quarta-feira, abril 03, 2019

Capela do Rato

Na sua atividade incessante, Leonor Xavier organizou hoje, na Capela do Rato, uma leitura de textos tendo como mote a Mulher. Convidou para participarem umas dezenas de amigos.

Na maior parte dos casos foram lidos poemas, mas houve pessoas que optaram por textos em prosa. Outras cantaram.

Hesitei bastante. Pensei em coisas alegres como “A mulher que passa”, que Vinicius de Morais escreveu uma década antes de eu nascer. Ou no romantismo contemporâneo de José Luis Peixoto, com “A mulher mais bonita do mundo”.

Por fim, decidi ler um belíssimo poema triste, de Eugénio de Andrade, intitulado “Pequena elegia de setembro”:

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

Anda Luísa
Luísa sobe
Sobe que sobe
Sobe a calçada

Os ácidos

Nos anos 60, a expressão que vai em título tinha outro significado. Nos tempos que correm, pode aplicar-se a quem se dedica, por vício ou em...