Perguntado um dia sobre aquilo que, como primeiro-ministro, mais temia, Harold Macmillan cunhou uma frase que ficou célebre: "Events, dear boy, events!". A doutrina divide-se sobre quem era o interlocutor na ocasião, mas isso não retirou pertinência à frase. De facto, são os acontecimentos, essas explosões da realidade no quotidiano, que marcam a nossa vida, pessoal ou coletiva, e podem determinar mudanças essenciais no seu curso.
Lembrei-me disto há pouco, ao ver as notícias sobre a Ucrânia e o agravamento da tensão internacional. Não sei se é a ingenuidade ou se é o cinismo que me levam a não recear que estejamos na soleira de um conflito bélico internacional. Mas um mínimo de realismo leva-me a pensar que o momento que atravessamos poderá vir a ter consequências significativas na vaga de confiança que vinha a atravessar, nos últimos meses, as economias europeias. E isso não será indiferente para Portugal, que tem vindo a ser um feliz "free ryder" dessa onda positiva, que muito tem contribuído para uma melhoria da conjuntura que "puxa" pela economia do país.
Se acaso tudo se desregular, se a crença na estabilidade europeia for abalada, a fragilidade da nossa recuperação pode vir a ser evidenciada - e isso não são boas notícias para todos nós, para Portugal mas também para os portugueses, aqui divergindo duma luminária política que, em matéria de melhorias, há dias criava uma dualidade patética entre essas duas entidades.
Imagino que o dr. Passos Coelho deve estar preocupado com aqueles acontecimentos e atento aos efeitos que eles podem vir a projetar na nossa vida político-económica interna. É que, se as coisas correrem mesmo mal na economia, a política virá logo atrás. Na hipótese de isso acontecer, de a conjuntura política começar a degradar-se de novo, ele poderá então utilizar, sabe-se lá para quem, a célebre réplica explicativa de James Carville, na campanha de Clinton: "It's the economy, stupid!"
15 comentários:
Comungo das suas preocupações. Oxalá seja só a dúvida!
Putin nunca me inspirou muito.Oxalá seja só as minhas más ideias.
Todos os políticos ocidentais, do presidente Obama, ao mais pequeno de entre eles são hipócritas quando pedem à Rússia um pouco de 'reserva". Um pouco de "reserva" da parte deles nestes últimos meses teria evitado a catástrofe que se anuncia na Ucrânia. O mosaico étnico, teria dificuldade a evitar de se esfarrapar.
O Ocidente respondeu ao chalenge da Rússia exigindo que ela engula a pílula amarga que constitui uma Ucrânia hostil à sua porta, uma Ucrânia que mais cedo ou mais tarde seria integrada na NATO, trazendo a aliança ocidental às fronteiras russas pela primeira vez na história.
Putine pode muito fazer como Kennedy em Cuba : arriscar a guerra para nao engulir a pilula.
Há um sinal significativo recente: A conferência de imprensa de Ianoukovitch foi em Rostov sobre o Don. Sim, a cidade do "Don pacifico", o romance épico de Mikhail Sholokov, um monumento sagrado da literatura russa, que tem como pano de fundo a guerra da Crimeia (1853-86) e descreve a vida dos Cossacos do Don que vivem no vale do Don e sao os defensores tradicionais do povo russo e da sua fé.
Evocar a memoria dos Cossacos na situação actual é altamente significativo - principalmente para aqueles que não estão conscientes da profundeza dos laços que unem a Ucrânia à alma russa.
Para já, há que notar que dois navios russos que vogavam ao largo da Síria, já atravessaram o Bósforo, e outro repleto de electrónica e mísseis sol-ar posicionou-se ao largo de Havana.
O outro ponto interessante é a reacção de Frau Merkel, a quem esta situação nao agrada , dependente do gás russo, e que nao se pronunciou.
Como o Senhor Embaixador, também creio que a guerra não é para esta vez!A Europa nao està em ordem de batalha!
o camarada equivoca-se deve ser falta de gás...
os idos de March estão em Marcha e sem Marx...
Boa noite
A entrevista que o Ministro dos Negócios Alemão deu ao Spiegel, semana passada, permite, em meu entender, acreditar que não vai haver guerra e que a Russia, Alemanha e França estão a "trabalhar" em conjunto para estabilizar a Ucrania.
Ultras ucranianos, de direita e de esquerda, vão tentar destabilizar a Ucrania mas, creio, sem qualquer probabilidade de êxito.
