segunda-feira, março 31, 2014

Coisas de casal

Tinhamos convidado o casal para jantar. Ele era bastante mais velho do que ela, mas ambos eram muitos divertidos. Tinham feito um simpático jantar quando chegámos àquele posto diplomático, que nos permitiu conhecer, numa só ocasião, uma imensidão de gente interessante. Tinham uma moradia deslumbrante e recordarei para sempre as dezenas de convidados à volta de uma piscina interior iluminada, com uma vista magnífica sobre a cidade. Eram gente desafogada na vida, ambos profissionais com carreiras estabilizadas, cada um vindo de anteriores casamentos.

Para o jantar de retribuição que organizámos convidámos alguns amigos que sabíamos comuns e outros que com eles eram compatíveis. Mas a ocasião era em honra desse casal. Por isso, não foi sem alguma insatisfação que, na antevéspera, recebemos a indicação de que ele viria sozinho ao jantar. Mas, como há muito aprendi, "o que não tem remédio remediado está".

À hora do jantar, o convidado de honra não aparecia. Não era o estilo habitual dele, homem rigoroso, educado e muito atento a pormenores. Chegou, finalmente, com mais de meia hora de atraso.

- Então, já sei que a sua mulher não pôde vir, lancei eu para início de conversa, quando o fui receber à porta.

- Pois é! Aliás, é precisamente por causa dela que chego atrasado, pelo que lhe peço desculpa.

E, antes que eu lhe dissesse que isso não tinha a menor importância, "deixou cair", em tom de nota lateral, secundária:

- É que me atrasei a assinar os papéis de divórcio, papeladas, você sabe como é...

Não sei, mas imagino. 

10 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Francisco
Parti-me a rir com este seu post.
Numa situação algo parecida à que descreve, de retribuição de um jantar, apareceram de facto o marido e a mulher. Só que, como havia decorrido algum tempo, a "esposa" que nos apareceu não era a que havíamos convidado. Explicação: em seis meses houvera um divórcio e um casamento...

Anónimo disse...

Nestas "ocasiões", elas, em geral, "comportam-se" como excelentes donas de casa: tomam sempre "conta" da casa! Pela descrição da mansão e do consorte a suposição é óbvia...

Isabel Seixas disse...

"À hora do jantar, ...
"
(...)
- a assinar os papéis de divórcio,(...)

Que moderno.

Anónimo disse...

Apesar de estarmos no secúlo XXI,
as senhores, muito independentes e determinadas, continuam a adoptar o (s) apelido (s) do marido! Embora ás vezes usem o de solteira... Só um pouco de veneno, para apimentar!

Quando se convida um casal, normalmente é "Senhor tal e Senhora.

O protocolo resolve sempre as situações mais embaraçosas.

Também eu conheço algumas!



Anónimo disse...

Curiosamente, o seu post lembrou-me duas coisas;
"Angústia para o Jantar" de Sttau Monteiro e, como se dizia na minha aldeia, "Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe"...
Meus cumprimentos,
MT

opjj disse...

DIVÓRCIO é a palavra que mais me incomoda ouvir. Penso que antes e depois há muito sofrimento.Há sempre perdas.
Cumps.

patricio branco disse...

haveria tambem que retribuir o jantar noutra ocasião à ex mulher, vendo bem o convite inicial foi dos 2, mas o jantar destinava se aos 2, se ela não foi...

Anónimo disse...

Para quê tantos punhos de renda? Para quê tantos salamaleques sociais? Como dizia na EPAM um militar de carreira, puro e duro, PANELEIRICES DA ORDEM!!!
Assim vai o mundo (se bem se lembram nos cinemas dos anos 60/70...) e muita da classe média portuguesa...

Pedro Lemos disse...

O amigo está no Jornal de Notícias:

"Seixas da Costa considera resultado da Frente Nacional altamente preocupante" http://dlvr.it/5HJ10q

Com uma abstenção neste nível (36%) qualquer legitimidade fica comprometida (é por isso que aprecio do voto facultativo). Ajustando mediante um "desvio-padrão", o crescimento seria menor, mesmo assim preocupante, ainda mais se analisado em consonância com esse fenômeno de "endireitização" da Europa nos últimos tempos.

Anónimo disse...

Passados 40 anos, por vezes, cada vez menos, ainda se vê um ou outro com educação...será das alterações climáticas?

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...