É uma iniciativa meritória aquela que o deputado Ribeiro e Castro promove, com regularidade, na Livraria Férin.
(essa mesma livraria, na rua nova do Almada, de cuja montra o Artur Corvelo se aproximava, como conta o Eça em "A Capital", a fim de ver se o seu "Esmaltes e Jóias" se vendia.)
Trata-se de organizar debates no âmbito de uma "Tertúlia Diplomática", tendo como convidado um embaixador estrangeiro em Lisboa.
(Ribeiro e Castro, ao tempo que dirigia a Comissão de Negócios estrangeiros da nossa Assembleia da República, tomou também a iniciativa de ouvir, à porta fechada, alguns embaixadores portugueses. Tive a honra de ser o primeiro a ser convidado para esse interessante exercício.)
Ontem, falou-nos o embaixador da Polónia, Bronislaw Misztal, do seu país e de um livro recentemente publicado sobre a "cortina de ferro", essa expressão utilizada por Churchill no seu discurso de Fulton, em 1946, e que acabou por ser uma dos mais famosos qualificativos da Guerra Fria.
O diplomata polaco fez uma estupenda apresentação da Polónia contemporânea, mas também da sua história, das vizinhanças e das ambições de paz que atravessam um Estado que teve uma experiência traumática de guerra. A uma pergunta que lhe foi feita, procurando saber da vontade dos polacos de trabalharem a memória dos tempos comunistas, o embaixador explicou, com uma simplicidade que revelou grande sabedoria, que se alguém numa rua polaca for hoje abordado sobre acontecimentos passados - como a invasão russa de 1956, a revolta de Gdansk de 1980 e os tempos de Jaruselsky, bem como a recuperação da liberdade no final desses anos 80 - muito provavelmente essa pessoa deixará claro que, não esquecendo as lições da História (ou talvez por causa delas), o que lhes interessa agora é o futuro. E que a Europa é o lugar geométrico onde os polacos depositam as suas esperanças.
Hoje mesmo, em Cracóvia, onde irei para reuniões de trabalho, vou, com certeza, poder confirmar esta perspetiva, esse esforço para esquecer recordando. Ao lado de uma cidade que não foi destruída pela guerra, está construída uma das maiores enormidades do tempo do conflito, o campo de extermínio nazi de Auschwitz.
11 comentários:
Já visitei Cracóvia duas vezes, as minas de sal (lá oerto) uma e mergulhei duas vezes no horror do complexo concentracional Auschwitz-Birkenau, onde -e, proporção . morreram mais olacos que judeus e numa só noite foram gaseados e cremados ´milhares de ciganos , incluindo famílias inteiras.
Paz a todas as vítimas!
Bom trabalho para si.
É talvez por essa mesma razão que os polacos também nunca falam no que fizeram aos judeus. O Embaixador polaco devia ler a Hanna Arendt...
No grande sofrimento do povo polaco e do destino geográfico da Polónia, entalada desde sempre entre as duas potências de leste e do oeste, ambas com pretensões expansionistas obviamente em sentido contrário, fica-me o travo amargo do anti-semitismo histórico dos polacos, manifestado ao mais alto nível , mesmo por aquele que foi o herói da revolta de Gdansk. Muitos polacos que viam passar os comboios da morte para Sobidor à porta da casa, nunca tiveram um gesto de simpatia para aqueles que sairiam de lá em fumo!
Hoje, a Polónia é considerada como um risco para a UE por razoes que mereceriam um maior espaço neste blogue.
Uma das cidades mais belas que conheci ..., vizinha do mais abjecto local que visitei ....
Desculpe São mas essa da proporção não lembra ao diabo.
N381111
Viva sr. embaixador,
Sabia que "Esmaltes e Joias" é actualmente um blog de um vilarealense residente nos EUA?
Ilidio Martins natural de Folhadela.
Cumprimentos cá da Bila.
Se dei a impressão de que defendo o anti-semitismo (aliás, os palestinianos também são semitas) foi algo completamente errado.
Só que acho muito pesado o silêncio sobre todas as vítimas do nazismo, com excepçãp dos judeus.A quem nunca ouvi uma palavra de memória sobre essas outras vítimas.
