Como quase sempre acontece nas questões políticas com dimensão externa, alguma opinião nacional acordou tardiamente para a questão da adesão da Guiné Equatorial à CPLP. E, como também é hábito, fá-lo em registo de algum escândalo, sempre fácil de assumir por quem não tem responsabilidades de Estado mas que gosta de "ficar bem" no mercado da simpatia e das ideias corretas.
Valeria a pena, contudo, deixar assinalados três factos simples, à luz do que se lê pela imprensa - que é tudo quanto eu próprio sei sobre o assunto.
O primeiro facto é que, durante a anterior cimeira ministerial de Luanda, foi aprovado um "road map" de medidas que a Guiné Equatorial deveria levar a cabo, antes de poder ser considerada a sua possível adesão. Portugal terá sido mesmo o país que exigiu a introdução nessa lista de condicionalidades de uma moratória na aplicação da pena de morte. Se algum "pecado" existe, ele assenta no momento em que o "road map" foi fixado.
O segundo facto é que, no plano formal, a Guiné Equatorial estará a cumprir aquilo que lhe foi exigido, pelo que, a confirmar-se essa evidência, se torna agora difícil travar o processo da sua adesão.
Finalmente, convém ter presente que Portugal não é "dono" da CPLP. Nesta matéria, desde há muito que está praticamente isolado na sua resistência a nela aceitar a Guiné Equatorial. Ora a CPLP, para quem o não tenha percebido, é uma organização que agrupa esmagadoramente países "do Sul", onde predomina uma cultura de Direitos Humanos mais compreensiva e menos exigente que na generalidade dos países do Norte - com o Brasil a ser disso um exemplo claro.
E, já agora!, o mínimo de bom senso deveria fazer refletir sobre o que aconteceria à CPLP se Portugal, que a "federa" na sua particular qualidade de antigo poder colonial, utilizasse o seu direito de veto para se opor à vontade conjugada dos restantes sete membros da organização.
Em tempo: era bem mais "popular" escrever aqui uma opinião diferente desta, não era?
E, já agora!, o mínimo de bom senso deveria fazer refletir sobre o que aconteceria à CPLP se Portugal, que a "federa" na sua particular qualidade de antigo poder colonial, utilizasse o seu direito de veto para se opor à vontade conjugada dos restantes sete membros da organização.
Em tempo: era bem mais "popular" escrever aqui uma opinião diferente desta, não era?
17 comentários:
"... onde predomina uma cultura de Direitos Humanos mais compreensiva e menos exigente que na generalidade dos países do Norte..."
Ui ! Eufemismo para mata e esfola ?
JC
Era mais popular mas também era melhor, sobretudo para os oprimidos da Guiné Equatorial.
nao nao era
assim mesmo é que é
bem haja
Claro que a opinião é incómoda, mas não deixa de ser uma análise lúcida da situação. O Senhor embaixador só não disse e percebe-se porquê, porque razão se deveria Portugal opor com unhas e dente à entrada da Guiné Equatorial para a CPLP. com fundamento nos direitos humanos ou da democracia. Ora a CPLP tem como membro Angola, que é tudo menos uma democracia. E Portugal passa os dias a bajular a oligarquia Angolana. Será que disse, aquilo que não pode ser dito por um embaixador?
Se os $ e € forem "lavados" no UK, na Suiça, no Luxemburgo, nos USA, em..... tudo bem mas cá nunca que nós não somos dessas coisas (nem parece que as saibamos fazer).Também sobre os timings andamos sempre com os relógios fora de horas.
Concordo com o seu comentário.
Alexandre
Tem toda razão no que diz, mas é uma pena enorme que assim seja.
claro que é muito difícil para Portugal descalçar a bota, há que engolir sapos e cobras, mas será que o actual nosso governo dá importância a isso, o entrar um país que não tem respeito pelos ddhh? creio que não, países petrolíferos que têm dinheiro para comprar bancos em falência são benvindos, não interessa o resto, e as sociedades de advogados portuguesas, algumas, também esfregam as mãos de satisfeitas.
neste cenário, a carta do mne a xanana Gusmão parece um pouco falsa, para inglês ver, ou posso dizer manchada de alguma hipocrisia, pobre Gusmão, ser ele o hospedeiro a dizer que não, não senhor, não entra por isto e aquilo...
quanto ao brasil, não há nenhum problema em a ge entrar, os ddhh não são também assunto de lhes dar dor de cabeça, veja se o que se passa em vários países da america latina, Venezuela, etc.
saudemos pois a entrada da guiné equatorial que até injecta dinheiro em bancos portugueses em bancos deficitários, aplausos portanto...
Um Post em que o seu autor se mostra, uma vez mais, prisioneiro da sua ex-actividade/profissão no MNE, incapaz de improvisar e contribuir com novas propostas e sugestões (ou, se calhar, de alguém que, afinal, mantém, secretamente, o desejo de se apresentar a candidato a PR e deste modo não querer deixar de se comprometer numa posição que, um dia, lhe poderia ser, quem sabe, eleitoralmente, negativa).
Um Post “politicamente correcto”, á boa maneira de quem conhece Seixas da Costa.
Esqueceu-se, no prevalecente caso, de abordar a posição do Banif (e de Amado) em toda esta questão.
António Mendes da Silva
Caro António Mendes da Silva (belo nome!): cada um delira como quer. Eu assumo o que penso. Sempre.
a violencia na guine equatorial nao tem limites
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=3717539
onde predomina uma cultura de Direitos Humanos mais compreensiva e menos exigente.. Aí é que está o gato! É a diferença entre deixar apodrecer os opositores nos calabouços ou deitá-los aos crocodilos?
Francisco
Concordo plenamente com a sua análise. Se me permite assino por baixo.
Frederico Campos
Há imenso tempo que não digo aqui nada mas hoje não resisto .
Tudo o que está no post é de um pragmatismo total e correctíssimo no seu equacionamento e portanto incomoda os "poetas" que nunca tiveram ou nunca quiseram tomar decisões difíceis (e porventura nem fáceis)na vida e que abundam pelos cafés e caixas de comentários da blogosfera .
"As coisas são o que são" dizía o nosso amigo Vítor Cunha Rego .
E ainda : "dizem estas banalidades com ar pomposo e fica-lhes a boca no mesmo sítio" , como diz um amigo meu .
Obrigado por pôr os pontos nos "iis" .
RuiMG
Cada um delira como pode!!!
Assinalo a constante preocupação com os comentários serem "populares" ou "impopulares". Cada um é como é mas, caramba, ou se pensa sempre pela própria cabeça, como também é uma preocupação do autor em sublinhar, ou se pensa com a cabeça no "eleitor" que, aliás, repetidamente dá mais crédito aos primeiros.
João Vieira
Caro Senhor Embaixador:
Tenho aprendido muito consigo na difícil arte de separar o desejável (impossível) do possível (normalmente menos desejável).
Afinal, a arte de que é feita a acção diplomática (de que o senhor é um exímio praticante).
Temos «em mãos» um caso muito mais grave e de consequências eventualmente globais: a Ucrânia.
O desejável seria o que os (bons) manifestantes da Praça Maiden (não os oportunistas da violência) queriam.
Mas o possível não deverá ter em conta a realidade?
A dependência energética da Ucrânia (e não só) em relação à Rússia e a realidade geoestratégica?
E o facto de, quer os EUA, quer a UE não estarem disponíveis para arcarem com o pesado fardo da ajuda a uma Ucrânia falida?
Voltando ao assunto do Post: apesar da sua razoável e pragmática posição, o que significa CPLP?
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Um pormenor no acrónimo (a alterar, eventualmente)?
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