Os socialistas apresentaram as ideias centrais do seu programa eleitoral. Há quem acuse o texto de ter uma preocupação tão obsessiva em ser realista que, porventura, alguns o verão como pouco mobilizador.
Nos seus detratores, para além dos sons normais da polémica, nota-se alguma dificuldade em colar ao texto um rótulo de vendedor de uma irresponsável ilusão.
Um dos fatores descredibilizantes da nossa vida política prende-se com o facto dos programas eleitorais terem quase sempre pouco a ver com a prática dos partidos, quando chegados ao poder. Chamemos as coisas pelos nomes que têm. Os portugueses - não só os portugueses - parece aceitarem, sem grande escândalo, que os políticos têm uma espécie de licença para mentir. E, em lugar de os punirem fortemente nas eleições seguintes, muitos acabam por aceitar isso como um "fact of life", como se estivesse na sua inescapável natureza serem, em geral, uns relapsos e incuráveis pantomimeiros. É como se, ao votar neles, os insultassem: "eu sei que este tipo é um mentiroso, mas tudo bem!". O grau de "respeito" que daqui decorre para a imagem da classe política parece-me óbvio.
Romper com este ciclo de ilusão desencantada é um dever de quem quer estar na política como uma pessoa de bem. E ainda há muitas pessoas de bem na política, se bem que haja outras que - tira-se-lhes "pela pinta", basta olhar-lhes para a cara! - se percebe logo "ao que andam". Estar na política como pessoa de bem obriga a cumprir o que se prometeu, a não se enredar na desculpa estafada de que a realidade trouxe surpresas e de que, afinal, as coisas não eram aquilo que pareciam. Um político que quer ser uma pessoa de bem, se acaso não pode pontualmente cumprir algo a que se comprometeu, pede desculpa, explica isso ao país, não tenta "jongleries" verbais, meias-verdades que querem fazer passar os outros por parvos. A humildade é um sinal de caráter.
Nas eleições legislativas que aí vêm, para além dos partidos e dos seus programas, estaremos a escolher a pessoa que vai dirigir o futuro Governo. Dir-me-ão que não é bem assim, que são os deputados que iremos selecionar. A mim, contudo, importa-me essencialmente a cara daquele a quem eu posso pedir contas pelo voto que lhe dei. E, neste jogo de caras, de credibilidade, eu só estarei ao lado de uma pessoa de bem, de quem tenha um passado político e cívico cristalino e intocável, de alguém a quem nunca tenha visto fazer o contrário daquilo que prometeu.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
11 comentários:
Caríssimo Chico
Este é um texto que eu gostaria de assinar; mas como tal não é possível, aplaudo-o de mãos ambas.
E não é possível porque já o assinaste, já o deste à publicação e já o JN o ofereceu aos seus leitores.
Além disso, nunca seria capaz de o escrever porque só tu o poderias. E fizeste.
Por isso muito obrigado pelo que me (nos, ainda que não tenha procuração para o plural dás. E pela lição de vida. E pelos homens de bem - e ainda os há, felizmente, na política.
Abç
Sendo apanágio há "long time" no Henrique Ferreira, eis que nos brinda, com mais do mesmo: uma no cravo, outra na ferradura.
Já não há pessoas de bem na política pela simples razão de que teriam que se apoiar e prebendar pessoas de mal, o que nunca fariam!
E depois pedimos contas onde? No próximo voto? Como? Ou será aqui no Blog?
V.Exª, desculpar-me-á, ao fim desta telenovela, onde param as ideias de António Costa? Não tem rasgos inteligentes próprios de um lider! Podem até santificá-lo, mas o Homem não tem mesmo nada para dar. Mais parece um saltibanco de caça opiniões.Temo que percamos o pouco recuperado.
Uma coisa é certa, mesmo na dita crise,somos o maior comprador de automóveis. Com tantas benesses que ACosta promete dar o nosso parque Auto ficará novinho em folha.
Recordo aqui alguns números: em 2008 uma pensão era de 214,82€ e em 2015 de 244,61€, ou seja a pensão subiu 29€ em 7 anos.Pior foi quando ACosta foi ministro a pensão não subiu em 2 anos.
Por mim,estou bem o pior são os outros.
Cumps.
Um homem de "bem"......:
"Este programa tem aumento de despesa, mas também tem redução de despesa. Tem diminuição de receita, mas também tem aumento de receita."
Costa
Post muito educativo, Embaixador, talvez um tudo nada paternalista, eu diria .... ? A retórica sobre o "bom político", as suas qualidades, etc, é super consensual, ninguém tem dúvidas. Já reconhecer essas qualidades, ou a ausência delas, pela pinta dos candidatos, suscita-me as maiores dúvidas. Como quem feio ama, bonito lhe parece, os políticos da nossa família serão sempre os mais "pintosos". E, como todos sabemos, há cada malandro boa pinta ...
Já encontrou esse político?
Eu não, mas gostava de encontrar.
Cumprimentos.
Irene Alves
nota-se que a coligação está atrapalhada e com receios, a técnica é tentar desfazer o programa ps dizendo que tem ideias perigosas, que se for posto em prática tudo volta para trás, que não há outra via senão a do actual governo, etc. enfim, meter medo aos eleitores (tentar meter medo!)
Senhor Embaixador : E se em vez de definir em traços largos o perfil do "homem político com a cara que convém", o homem virtuoso, em suma, nos questionássemos primeiro sobre a virtude, que Maquiavel, criador da ciência política moderna, já há muito declarou que não existia. Ele dizia que existe , claro, uma virtude que se aparenta ao poder, à força da sedução, à eficácia, à autoridade, mas a virtude política não existe.
Quando passo em revista um certo numero de homens políticos que conheci, e que o Senhor conheceu melhor que eu sob outros aspectos, e quando penso na maneira como se apresentaram ao sufrágio universal e como agiram depois, pergunto a mim mesmo se na realidade não seria melhor e mais honesto de nos questionarmos se o poder se pode exercer com honestidade e sinceridade.
Ao comentador das 09,39, que está be., Pior são os outro. Pois digo-lhe que os outros (este povo) não se enganará duas vezes. coelhos e o relvas dótor e etc. jamais! Vivó COSTA!!. É homem sério, inteligente e competente. A direita vai de vez, e finalmente ser varrida.
"Não tem rasgos inteligentes próprios de um lider"
.... temos um dois em um, um cromo e o um cego...
diga-la prefere o coelhinho?
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