Durante anos largos, tive como certo que o único povo perseguido e a extinguir pelos nazis era o judeu...o que se sabe não ser verdade.
Claro que nada desculpa a perseguição que sofreram seja qual for o motivo, mas choca-me
a maneira como Israel trata os palestinianos, sem dúvida.
Quem será a Hanna Arendt palestiniana?
Espero , sinceramente, que nem que seja daqui a seis séculos se possa ler em Jerusalém uma placa e um memorial como aqueles , que muito justamente, se encontram frente à igreja dominicana, em Lisboa.
O facto de condenar em absoluto o que os hebreus sofreram e o regime de Hitler , não me cega para o que eu considero atitudes incorrectas da sua parte.
Se me permite. sugiro -lhe a leitura de " Palestina:Paz, sim.Apartheid, não" do antigo Presidente norte-americano Jimmy Carter(Prémio Nobel da Paz e promotor dos Acordos de Paz entre Israel e o Egipto).
Porque talvez também não lembre nem ao Diabo os massacres de Sabra e Chatila.
Cara São : O tema que abordou sobre os massacres nazis, sobre os Judeus e outras nacionalidades, nas tenebrosas fábricas da morte na Polónia, é actualmente duma grande sensibilidade, pelo menos aqui, em França. Não há dia que se passe sem que seja abordado.
Na minha opinião, se é imprescindível defender e ser mesmo intransigente no respeito da memoria das vitimas da SHOA, também é verdade que os Judeus não foram as únicas vitimas do genocídio, mesmo se foram o alvo planeado desde Mein Kampf por Hitler.
O que cria hoje problema é que é praticamente impossível de protestar contra o Estado de Israel, como o fez Mandela, sem ser acusado de anti-semitismo.
Pôr em questão, não somente as acções de Israel, mas os princípios fundadores do Estado, é ainda considerado como blasfémia.
Entretanto, não é possível crer, com uma consciência tranquila, que as condições deploráveis nas quais vivem os Palestinos em Gaza e na Cisjordânia são o resultado de politicas , de dirigentes ou de partidos dos dois lados. O problema é fundamental.
A criação dum Estado moderno sobre uma única identidade étnica ou religiosa, num território marcado pela diversidade étnica e religiosa, conduz inevitavelmente a uma politica de exclusão - ( prisão a céu aberto de 360 Km2 em Gaza) e a uma "limpeza" étnica de massa. Sabra e Chatiila são o exemplo.
O estabelecimento dum governo laico, pluralista e democrático em Israel e Palestina, significa o fim do sonho sionista. Por isso o projecto não verá a luz do dia. As forças em presença , com os USA na retaguarda, são claramente contra a pobre Palestina.
Como já contei num" post" precedente, viajei, entre Tel Aviv e Lyon no Airbus de Air France com Ariel Sharon , o carrasco de Sabra e Chatiila. Uma coincidência que não me agradou, porque era um voo civil e que corremos riscos para o proteger. Mas ainda hoje tenho remorsos de não lho ter dito, tanto mais que viajava ao meu lado. Não tive coragem. E talvez os seguranças que o acompanhavam me tivessem impedido.
Caro Defreitas, li esse seu comentário e compreendo perfeitamente o seu desagrado, porque viajar , num avião civil, com o responsável de massacres e não só, como Sharon, realmente é impensável ...Certamente que não lhe teriam permitido falar com ele.
Compreendo a má consciência da Europa, mas não são os palestinianos que devem pagar por isso.
Devo ser muito tonta, porque há pouquissimo tempo é que fiquei a saber que o regime de Apartheid de Israel se aplica a todos os não-judeus!
Aliás, verdade seja dita, tiveram a coerência de não ir ao funeral de Mandela.
Em França está a situação como diz, mas aqui em Portugal também não se pode criticar Israel: fui insultada no facebook , por exemplo.
O loby judaico nos EUA é muito poderoso e rico e esse facto conjuntamente com a cínica e conhecida duplicidade de critérios do país retira à Palestina todas as hipóteses de liberdade, infelizmente.
