segunda-feira, outubro 20, 2014

Zemmour


Gosto de "malditos", confesso. Quando vivia por França, não perdia um "On n'est pas couché" onde Eric Zemmour, com um género físico de "fraca figura" comparável a Aznavour, seduzia pela sua inteligência "facho", politicamente muito incorreta, com uma vivacidade e uma cultura excecionais. Depois do seu forçado e estúpido afastamento do programa da France 2, segui-o para o Zemmour/Naulleau e lia as suas crónicas no Figaro Dimanche. E vou tentando acompanhar os livros que publica.
 
Zemmour é um jornalista e escritor desencantado com o manifesto declínio do seu país. Com pena fácil e verbo ácido, esconde por detrás do sorriso (é especialmente perigoso quando começa a mover a cabeça com ar de assentimento) uma atitude de aguda agressividade face àquilo que entende que está a descaraterizar a França contemporânea - as culturas estrangeiras, as políticas migratórias, as atitudes de permissividade multicultural que entende por perversas por parte da esquerda, mas também de alguma direita. Tem coragem para ser impopular, o que é sempre raro. Na polarização política francesa, é visto como um mero "compagnon de route" de Marine Le Pen. O que é muito injusto para ele e, a contrario, elogioso para a líder da extrema direita. Dele saiu agora o livro "Le suicide français". Não tenciono perder.
 
Há muitos anos que sigo a regra de que, verdadeiramente, apenas é importante ler aqueles com quem sabemos, de ciência certa, que não vamos concordar. Faço isso tanto com livros como com artigos e, em especial, com blogues: salvo por nota de atenção de um amigo para um texto específico, não tenho por hábito visitar "sites" ou blogues escritos por gente de esquerda, não tenho mesmo nenhum nos meus "favoritos". Como dizia há muitos anos, com rubra soberba, o meu querido amigo António Alves Martins, "a esquerda somos sempre nós", os outros que dela se reclamam são meras "aproximações"... Considero assim que rever as ideias dos que, à partida, concordam no essencial connosco é algo de redundante, um ato de mera preguiça mental, de quem se contenta com a imagem no espelho. Como na arte da guerra, o importante é conhecer bem o "inimigo". O resto, como se aprendia em Mafra, serão sempre são as NT (para quem saiba o que isto significa) ...

16 comentários:

Anónimo disse...

Este senhor Zemmour integra no seu pensamento e nos seus textos um conjunto de teses de extrema direita que agradam sobremaneira à Sra Le Pen e a outros setores mesmo da direita dita mais liberal.
Zemmour foi convidado de "honra" no programa "on est pas couché" da semana passada, ou da semana anterior, para falar, precisamente, deste seu livro e o jornalista que o entrevistava pôs a nu uma série de aberrações que estão a léguas de distancia de um minimo de honestidade intelectual.
A Senhora Le Pen veio credibilizar as teorias de seu pai a quem já pouca gente dava crédito pelo seu discurso caricato; Zemmour, e outros teóricos que pretendem passar por gente séria, vomitam ódios doutros tempos que só podem ter expressão em periodos de crise.
Não gaste dinheiro no livro do Zemmour; acrescente a soma no próximo gesto de solidariedade em causas nobres!
José Barros

JorgeF disse...

O próprio LePen pai, ouvi-o ontem ou anteontem na tv, referia a comunhão de pensamento ("de sentimentos", precisava) com o Zemmour.
Não estranho a atracção por "malditos",eu próprio não sou imune a ela, em certos casos, mas, por mais brilhantismo que Zemmour possa ter,para mim também há limites.

Joaquim de Freitas disse...

Não me admira nada que aprecie Zemour, porque é um "franc-tireur"! Tenho quase todos os livros de Zemour e mesmo um romance " Petit Frère".

Zemour e como ele muitos escritores impossíveis a classificar, dizem hoje muitas verdades porque os tempos de crise com todos os seus desequilíbrios na sociedade, permitem a quase toda a gente de ter razão naquilo que dizem. Mesmo Le Pen. Porque "a crítica é fácil mas a arte é difícil", não é assim? , sobretudo quando a esquerda desvia para o liberalismo, onde será menos boa que a direita que sempre o praticou.

Sem duvida um grande jornalista e um excelente escritor. Choca sim senhor, porque ousa dizer coisas que os outros escondem. Reaccionário sem dúvida. Judeu, amoroso da França, quando benze os Franceses de terem invadido o pais dos seus antepassados porque lhes trouxeram a cultura. Um pouco excessivo quando diz que " Não se negocia com a cultura francesa. Submetemo-nos" ! Diabo, existem outras culturas, diferentes. Mas Baudelaire, claro, só em França.

Não tem papas na linga! Por isso aprecio as mesmas emissões.

Tive a oportunidade de lhe escrever no fim duma emissão sobre a emigração. Talvez porque este tema me toca pessoalmente , não pude compreender as suas palavras , quando diz que é preciso parar com a imigração para resolver a crise identitária e social que desfigura a França, segundo ele.

Eu considero que a França beneficiou muito da imigração, quanto mais não seja para a reconstrução do pais. Basta recordar a aplicação com a qual os consulados em Portugal e no mundo procuravam mão de obra nos anos 50 e 60 . E se hoje a demografia é positiva, ao contrário da Alemanha, (estive em Berlim este Verão, onde os Turcos constituem a grande massa de estrangeiros) , em França, a maioria dos Africanos , negros e árabes, são o resultado do Império colonial.

