A política portuguesa é um grande palco. E, às vezes, exibem-se por lá umas grandes "peças".
A memória pública é curta e, de certo modo, já olha para as iniciativas políticas com uma desconfiança que é proporcional ao juízo que faz sobre a sua previsível não implementação. Hoje anuncia-se uma coisa, ela passa nos telejornais, enche umas páginas da imprensa, suscita posições partidárias (do CDS aos Verdes, porque somos sempre muito democratas e ouvimos todas as vozes, das mais histriónicas às mais histéricas), justifica-as em alguns artigos. Passam algumas semanas, já ninguém se lembra (nem se lembra de perguntar "que é feito?"), tudo morre no esquecimento, esmagado por outros eventos, por outros anúncios, a maior parte dos quais com um destino idêntico.
Recordo-me de um responsável pela assessoria mediática de um primeiro ministro que se obcecava em ter, todos os dias, um "número" preparado, em qualquer área do governo. E o país lá se ia entretendo em ter, com essa regularidade, um "número" preparado.
Há um ano e tal, depois de uma ansiedade forjada que roçou várias vezes o ridículo, o governo apresentou, embora com pompa algo discreta e com algum esgar sectorial maldoso, o "Guião para a reforma do Estado". Como habitualmente, a montanha tinha parido um rato e o executivo deixara-se cair na ratoeira. O texto, aumentado na apresentação gráfica para dar um ar de volume prestigiante, era um chorrilho de banalidades, de lugares comuns e obviedades, uma "rede" onde cabia tudo o que mexesse ou fosse suscetível de mexer na administração pública. Pelo meio, anunciavam-se mesmo algumas medidas. Que é delas?
Como justificação para não se avançar, o maioria balbucia, lamentada, que "não há consenso". Ah! não?! Mas é apenas minha impressão ou o governo dispõe. na Assembleia da República, de uma sólida maioria? Se essa maioria, sem a menor busca de consenso, tem sido capaz de fazer aprovar, sob o clamor indignado do país, um conjunto celerado de medidas, porque não utiliza esse mesmo poder para aprovar aquilo que está no "Guião para a reforma do Estado"?
Desde 2011, temos vivido em Portugal uma tragicomédia. Com maus atores. E temos pago caro para assistir. Começa a ser tempo de mudar o repertório. E, de caminho, o elenco. Ao contrário do título daquele filme com o Jack Nicholson, pior é impossível.
7 comentários:
De facto. O País está colado com cuspo e, a propósito de reforma do Estado, tenho saudades do Simplex.
JPGarcia
Boa, Embaixador, gostei. Gosto mais deste seu estilo do que quando se põe com punhos de renda.
Que a voz não lhe doa.
Uma boa semana!
Desde 2011? É preciso ter lata!
João Vieira
Ou parece que estamos num ninho de cucos… Mas, mas se me permite, há bem mais tempo do que 2011…
antonio pa
V.Exª. não acha que as Banalidades
vão continuar! O cenário não mudou, conforme a amostra.
Apostei em Sócrates que à primeira, logo sucumbiu ás mãos do Mapa Judiciário. Honra seja feita à actual ministra, que corrigidos os erros, põe em prática uma reforma há muito necessária.Fora dos grandes centros não há muitos casos. As pessoas são mais ordeiras. Além do mais nem sequer têm posses para pagar casos.
Cumps.
Esse guião faz-me pensar nos slogans publicitários. Perante a corrupção, perante a imoralidade de certas personagens politicas , as pessoas têm tendência a ter duas atitudes: porque é que iremos votar pois que dentro de quatro anos , teremos simplesmente mudado a corrupção de lugar; ou ainda: é preciso correr com a vassoura estes malandrins afim de eliminar uma vez para sempre os incompetentes da vida publica.
Um dos grandes sinais da imaturidade da nossa época, é esta tendência a deixar-se guiar (de guião !) pelos slogans. Os homens reivindicaram desde há muito o direito de expressão mas, ao mesmo tempo, parece que renunciaram à liberdade de pensar.
Os slogans servem para galvanizar as massas. Substituem-se frequentemente aos argumentos e às demonstrações. O que é o sinal duma grave decadência intelectual.
Os slogans eficazes são os grandes inimigos do bom senso e da verdade. Assim, os slogans das campanhas eleitorais ( municipais ou outras) não visam explicar as realidades politicas. Visam sim a criar uma ilusão.
Quem se recorda dos slogans de campanha de Chirac, Mitterrand, Sarkozy e Hollande?
Todos fizeram pshittttttt !
Hoje dia de peregrinação á NªSra reza-se duas avémarias ao espirito santo e torna-se a votar nos mesmos.
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