Creio que nunca como nos nossos dias falamos tanto do clima. Verdade seja que poucas vezes houve razões tão ponderosas para que isso sucedesse. A consciência de que a vontade dos céus, por milénios tida como imprevisível e decisiva, afinal pode ser modulada, para o bem ou para o mal, pelos comportamentos terrenos foi ganhando progressiva atenção entre nós.
Todos nos recordamos como, há uns anos, as reflexões sobre alterações climáticas, tituladas por alguns, eram objeto de troça e tidas como coisas de "maluquinhos". O decorrer dos tempos, se alargou a consciência nesse domínio, não sustentou, em absoluto, como se pode observar na atual atitude oficial americana e de outros atores marginais ao bom senso, uma mobilização internacional de vontades capaz de travar o percurso para um desastre que, afinal, parece bem anunciado. Mais do que isso: que é prenunciado à saciedade pela gravidade crescente nos fenómenos climáticos extremos que teimam em repetir-se, alguns em registo de tragédia. Ver a juventude, à escala global, consciente da necessidade de travar essa batalha é um motivo de esperança, mas a esperança ainda fica à porta de uma vontade coletiva capaz de se impor.
Por cá, o mínimo que pode dizer-se é que os portugueses andam "intrigados" com o seu clima. Já perceberam, pelo passado recente, que podem vir a ter de suportar meses seguidos de seca, com o "bom clima" a chamar os turistas mas a fazer desesperar os agricultores. É o "sol na eira e a chuva no nabal", no seu modelo mais contemporâneo. Como a memória climática é uma das coisas frágeis no consciente coletivo, os clamores de que "há sol a mais" ou de que "esta chuva nunca mais para" alternam na conversa, sem racional nem equilíbrio.
Já não vivemos, contudo, no tempo do senhor Anthímio de Azevedo, que nos dava bitaites televisivos, assentes numa leitura tendencial do que aí vinha, produzida pela observação feita pelos barcos no Atlântico e pelos expectáveis humores desse arredondado património de ventos, nuvens e chuva que é o nosso - sim, porque é "nosso" - anticiclone dos Açores. Os satélites permitem hoje prever, com maior certeza, se devemos sair com guarda-chuva ou se um sobretudo se recomenda. Em tese, só se molha quem quer.
Sei isso bem. Porém, às vezes ainda dou comigo a medir mal os sinais do tempo. E, ao não atentar devidamente nesses avisos, ao decidir avançar impetuosamente contra o vento, numa esquina noturna da vida, convoco os demónios do tempo e levo com uma nortada forte. É a vida ou, como diz o outro, quem anda à chuva molha-se.