção. Daí a dificuldade em excluir alguns. A Wikipedia não traz sempre grandes textos, mas este sobre os "trainees" parece-me interessante: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trainee
A escolha, quando existe mais de um candidato excelente e capaz
( sem cunhas e apadrinhados, claro ) acaba por ser sempre muitissimo subjetiva, baseada em gostos pessoais e numa pitada de sorte.
Apenas um idiota perde a autoestima se for rejeitado.
A falta de emprego e de saida profissional para jovens, contudo, torna-se deveras mais frustrante e preocupante.Um candidato preterido lamenta pois sabe muito bem que pode cair no desemprego ou subemprego.
Chamem o Mourinho que decide na hora, sem trejeitos diplomaticos, quem se deve empregar.
Foi com grande gosto que fiz parte do grupo de jovens que passaram por esta etapa.
Felizmente, tive a honra de ficar. Foi uma fase difícil, mas desafiante. Gostei imenso. Um muito obrigado.
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