A nostalgia da grandeza da França, sentida por Zemour, corresponde a uma forma de egoísmo na maneira como a exprime. Muitos estrangeiros contribuiram à grandeza da França; E não foi só Marie Curie.

Mas vale a pena ler um reaccionário inteligente e que escreve bem.

ARD disse...

Já vi:uma espécie de Alberto Gonçalves (ou lá como se chama um "sociólogo" que comete uma coluna no DN. Se tiver a mesma graça e o mesmo talento literário não lhe auguro um futuro radioso. "Fachos" em França, tirando dois ou três nos anos trinta e quarenta, não têm primado pela qualidade (por nenhuma).

Anónimo disse...

A Propósito:

O ano passado integrei uma excursão com gente da terceira idade e escrevi este texto que volto a publicar.
Era mais gente do sexo feminino que masculino que integrava a excursão, o que confirma que os homens estão mais propensos a deixar as mulheres viuvas do que elas os maridos.
Integrei esta excursão de gente Francesa muito porreira mas a certo momento a discussão enveredou sobre emigração. A opinião quase unânime era de que a França deixava entrar toda a maralha e de que "Eles" têm todos os direitos de que usam e abusam. Estamos fartos desta escumalha, já chega, que fiquem lá na terra deles!
Ora quem me conhece sabe bem que eu não sou nenhum finjidor e que estas conversas me fazem ferver por dentro.
A minha cara, mesmo barbeada, não me denuncia como estrangeiro mas já a minha prenuncia, quando quero impulsionar o sotaque de portuga, faz de mim um estrangeiro de excelência. Foi desta forma que resolvi entrar na discussão das senhoras e dar a minha opinião:
- Eu estou de acordo com vocês, minhas caras senhoras. Se a França tivesse fechado as suas fronteiras como deve ser, desde há umas dezenas de anos a esta parte, não teriamos aqui homens como o Sarkozy, como o Balladur, como o Copé, como Cahuzac... como Cahuzac não, como Cahuzac não, o Cahuzac é um girondino de velhas gerações, mas como o Balkany, como o Valls, como a Rachida Dati, pra vocês não me acusarem de "misogynie", e como uma quantidade de tipos que andam por esses partidos à esquerda e à direita a teorizarem o ostracismo...
As velhinhas ficaram sem pio e não apreciaram mesmo nada a minha ironia. Foi um silencio de morte!
Mas que se lixe o silencio. Às vezes mais vale o silencio do que estar a ouvir bacoradas...

Alcipe disse...

Dormir com o inimigo em demasia pode provocar doenças sexualmente transmissíveis. Cuidado, amigo!

a) Alcipe

Carlos Fonseca disse...

De acordo com a sua teoria eu nem me devia aproximar do seu blogue, porque, salvo uma ou outra excepção, que confirma a regra, gosto do que escreve.

Para agravar a "coisa", não só o tenho nos favoritos, mas também o aconselho aos amigos.

E agora? Fazer mais o quê?

Francisco Seixas da Costa disse...

Diz lá, ARD: Serão Drieu de la Rochelle, Brasillach e Céline? Ou "abres" ao Saint-Exupéry e mesmo ao execrável Bardèche?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Alcipe: em não durmo... como sabes!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Carlos Fonseca: isso só prova a sua modéstia, ao contrário da minha soberba...

patricio branco disse...

pois não conhecia...

Helena Sacadura Cabral disse...

Francisco
Deliciei-me com o post e os comentários.
Estou com José Barros no que respeita o dispêndio.
Estou com Joaquim de Freitas quando diz que vale a pena ler um reaccionário inteligente que escreve bem.
Estou de acordo com o alerta do Alcipe porque para quem não dorme, se aconselha o preservativo.
E concluo que se pode sempre ler o livro emprestado...
Agora, a sério, o homem irrita-me, justamente porque é inteligente. Contradições, não é? É a vida...

Isabel Seixas disse...

vale o que vale
sem duvida que o inimigo é estimulante...A corda...

Agora
Para quem não dorme talvez funcione melhor

uma canção de embalar...
Leite morno
rezar o terço
banho assistido
colo

Anónimo disse...

Caro embaixador

Zemmour nao é parte da cura, é parte do problema. Nao e com Zemmour que a França resolvera os seus problemas. O resto nao importa.

cumprimentos

Anónimo disse...

Não lhes compro livros nem alimento financeiramente o inimigo, para propaganda já me basta a que me querem fazer engolir em dezenas de programas televisivos e debates sem contraditório.

Quando quero ler as NT, ou antes, as minhas, vejo-me à rasca para as encontrar.

Anónimo disse...

Fui ouvir o homem e irritou-me sobremaneira o fogo cerrado dos comentários e perguntas que o interrompiam constantemente. Quanto ao que ele diz, só pode comentar quem o leu (ou ouviu falando descansadamente). Naturalmente que não se pode avaliar o seu pensamento pelo "ataques" dos parceiros de debate.

De um modo geral, em muita coisa, ele diz o que o o homem de rua sente. Como é de direita, está mal. Se ele dissesse o que o homem de rua de esquerda pensa, já seria um iluminado.

Quanto ao Alberto Gonçalves (aqui mencionado), deixem-no lá em paz. Um tipo que até embirra com as lâmpadas economizadoras...

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