Gaza e a Margem Ocidental são dois campos de concentração , Sim, porque não são as tenebrosas câmaras de gás as únicas características determinantes : o Tarrafal não as tinha e nem por isso deixou de o ser.
Em Gaza, os bombardeamentos não são uma raridade e até o proibido fósforo branco é utilizado.
E se quiser ser mázinha, até posso acrescentar - correndo o risco de ser mal compreendida ( volto a afirmar a minha total e absoluta condenação de todas as perseguições que vitimaram os judeus)- que o facto de ser da "raça superior" ou do "povo eleito" dá certas prerrogativas..
Os meus cumprimentos
Cara Sao: Desculpe se volto ao mesmo tema , mas parece-me que existe um movimento talvez ainda imperceptível mas real da posição duma parte do povo americano sobre a influência abusiva do "lobby" israelita na politica estrangeira dos EUA.
O voto histórico, pela American Studies Association, adoptando o princípio do boycott académico de Israel, após um voto similar da ’Association for Asian-American Studies, entre outros, assim como os votos de desinvestimento nos conselhos de estudantes de várias universidades, demonstra que o BDS já não é tabu nos EUA.
Como sabe, mesmo se o BDS (Boycott, Desinvestimento e Sanções) não apresenta uma ameaça existencial para Israel, lança mesmo assim um desafio sério ao sistema de opressão israelita exercido contra o povo palestino, sistema que é a causa primeira do isolamento crescente de Israel na cena internacional.
Porque é que Israel , potência nuclear e económica, devia sentir-se vulnerável perante um movimento não violento que milita pelos direitos humanos ?
Porque Israel é profundamente inquieta do numero crescente de Judeus Americanos que se opõem à sua politica. E o que se pensa nos EUA conta muito para os Israelitas.
O facto recente é que eles sublinham a contradição que existe entre a definição etno- religiosa que se dá Israel, de" Estado Judeu" e a sua pretensão democrática.
Quem pode crer que a justiça e a igualdade dos direitos destruirão Israel? A igualdade destruiu os Estados do Sul da América? Ou da África do Sul ? A ordem de discriminação racial que reinava nestes países foi destruído, mas os povos ou as nações não!
Bem lembrado Correia Pinto.
A imagem de vítima que a Polónia passa é, diga-se, contrariável pela leitura de História. A "pacífica" Polónia tinha conflitos territoriais com todos os vizinhos.
Uma das razões porque Estaline quis por a pata na Polónia deveu-se às recordações da guerra polaco-russa de 1919-21. E já não falemos da invasão da Rússia no Séc. XVIII.
Também parece que a blitzkrieg alemã não foi tão blitz quanto isso, nalguns casos. Leia-se Beevor e a sua história da 2GM.
No fim de todas as contas, a Polónia ganhou bastante - em termos territoriais -, com a sua vitimização (nem menor, nem pior do que a de muitos outros estados).
Caro Defreitas:
Pois estamos de acordo, penso que Israel começa a ficar isolado na cena internacional. Felizmente.
Aliás, mesmo dentro do país , muita população defende os palestinianos .
E quando foram os massacres de Chatila e Sabra, Sharon foi confrontado com enormes manifestações de repúdio, embora também houvesse quem o tivesse apoiado.
Inclusivamente, já houve problemas sérios, porque - como sabe , o serviço militar é obrigatório para ambos os sexos, com excepção dos religiosos ultra ortodoxos - houve recusas de o cumprir nos territórios ocupados.
Quanto ao boicote, sei vagamente da sua existência, mas li que , oficialmente , os EUA estão contra. Como é hábito... Mas é bom que os judeus norte-americanos comecem a tomar posição contra os sionistas e os ultra-ortodoxos , que até pretendem a reconstrução do Grande Israel( o que implicaria a destruição de uma série de países da zona)
Tenhamos esperança que os palestinianos ainda sejam tratados como pessoas e que os sionistas deixem de ter a força que (ainda) possuem.
Boa noite
É muito claro que Israel não é um estado democrático, como não ver isso? E concordo: não será a destruição do Apartheid vigente que destruirá Israel,
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