quarta-feira, abril 21, 2010

Brasília e Portugal

Brasília faz hoje 50 anos. Portugal está na história da nova capital brasileira, por diversas formas e em diversos tempos. Desde logo, pelos muitos portugueses que fizeram parte da vaga dos “candangos”, os construtores originais da cidade, de que ainda por lá há alguns magníficos resistentes.

Ainda antes da inauguração oficial de Brasília, Juscelino Kubitshek, o construtor de Brasília e grande amigo de Portugal, quis ter um gesto de simpatia para com o novo embaixador português, que aguardava, no Rio de Janeiro, a hora de apresentar as suas cartas credenciais. Em 30 de Junho de 1958, o chefe de Estado brasileiro levou consigo, de avião, do Rio para Brasília, o embaixador Manuel Rocheta. E, nessa data, no Palácio da Alvorada, sua futura residência oficial, que abria as portas precisamente nesse dia, o representante diplomático português teve a distinção de ser o primeiro dignitário estrangeiro a apresentar em Brasília as suas cartas credenciais.

Mais tarde, faz hoje precisamente 50 anos, na data da inauguração de Brasília, a missa campal que aí teve lugar foi celebrada pelo cardeal português Gonçalves Cerejeira. Do anedotário local faz parte a recordação de que ninguém percebeu nada do que ele então disse, pelo arrevezado “sotaque” português (como os brasileiros dizem) e bem peculiar tom aflautado de voz do prelado preferido do salazarismo, quiçá agravado pelas condições acústicas. O que poucos saberão é que, a coadjuvar Cerejeira no ato, esteve uma figura que haveria de ficar na história da dignidade da igreja brasileira: o futuro arcebispo de Olinda e Recife, Hélder da Câmara. Há ironias e contrastes nos destinos, mesmo das figuras da religião.

Esta memória de Portugal em Brasília não ficaria completa sem que conte uma historieta que me foi relatada por José Pereira.

(Cabe aqui um parêntesis para uma palavra sobre o José – um orgulhoso brasileiro do Piauí, brasiliense por adoção, há décadas funcionário da nossa Embaixada em Brasília e, seguramente, um dos mais dignos e dedicados servidores públicos com que Portugal alguma vez pôde contar, entre todos os milhares que teve e tem pelos seus postos diplomáticos e consulares em todo o mundo. E não serei o único a dizer isto, estou certo. O José, porém, é, além disso e talvez mais importante do que tudo isso, um querido amigo que imensamente estimo.)

Nesse período distante em que, a Portugal, havia sido atribuído, pelas autoridades brasileiras, um terreno para a construção da sua futura Embaixada em Brasília, o José foi encarregado de se colocar na área, com vista a evitar eventuais ocupações “espontâneas”. Que, como é natural, não deixaram de ser tentadas. Um dia, bem atento, o José confrontou um grupo que pretendia invadir o terreno e nele instalar-se. Com paciência, explicou que aquele terreno era de Portugal, a quem fora dado pelo governo brasileiro, e que, por essa razão, os putativos ocupantes teriam de procurar outra área para se instalarem. A reação, contou-me o José, foi muito curiosa. O líder do grupo, surpreendido, retorquiu: “De Portugal? Este terreno? Então eles tiveram tudo isto (e fez um gesto largo, que pretendia ir do Amapá ao Rio Grande do Sul) e, agora, só têm esta coisa aqui? Coitados!”. E foram-se embora…

terça-feira, abril 20, 2010

Cinzas

Há uns anos, uma pessoa minha conhecida viu-se obrigada a passar algumas horas num sofá num corredor do Palácio das Necessidades. Dessa circunstância de involuntária "seca" resultou-lhe uma curiosidade: o que é que significava o regular trânsito de umas senhoras, de bata cor de cinza, que andavam, de um lado para o outro, com umas caixas de madeira na mão?

Confesso que, num primeiro momento, não identifiquei o cenário descrito, talvez porque o não isolava no meu quotidiano. Depois, pus-me a pensar e decifrei o mistério.

As principais comunicações escritas entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e as nossas embaixadas, missões e consulados são chamadas de "telegramas", o que resulta do facto de, no passado, tais mensagens seguirem por via telegráfica. Porque então os telegramas se pagavam à letra ou à palavra, e para evitar custos, a regra era serem redigidos numa linguagem sujeita a uma severa economia de artigos e proposições. Isso criou mesmo, na nossa profissão, um tipo de escrita que alguns tradicionalistas pretendem ainda preservar, porque a identificam como fazendo já parte de uma nobre liturgia da "carreira".

