1. Desembarco no aeroporto de Lisboa e leio num jornal: "Comissão Europeia exige consenso político em Portugal". Olho bem a notícia, para tentar perceber se houve alguma reação, de qualquer dos quadrantes políticos, a esta flagrante intromissão na vida política interna do país. Qual quê?! Moita carrasco! Como os tempos mudaram! Há uns anos, uma declaração deste teor teria provocado um terramoto de declarações.
2. É muito curiosa a expetativa criada em torno da possível reação do Tribunal Constitucional às medidas previstas no Orçamento geral do Estado. Foram os políticos quem desenhou as normas constitucionais. Foram os políticos quem preparou o Orçamento, ferido ou não de inconstitucionalidades. E, no fim de tudo isto, o eventual "odioso" de uma decisão passa para os juízes do Tribunal Constitucional. Ou será que o facto desses mesmos juízes serem escolhidos por via política leva a que, de certa forma, sejam vistos por alguns como uma espécie de câmara informal de representação da balcanização ideológica parlamentar?
3. O que aí vai com o regresso de José Sócrates às luzes mediáticas! Ou será que a opinião pública portuguesa não tem a maturidade suficiente para poder ouvir, com serenidade e fora da convulsão eleitoral, a voz e a opinião de alguém que chefiou o governo do país durante cerca de seis anos? Reescrevendo Albee, só me apetece perguntar: "Quem tem medo de José Sócrates?". Ou, continuando na escrita teatral, desta vez com Pirandello, deixemos que a democracia ofereça "para cada um a sua verdade".
4. Desapareceu Óscar Lopes. Ao ler a notícia, perguntei-me sobre quantos, no Portugal de hoje, ainda dele se lembrariam (e quantos dele alguma vez ouviram falar). E, no entanto, para além dos seus cada vez mais esporádicos surgimentos públicos, em suporte das ideias que nunca renegou, todos devemos a Óscar Lopes (e também a António José Saraiva, cuja morte, há precisamente duas décadas, tem sido assinalada com excessiva discrição) a primeira grande interpretação moderna da nossa literatura. No que me toca, sou um modesto mas grato tributário dessa magnífica lição.
5. Não tenho paciência para as teorias conspirativas sobre a Maçonaria, com que a imprensa nos enche regularmente. Nunca fui tocado pelas "luzes" da subordinação espiritual ao "grande arquiteto universal" e por alguma razão nunca ninguém me aproximou a sugerir que me juntasse a esses rituais. Mas devo dizer que me incomoda esta espécie de suspeição obsessiva sobre a Maçonaria, talvez porque, durante a ditadura, sempre vi a diabolização da vida maçónica a ser feita por quantos combatiam a democracia. E essa é a minha eterna "linha Maginot", na qual eu conto os que estão do meu lado. Dito isto, e com todo o respeito pelos amigos que tenho nas várias "obediências", dei uma grande gargalhada quando ontem li que um membro da maçonaria iria recorrer aos tribunais por ter sido expulso de uma dessas estruturas. Onde isto chegou!
12 comentários:
Por estes 5 paragrafos se vê o que se passa em Portugal.... e assusta, sem se ver uma solução possivel. Fizeram a cama durante tantos anos... agora deitem-se.
Mário Murteira.
Marxismo, existencialismo e cristianismo.
As minhas desculpas, mas não pode passar despercebida a sua recente partida. (1933-2013).
Guilherme.
1°-Ao que Portugal chegou! Como é justo o seu grito, Sr.Embaixador. Ninguém respeita Portugal! Mesmo os espanhóis esqueceram Aljubarrota! Em Espanha a imprensa mostra-se surpreendida com a contratação do ex-primeiro ministro para comentar a actualidade política nacional.
"A ninguém em Espanha passaria pela cabeça ver José Luís Zapatero a comentar a actualidade política na TVE", escreve o jornal espanhol La Vanguardia.
"Em Espanha a ninguém passava pela cabeça que no principal canal da TVE, logo após o telejornal da noite, aparecesse o ex-primeiro-ministro José Luíz Zapatero a comentar a actualidade política semanal. Mas em Portugal é possível e é o que vai acontecer a partir de Abril, quando o antigo líder passar a integrar o painel de comentadores da televisão pública RTP", escreve o La Vanguardia, na edição de hoje"
2°- Abebe Selassie considera muito desapontante o facto dos preços da electricidade e das telecomunicações não terem descido.
Em entrevista à Lusa por telefone a partir da sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, o FMI volta a demonstrar algum desalento das instituições internacionais sobre as reformas no mercado de produto! E os Portugueses então !
