Patrick Buisson foi conselheiro especial de Nicolas Sarkozy. Descobriu-se agora que o cavalheiro, uma figura oriunda da extrema-direita, que misteriosamente tinha caído nas boas graças do antigo presidente, gravava todas as conversas mantidas com ele. A revelação está a provocar o natural escândalo. E, uma vez mais, há dois "tempos" nesta história.
O primeiro é a atitude "de Estado", a rejeição indignada deste atentado à esfera privada, ainda por cima, de um chefe de Estado e do seu círculo íntimo. E, pelas televisões francesas, logo se viu o país político a reclamar "decência", "privacidade" e respeito pela "intimidade pessoal". E punição exemplar.
Chegou depois, mesmo logo de seguida, o segundo e espectável momento: o "voyeurisme" guloso do conteúdo das conversas, às vezes travestido de clamor pelo "interesse público", que é uma coisa que o jornalismo moderno identifica com "o interesse que temos em vender isto ao público". A ilicitude primeira do ato passa imediatamente para segundo plano, ao se deparar com comentários saborosos sobre figuras políticas, intimidades do serralho, mais aquilo que não se sabe e estará ainda para vir, no seio das centenas de horas de gravação que parece existirem.
Enfim, um "déjà vu". Nada que as escutas telefónicas que a nossa Justiça é tão useira em "preservar" não nos tenha já ensinado e que pendor coscuvilheiro de alguma imprensa a que temos direito nos não tenha também já ensinado. Porque, como diria o grande Eça, "Portugal é a França traduzida em calão".
8 comentários:
Caro Francisco ,
Retenho : " Interesse público , que é uma coisa que o jornalismo moderno identifica com " o interesse que temos em vender isto ao público".
E assim nos vamos perdendo em interesses públicos.E onde o interesse público ? E o que é que se faz do e para o interesse público ?
O abraço de sempre.
Quem revela as conversas dos outros à má fé deveria ver as suas intimidades (conversas intimas incluídas) reveladas, no mínimo, claro.
Subscrevo o post.
O "interesse público" é sinónimo de inveja e maldade para obter fins obscuros, normalmente políticos com o ego "inchado".
Alexandre
Habitualmente são os grandes que espionam os pequenos! Um monarquista espiona a República. Buisson, um maurrassiano detestava a Republica. O Pai era um "Camelot du Roi". Mas que Sarkozy convide um tal espécimen para conselheiro do Presidente! O famoso inspirador da grande viragem à direita! Para ir ceifar nas terras de Le Pen. Quem janta com o diabo precisa duma grande colher! Mas também prova que a direita não conhece exactamente os limites da ....direita. A promiscuidade é grande nestes últimos tempos. A caça aos lugares, às benesses da Republica, autoriza tudo. Mas também é verdade que a imprensa, as duas orelhas bem estendidas para captar todas as vulgaridades venenosas ou miseráveis, e se possível algum escândalo mesmo delicado para a segurança nacional, a imprensa o que quer é vender ! Mesmo produtos mal cheirosos!
L'homme n'est ni bon ni méchant, il naît avec des instincts et des aptitudes.
Balzac (Honoré de)
Recordem-me: quem era o PR e PM portugueses que se gravavam mutuamente e que o cartoonista Cid retratava?
Caro Anonimo das 20.34: Ramalho Eanes e Pinto Balsemão.
Estas conversas do Sarkozy, registadas a coração aberto, são conversas muito esquisitas. O agente da primeira confiança do Sarkozy é um agente muito esquisito.
É uma vergonha vergonhosa. Mas é bem feito, como dizem os adolescentes. É bem feito! O Sarkozy tinha meios para saber de onde aquele agente vinha quando o chamou para trabalhar junto de si como conselheiro previlegiado, se faz favor...
Talvez pensasse que a gente vinda daquelas áreas pode evoluir para o bem... Então agora que se arrependa.
Tradicionalmente, na familia politica do Sarkozy, ninguém se atrevia a "brincar" com aquela gente até com medo de "perder a Alma". O Presidente pensava que não havia qualquer perigo a namorar com fascistas quando se tem certezas adquiridas. A verdade é que não se pode brincar com pessoas daquela índole...
É verdade que quem nunca jogou nunca perdeu nem ganhou. O Sarkozy jogou, se aquilo era um jogo, e ganhou! Ganhou ou perdeu. É bem feito.
José Barros
consta que eanes também gravava as conversas com soares porque deixou de confiar na sua palavra.
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