Frederico Campos
mas imaginemos que tudo estava tranquilo, a russia indiferente, a ue assinava o acordo com a ucrania e começava a dar lhe a milionada que ela pretende e necessita, ou quase, pois bem, não sobraria nada para portugal ou grecia, ia tudo para o gigante faminto daquele lado, não,não, talvez seja o melhor cenário para a europa, não carregar com a ucrania, a ucrania só lhe traria problemas económicos e politicos, afinal pertence a outro lado e grupo.
Caro Seixas,
Retirei este pedaço de prosa de um jornal inglês "on-line".
Não está mal observado:
"In a year or two, Western governments will change and new leaders will repair relations with Moscow, recognizing that Russia is too powerful and dangerous, and too crucial to international stability to have as an enemy for long.
Continue reading the main story
“Start Quote
What is so dangerous about this confrontation is that unlike Georgia in 2008, the stakes are so much higher on both sides”
End Quote “”
*Think no further than the impact a new East-West hostility would have on the Iran nuclear talks, the war in Syria, or the precarious uncertainty over North Korea."
Seja como for, acalmem-se os espíritos, que disto não virá mal ao Mundo, muito menos à nossa querida Europa. É cínico? Será! Mas, a Política (externa) é assim mesmo.
Não está certo? Não. Mas, quantas outros acontecimentos não tiveram o silêncio das potências ocidentais? Veja-se a Polónia antes da II Guerra, por exemplo.
A Rússia fará o que quiser da Ucrânia e a UE e os EUA engolirão. Nem mais, nem menos!
Convém é que não "sobre" para os que nada têm, directamente, a ver com esta história.
Não serão palavras simpáticas? Talvez! Mas é a realidade geo-política tal como conhecemos.
Imagine-se uma situação semelhante entre os EUA e o...México. Seria como a outra face da moeda.
Habituemo-nos!
Bom Post. Cheio de boas intenções. Escrito por um grande Funcionário daquela (MNE) casa. Mas, as coisas são como são. E não vão mudar. Para melhor não creio. Para muito pior? Também não estou a ver.
a) Rilvas
Sr. Embaixador, seria interessante duas ou três linhas sobre a questão da Guiné Equatorial. Bem sei que o que escrever sobre o assunto pode depois ser interpretado quando for o novo MNE mas é de uma actualidade ímpar.
É a realpolitik no seu pior. Para que se faça a "festa do sucesso do ajustamento" existem bancos (banif e bcp) que não podem recorrer a nova ajuda estatal. Então que se faz?
Em troca de financiamento para essas entidades bancárias concorda-se com a entrada de uma ditadura numa Comunidade como a CPLP?!
Enfim.. Forte Abraço
Talvez seja bom não esquecer a declaração de ontem do governo Chinês , manifestando a comunhão de ideias com a Rússia no problema da Ucrânia! Também estão de acordo no caso da Síria. E os dois países têm direitos de voto no Conselho de Segurança da ONU. O interesse do Ocidente é de calmar o jogo. A China tem um poder enorme sobre o dólar ( podem pôr os EUA na falência !) e a Rússia sobre a energia da Europa , particularmente na Alemanha, onde há uma cabeça que governa ao melhor dos interesses do pais e não da UE.
Portugal e os outros países da Europa assumiriam os estragos "colaterais" indo também para a falência, arrastados na queda do Euro.
Como vai longe o tempo em que depositávamos uma certa confiança nos governantes para enfrentar eventuais "events"!
Hoje, apetece-me dizer-lhes o que me dizem cá em casa quando me ofereço para ajudar em alturas atarefadas: Tu? tu é melhor estares quieto! Ordem, a que obedeço prontamente, aliás... Como seria diferente se os atuais governantes tivessem a minha atitude...
antonio pa
Caro Anónimo das 9.05: como o cenário de antecipa é uma mera fantasia sua, estou muito à vontade para dizer o que penso sobre a GE, Faço-o no post seguinte.
Felizmente, o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros está atento à situação e não deixará como sempre de defender com firmeza os interesses portugueses, impedindo mais uma vez que saiam prejudicados. A nossa economia e as nossas finanças podem pois estar descansadas.
O anónimo das 11.01 só pode estar a gozar!
Agora, com as telecomunicações modernas, Munique 1938 é pelo telefone.
o don tranquilo,pois um livro onde a guerra civil massacra russos e ucranianos a bem da santa mãe rússia leninista
representam 40% das trocas comerciais europeias
a rússia representa 35% a ucrânia representa representa
bom é só fazer as contas
guiné equatorial? isso é do banif?
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