3°- chefe da missão do FMI diz que a única forma duradoura de recuperar emprego é acabar o ajustamento o mais rápido possível.
Em entrevista à agência Lusa, Abebe Selassie, explica uma das grandes motivações da revisão das metas do défice para este ano, para 2014 e para 2015 - que na prática acaba por resultar em mais um ano para reduzir o défice para menos de 3% do Produto Interno . Quando os Portugueses estiverem todos mortos.
4°- O chefe da missão do FMI para Portugal explicou, em entrevista à agência Lusa, que as metas do défice foram revistas, "tanto quanto possível", para não criar mais recessão e desemprego e que esta missão foi "particularmente difícil".
"As metas do défice estão a ser revistas para garantir que não é criada uma pressão indevida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) .
Estão a brincar com o Povo!
J. de Freitas
"sempre vi a diabolização da vida maçónica a ser feita por quantos combatiam a democracia." escreve o Sr. Embaixador.
Sim , vi o meu Pai chorar de raiva, eu tinha 14 anos, quando as primeiras eleições para a presidência da republica foram anuladas pela ditadura. Na véspera, apareceu nos jornais a fotografia do candidato da oposição, o General Norton de Matos, vestido com um avental (tablier ?) em couro, com os símbolos maçónicos.
Meu Pai tinha colaborado na organização do voto e participou em todas as reuniões eleitorais autorizadas, e não foram muitas.
A fotografia dum "maçónico", foi o golpe fatal para que o bom povo português, devoto e medroso, compreendesse que a ditadura o protegia do diabo! Depois, foi a longa noite negra da qual temos ainda dificuldade a emergir.
J.de Freitas
Bruxelas exige consenso político ! Trocado em miúdos,isto quer dizer : Não mudar de equipa governamental, não fazer eleições, eventualmente, mesmo para coligar os partidos mais importantes numa política mais digna de Portugal, e, no caso contrário, expor-se à nomeação dum Mario Monti português, isto é, um empregado da Goldman Sachs, por Bruxelas. A não ser que este já esteja "en place"!
Sobre o regresso de José Sócrates, que venha comentar se quiser, mas que não se lhe pague para isso. Oh Sr. Embaixador, eu nunca se me passou pela cabeça pedir-lhe remuneração pelos meus comentários aqui! Ou então os homens não serão todos iguais...
José Barros
Uma entrevista a J. S., para ter um mínimo interesse, teria de ser feita por Moura Guedes. Estará aqui o segredo!?
Esta "política" dos maçons, realmente, está a conduzir-nos ao insuportável...
Senhor Embaixador: é realmente estranho que ninguém tenha reagido a "exigencia" que refere.
E a minha estranheza é tanto maior quanto é certo que todos os dias podemos ver imagens daquilo a que alguem chamou,aqui há tempos,"patriotismo de lapela".
Quanto a Socrates o problema é que,por certo, há quem esteja assustado com o que possa vir a ser dito.
o regresso de josé socrates é um golpe de mestre, em 1º lugar a tv publica, as privadas poderiam recusar e não havia nada a dizer, a publica ficou entalada, seria acusada de tudo, e por tabela relvas e o governo, e aceitou tê-lo.
o regresso foi anunciado por jorge coelho que se declarou feliz por voltar à politica e por teixeira dos santos como ex ministro das finanças; alem de que vozes de peso do ps exigiam uma estrategia e menos passividade ao ps e seguro.
vamos a ver o que isto dá, mas pelo menos é novidade,algo mexe, a moçao censura do ps talvez seja já consequencia.e pelos vistos o homem quer mesmo voltar, seja de que maneira for...
oscar lopes escreveu com a j saraiva a que é de longe a melhor história da literatura portuguesa, hoje já uma obra classica em si.
há a maçonaria que é uma organização séria, infelizmente com finalidades muito pouco nobres abriram-se umas lojas paralelas onde não há seriedade nenhuma...
bem, os outros temas não comento, o comentário já está comprido..
Portugal ainda é um país?!
A Maçonaria tem uma história com peso na luta pela liberdade e intriga-me porque a atacam exclusivamente, deixando de fora a OPUS DEI, fundada por Escrivá - esse "nazi encoberto", como diz Miguel Veiga - e que o polaco santificou não sei porque motivo.
Boa semana
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=26&did=101314
Comentário sobre o novo "entertainer" da RTP 1:
Basta um frade ruim para dar que falar a um convento.
— Luís Vaz Camões
Alexandre
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