Foi ainda nos anos 60 que me recordo de ter comprado e lido um livro brasileiro que contava em detalhe o golpe de Estado militar de 1964, que inauguraria uma ditadura que se prolongaria por mais de duas décadas. O título era “Os idos de março e a queda em abril”. O volume ainda deve andar pela minha casa, em Vila Real. Era um relato feito por jornalistas, num estilo vivo, que nos dava a impressão de estar a assistir a uma espécie de filme dos eventos. A minha curiosidade pelo assunto iniciou-se com essa leitura, e nunca mais parou.
Os brasileiros que ainda hoje se identificam com esse movimento militar, a que chamam “revolução”, costumam celebrá-lo no dia 31 de março. Este ano, como é sabido, atendendo a que o presidente Bolsonaro é um reconhecido fã desse período da vida brasileira, o assunto acabou por ter, com naturalidade, uma visibilidade ainda maior, provocando vasta polémica no país. Recordo-me que, quando vivia no Brasil, apenas os militares mais conservadores faziam gala de celebrar a data, que passava despercebida.
Ora é precisamente essa data que está errada. Como o livro que referi demonstra à saciedade, o movimento só se efetivou um 1 de abril, mas, temendo o caricato da data, do “dia das mentiras”, a historiografia favorável à “revolução” sempre procurou iludir isso e tentou fixar 31 de março como o dia para a história registar. Assim, no tocante ao golpe militar de 1964, o dia 1 de abril acaba por ser, ironicamente, o dia da verdade histórica.
1 comentário:
O que não é mentira nem no 1 de abril nem no 2, nem no 3 ..... é que "a coisa aqui tá preta" ...
Há uma estranheza no ar ... há um horizonte que se acinzenta e um farfalhar de mordaças ...
E no Dia das Mentiras e nos que se lhe seguirem que se empurre a Verdade para debaixo do tapete, ou da bota ...
Haja Esperança!
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