domingo, março 23, 2014

Adolfo Suárez (1932-2014)

Morreu Adolfo Suárez. A Espanha ficou a dever-lhe uma importante fatia da sabedoria com que foi pilotada a transição do franquismo para a democracia. Como muitos personagens "de charneira", Suárez nunca se tornaria numa figura consensual no seu país. O seu mandato não foi pacífico, alguma direita e setores militares contribuíram para o fim do seu período como "presidente del gobierno", parte substancial da esquerda nunca o apreciou, não obstante ter sido ele quem correu o risco, então apreciável, de decidir legalizar o Partido Comunista, colocando assim termo a um tabu que dividia as "duas Espanhas". Por mim, recordarei sempre a postura de quem não cedeu, naqueles segundos dramáticos da "tejerada", à berraria do golpismo: a sua atitude de apoio a Gutierrez Mellado, com risco da própria vida, desenharam-lhe um lugar na História da Espanha democrática.

14 comentários:

Anónimo disse...

A transição para a democracia em Espanha muito lhe deve e não devemos esquecer-nos do papel fundamental do Rei D. Juram Carlos que,sozinho, neutralizou o golpe de estado anti-democrático de Tejero.
LBA

Helena Sacadura Cabral disse...

Exemplar este seu texto, meu querido amigo!
É essa sua "capacidade" que me faz ter por si um enorme respeito e admiração.

Anónimo disse...

Um dia estando no aeroporto em trabalho a esperar o quese chama "uma entidade" verifiquei uma enorme agitação na sala onde me encontrava, depois de ver estacionar um Falcon com bandeira espanhola. De repente abre-se a porta da dita sala e um rol de pessoas avança comandados por uma personagem que vendo-me a mim em primeiro lugar do que outras pessoas, avança para mim e diz, enquanto me aperta a mão calorosamente: ólá, como éstás?
E assim fiquei a conhecer pessoalmente Adolfo Suárez, que logo foi rodeado pelo grupo dos outros.
Gostei muito porque fui e sou um admirador de Suáréz.
João Vieira

São disse...

Concordo com tudo que aqui diz.

Paz a Suarez!

Anónimo disse...

Uma transição exemplar nos antípodas da portuguesa.

Os actores tinham mais sentido de Estado.

Alexandre



Mônica disse...

Embaixador Francisco
Como deve ter sido bacana este senhor.!
Eu só sei de cor sobre os reis da Espanha.
A mamãe gosta muito de reis e rainhas .
E a gente aprendeu com ela a admira los.
com carinho Monica

patricio branco disse...

há 3 ou 4 anos o rei visitou Adolfo suarez, talvez um seu aniversário ou outra data. passearam de braço dado no jardim, não sei se falaram, a s já estava com a doença cognitiva que o atingiu, mas havia amizade na cena, via se.
estes personagens de transição do pior para o melhor devem ser vistas com sentidos positicvos, há outros exemplos.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Patrício Branco: Veja aqui

http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2010/03/espanha.html e aqui http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2011/02/23-de-fevereiro.html

EGR disse...

Senhor Embaixador: sobre a transição democratica em Espanha, recordo sempre ter lido, num jornal espanhol, uma entrevista de Marcelino Oreja- suponho que então era Ministro das Relações Exteriores-o qual perguntado sobre as possíveis semelhanças entre as transições em Portugal e e em Espanha respondeu:"não se esqueça que em Espanha os touros morrem na arena"
Pareceu-me que a frase era bem ilustrativa e que explicava as dificuldades especificas do processo espanhol.
Daí que Adolfo Suarez, enquanto figura central no mesmo processo,me tenha desde essa época, admiração e respeito.

patricio branco disse...

obrigado, vou ver...

Anónimo disse...

O que disse Alexandre:

"Uma transição exemplar nos antípodas da portuguesa.
Os actores tinham mais sentido de Estado."

O que digo eu:

Efetivamente os atores (portugueses) tinham tanto sentido de Estado que tiveram que ser corridos 'manu militari'...
E. Dias

António Pedro Pereira disse...

Caro Senhor Embaixador:
Deixo aqui o comentário que já fiz noutro blog a propósito de um post sobre A. Suarez igualmente exemplar como o seu.
«Em 2001 Adolfo Suarez perdeu a mulher, em 2004 perdeu uma filha.
Para as tratar na doença hipotecou uma casa que tinha em Ávila, sua cidade natal.
Recusou qualquer benesse e não quis receber qualquer reforma pelos anos em que exerceu o poder político.
Vivia da advocacia.
Quantos se podem orgulhar disto?
Há uma grande diferença entre os homens de corpo inteiro e a praga de pigmeus que invadiu a política.
Infelizmente, e para nosso mal, são estes últimos que dominam as instâncias do poder praticamente por todo o mundo (com as honrosas excepções que conhecemos).
E o que me desgosta mais é ver as lutas estúpidas e «pequeninas», motivadas apenas por razões ideológicas (e por falta de inteligência), que as facções da populaça mantêm acesa por todo o lado, também nos blogues: basta ver os comentários.
Como se não houvesse outra dimensão para os homens e para as coisas das nossas vidas, incluindo a política que nos governa.
Afinal, a qualidade das «elites» que nos comandam (nos mais variados níveis) resulta muito da qualidade dos comandados.
Nelsons Mandelas e Adolfos Suarez há poucos porque haverá poucos que os merecem?
Ou porque haverá poucos que os ajudam a florescer mesmo merecendo-os?»

P. S. Para o senhor Alexandre: Como o senhor nos brinda com «profundíssimos» e «inteligentes» comentários, presumo que tenha dificuldade em sentir-se retratado neste meu banal textozito, por isso eu o traduzo: a qualidade dos comandantes é proporcional à dos comandados.

Alcipe disse...

Quem liquidou politicamente Adolfo Suárez foi a direita espanhola, que não estava interessada num centro-direita forte (modelo nossa AD, que Suárez ajudou a formar), antes em recuperar a direita tradicional espanhola, através do PP (o que conseguiu). Da esquerda Suárez foi sempre adversário, mas não inimigo (cf. distinção clássica de Churchill). Legalizou o PC, o que lhe valeu o golpe do Tejero e o rancor eterno da direita espanhola, da velha "España de pandereta". As duas Espanhas, de que falava António Machado...

a) Alcipe

Alcipe disse...

O Marcello Caetano tinha sentido de Regime, não sentido de Estado.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...