Se a tradição norueguesa ainda é o que era, o presidente Cavaco Silva, durante a visita que fará à Noruega, irá almoçar ao Rådhus, a municipalidade de Oslo, a convite do primeiro-ministro, ponto de agenda que costuma ser parte integrante de todas as visitas de Estado.
A este propósito, recordo-me de um embaraço por que passei, aquando da visita de Estado do presidente Ramalho Eanes àquele país, nos anos 80. Embora eu fosse o organizador logístico da visita, em nome da embaixada, confesso nunca me passou pela cabeça verificar a partitura do Hino Nacional que ia ser usada por uma banda norueguesa nas cerimónias oficiais. Dei por adquirido que tinham a partitura certa. E, de certo modo, tinham...
Assim, no início do almoço oficial no Rådhus de Oslo, lá começou a ser tocado o nosso hino. Acabada que foi execução da música que todos conhecemos, os portugueses presentes iniciaram uma salva de palmas, arrastando consigo os noruegueses. Com surpresa, verificámos que a orquestra "arrancou" para uma segunda execução, repetindo a primeira. Era estranho, mas tudo bem! E, chegado o fim desta, os presentes avançaram então, mais decididos, para uma nova salva de palmas. E não é que a orquestra "atacou", de novo, com mais uma repetição?! Onde é que aquilo acabaria?
Por jeito próprio ou como quem "connaît la musique" (expressão aqui apropriada), o presidente Eanes mantinha-se impávido. O resto dos portugueses mostrava alguma perplexidade, com Fernando Reino, chefe da casa civil de Belém e até há poucos meses embaixador em Oslo, a fuzilar-me interrogativamente com o olhar. Só sosseguei quando os músicos noruegueses se aquietaram, por fim, largos minutos passados sobre o início da música.
O que é que se tinha passado?
O verdadeiro hino português, "A Portuguesa", é composto por três partes e não apenas por aquela que vulgarmente se canta. A primeira versão oficial do hino, que surgia no antigo "Diário do Governo", tinha aquelas três partes, além de três repetições da estrofe (Às armas...). Alguns países guardam essa versão. Por isso, não é raro ser essa a versão utilizada por uma orquestra ou banda estrangeira, na receção a um dignitário português. Depois desta cena em Oslo, e tal como tem acontecido a muitos meus colegas, já me tem sido dado ouvir esta "tripla" versão do hino pelo mundo fora. Nessas ocasiões, o único problema é quando há portugueses a cantar alto a letra do hino. Coitados, lá repetem mais duas vezes o "Heróis do mar...". É que ainda estou por encontrar alguém que saiba a versão completa. Deixo aqui a parte dessa parte da letra que ninguém sabe:
Fico agora com imensa curiosidade em saber que hino foi, de facto, tocado em Oslo.
O que é que se tinha passado?
O verdadeiro hino português, "A Portuguesa", é composto por três partes e não apenas por aquela que vulgarmente se canta. A primeira versão oficial do hino, que surgia no antigo "Diário do Governo", tinha aquelas três partes, além de três repetições da estrofe (Às armas...). Alguns países guardam essa versão. Por isso, não é raro ser essa a versão utilizada por uma orquestra ou banda estrangeira, na receção a um dignitário português. Depois desta cena em Oslo, e tal como tem acontecido a muitos meus colegas, já me tem sido dado ouvir esta "tripla" versão do hino pelo mundo fora. Nessas ocasiões, o único problema é quando há portugueses a cantar alto a letra do hino. Coitados, lá repetem mais duas vezes o "Heróis do mar...". É que ainda estou por encontrar alguém que saiba a versão completa. Deixo aqui a parte dessa parte da letra que ninguém sabe:
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
e ainda
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Não se pode dizer que seja uma letra particularmente "inspirada", como se diz dos poetas assim-assim.
Ainda uma nota complementar, para quem não saiba. Vale a pena explicar que aquele suicidário, e que sempre me pareceu algo masoquista, "contra os canhões, marchar, marchar", presente no refrão, é uma versão retificada da letra original, onde se lia "contra os bretões, marchar, marchar" - porque o hino tinha sido construído para reagir à afronta de Londres, ao tempo da indignação exaltada contra a "pérfida Albion" no caso do "mapa cor-de-rosa".
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Não se pode dizer que seja uma letra particularmente "inspirada", como se diz dos poetas assim-assim.
Ainda uma nota complementar, para quem não saiba. Vale a pena explicar que aquele suicidário, e que sempre me pareceu algo masoquista, "contra os canhões, marchar, marchar", presente no refrão, é uma versão retificada da letra original, onde se lia "contra os bretões, marchar, marchar" - porque o hino tinha sido construído para reagir à afronta de Londres, ao tempo da indignação exaltada contra a "pérfida Albion" no caso do "mapa cor-de-rosa".
Fico agora com imensa curiosidade em saber que hino foi, de facto, tocado em Oslo.
11 comentários:
O atual acha que seria um anacrónico hino e por isso porventura sugerirá .........
É a primeira "correcção" a efectuar pelo sebastiãonévoa.
"A Portuguesa"(1911) , em Mirandês , ainda hoje , ensina a verdade:
"Contra Is Bretones caminar, caminar ! "
Actualizado na língua oficial Portuguesa, deveria ser:
-"CONTRA OS LADRÕES MARCHAR, MARCHAR !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"
Bem pior do que essa "tripla" foi a bandeira içada ao contrário lá na Praça do Município. E... estávamos em casa.
Ainda me lembro de, nos Escoteiros, - em exibição para poucos -, ter usado a parte do "Raios dessa aurora forte", para grande escândalo do Gonçalinho, um puto beto que logo se apressou a chamar a chefe para esta testemunhar a minha enorme falha.
Onde andará ele? Pela pinta que tinha, deve ser estilista. Ou cabeleireiro.
Caro embaixador,
o mais engraçado, no hino, é que tentam cantá-lo num tom que foi escolhido para instrumentos (de banda), ou seja as vozes não chegam lá.
A versão em dó maior, para vozes, escolhida no tempo de Salazar e publicada no diário de governo nunca é usada. Quanto à história dos bretões tanto quanto sei não é verídica.
Um abraço e parabéns pelos seus textos que gosto muito de ler
José Sacramento
isso é que é ir às origens!
se bem me lembro, existia esse hino completo num livro da 4ª classe antigo!
Confirmo que no meu livro da 4ª classe havia a versão completa do Hino Nacional com a indicação dos autores da letra e da música.
Eu não, mas, o meu pai conhecia-as e cantava-as.
Francisco F. Teixeira
Confirmo
Senhor Embaixador Seixas da Costa,
Que me recorde, o hino só foi tocado em Bergen, na recessão à comunidade portuguesa, tendo-se utilizado a versão costumeira.
Cumprimentos.
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