A frase em título, embora num registo estilístico um pouco menos suave, foi pronunciada por uma alta responsável diplomática americana, ao telefone com o embaixador de Washington em Kiev, numa alusão crítica (espero que os leitores apreciem este "understatement", tributário da fina cultura diplomática lusa) à posição de Bruxelas na crise ucraniana. A senhora em causa é casada com Robert Kagan, de quem já li coisas "lindas" a propósito da Europa, pelo que daqui se pode inferir o nível de "carinho" com que o Velho Continente deve ser mimoseado na intimidade do casal.
O que a mim me surpreende é o "escândalo" que estas coisas ainda parece provocarem. A senhora Merkel logo se mostrou chocada com os termos "inaceitáveis" utilizados pelos diplomatas americanos, como se acaso estes não tivessem todo o direito, numa conversa telefónica entre si, que não julgavam escutada por terceiros, de chamarem aos "parceiros europeus" o que lhes desse na real gana. Ao contrário do que, há meses, foi revelado sobre as escutas americanas a líderes amigos, desta vez os escutados foram os americanos, aparentemente pela espionagem russa. O que deve ter dado, lá no fundo, um grande gozo a Berlim.
Porque é que eu mostro aqui uma grande complacência com estas práticas, com o uso de uma linguagem solta nas conversas telefónicas? Porque sim.
10 comentários:
O título sugestivo traduz com mais propriedade o resultado do referendo sobre a imigração na Suíça que irá por certo ter consequências no relacionamento com a UE e que mostra como a imigração vai também ser um tema quente nas eleições para o Parlamento Europeu cujas sondagens dão vitória, com maioria absoluta, aos socialistas somados aos partidos de esquerda. Engana-se pois Isabel Arriaga e Cunha na notícia que faz publicar no Público dando Juncker como próximo presidente da Comissão com base numa suposta maioria PPE que já é passado, Juncker é já uma carta fora do baralho. Daí que Merkel venha agora dizer que tem "simpatia" por ele. Simpatia por um has been.
Eu achei piada foi a senhora chamar àquele diálogo "conversa diplomática"...imagine-se se o não fosse, rrss
Quanto a espionagens, enfim...só serviu para provar que se não são todos iguais , imitam muito bem.
Parece-me que consigo desconfiara das razões da complacência...rrss
Bom resto de domingo
o sr embaixador...? ah, nao me diga!...
tenho esperança que esta complacencia com as praticas dos FiveEyes não sejaencarada como um faitdivers pelos responsaveis politicos europeus. como podemos ver até nestes desabafos inocuos a filosofia é bem mais profunda que simples banalidades e temos um dos hipocritas como membro de pleno direito na UE- aparentemente e remar no sentido contrario;ou então sou eu que tenho o espelho ao contrario
Do anónimo das 17:30:
"eleições para o Parlamento Europeu cujas sondagens dão vitória, com maioria absoluta, aos socialistas somados..." etc, etc."
Ainda bem que tem essa "certeza", nos tempos que correm !.........
Alexandre
Que se lixem as escutas. Quero lá saber que me escutam! Nada tenho a esconder.
Ricardo
Caro Dr. Seixas, por vezes é bom dar um espirro para acordar os adormecidos.
Na verdade temos uma Europa de acomodados.
Devido a isso assistimos ao impasse vergonhoso da Síria.
O Papa Francisco disse e muito certo, "Dá-se esmola para pagar a consciência"
Cumprimentos
o comentário privado, intimo, supostamente fora do alcance de escutas de terceiros, indiscretas, a opinião pessoal, a graça entre colegas/amigos sem ser em publico, sempre existirá.
saímos (saio) dum jantar e digo à companhia ou a minha mulher, que mal que comemos, infeliz aquele comentário da dona da casa, ou também, que maravilhoso vinho tinto, que simpatia, etc.
em diplomacia, em politica, em reuniões, o mesmo.
nos últimos anos multiplicam se as indiscrições, os microfones, este ministro a dizer não suporto estes cretinos, gaspar a dizer não sei quê ao alemão, etc, às vezes até pensamos se não será propositado, mas então? a homem que tenha a opinião pessoal sobre a eu e a diga a um colega, que importa afinal?
Sim porque as conversas informais podem ser assim: informais. E cada um usa da informalidade que entende apropriada.
Sim também porque a ainda chamada União Europeia (um excesso de linguagem, diga-se) o merece.
David Caldeira
Não é preciso ser um craque para adivinhado o óbvio ululante: a persistência de políticas ultra liberais na Europa, o desemprego, a erosão da esperança e do poder de compra só poderia acarretar a queda em flecha do PPE - excepto em Portugal onde uma população de ascendência predominantemente rural, iletrada e envelhecida continua a votar à direita. Salazar tinha razão em não querer democratizar o ensino, desse ponto de vista. As sondagens para o Parlamento Europeu estão publicadas e mostram que o PPE perde a condição de principal partido. Mas na política e nos casamentos não há certezas, há apenas tendências de fundo que se combinam com o acaso do momento.
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