Os tempos mudaram, do uso dos correios passou-se ao telex, agora ao e-mail, mas o nome de "telegrama" permanece no jargão da casa. Largas centenas de mensagens desse género constituem hoje a nossa "telegrafia" interna, impressa em papel laranja no caso dos textos recebidos e em papel verde para os expedidos (a futura passagem à transmissão em suporte informático, sem impressão, vai depender da capacidade de modernização dos nossos quadros diplomáticos). Assim, os "telegramas" partem da "Secretaria de Estado" (nome que, ritualmente, entre nós, damos ao Ministério, em Lisboa, e que alguns confundem com as diversas secretarias de Estado nele existentes) e são recebidos dos postos no estrangeiro, sendo difundidos pelos diversos departamentos internos, em função dos temas neles abordados.

As tais misteriosas senhoras de cinzento, a que se referia esse meu conhecido, eram parte, nem mais nem menos, do "pelotão" de contínuas que iam e vinham entre o serviço da cifra (a maioria das nossas comunicações são "cifradas", para evitar a furiosa curiosidade de terceiros sobre os nossos grandes segredos...) e os vários departamentos geográficos ou temáticos, onde o respetivo chefe era o poderoso detentor de uma pequena chave que abria a caixa de madeira e que lhe dava acesso à "telegrafia" que lhe era destinada.

Ontem, ao passar por um gabinete do Ministério, vi chegar, pelas mãos de um matulão já sem qualquer farda e com uma dignidade de vestimenta de quem poderia estar a entregar pizzas ou coisas afins, uma mala toda modernaça, metalizada, com um código que o destinatário utilizou para receber o "molho" de telegramas.

Não tenho nenhuma saudade particular das malas de madeira (até porque "herdei" a da foto, não me perguntem como...) e, reconheço isso com facilidade, os novos recipientes metálicos parecem bem mais seguros. Mas, depois de algumas décadas de casa, deixem-me sentir um pouco nostálgico daquela antiga coreografia, feita da silenciosa circulação de tais senhoras, vestidas de um discreto cinzento, percorrendo sem pressas os longos corredores alcatifados do palácio, portadoras inconscientes de grandes segredos do nosso pequeno mundo diplomático.

Europa

Os ministros dos Transportes da União Europeia, sem transporte para irem reunir em Bruxelas, decidiram organizar uma video-conferência, através da qual algumas decisões foram tomadas sobre a presente crise aérea.

Para quem não saiba, uma parte das reuniões dos governantes europeus é dedicada a aprovar, muitas vezes sem qualquer debate, decisões antes tomadas a níveis inferiores. Porque hoje, numa União a 27, o diálogo público entre os ministros é cada vez mais raro, as reuniões compõem-se maioritariamente de monólogos nacionais, parte dos quais publicamente transmitidos, em que, perante cada tema, cada ministro debita a sua posição. Toda a documentação está informatizada, podendo ser consultada à distância.

Porque já participei neste tipo de exercícios, sei que ele sofre, por vezes, de algumas limitações técnicas, pelo que há que afinar e securizar os sistemas de apoio. Nada que à União Europeia seja impossível de organizar, tanto mais que as vantagens práticas são imensas, em especial pela possibilidade de cada governante poder ser assessorado pelo conjunto de técnicos que entender, sem quaisquer encargos, o que não sucede nas reuniões comunitárias. Não me parece que um sistema destes devesse substituir, em absoluto, todas as reuniões realizadas nas instituições da União, onde alguns contactos pessoais úteis têm lugar, mas sou de opinião que a sua utilização mais frequente evitaria, com grande vantagem, muitos encontros presenciais.

Será que este exemplo dos ministros dos Transportes irá ser seguido, depois da nuvem islandesa? Já imaginaram os gastos colossais que se evitariam (deslocações, hotéis, ajudas de custo, horas perdidas) se, futuramente, o recurso à video-conferência passasse a ser a regra e a deslocação a Bruxelas ou ao Luxemburgo fosse a exceção? Quem estará contra isto? Valeria a pena pensar.

Curtas 5

60 horas foi quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, levou de S. Francisco a Berlim, depois de passar de avião por Lisboa e Roma e de ter sofrido um acidente numa autoestrada italiana, no imenso trajeto rodoviário entre as capitais italiana e alemã.

Há dias em que se não pode sair de casa...

Curtas 4

Os Deolinda aí estarão, dentro de dias, com um novo disco.

Fiquem com o "Um contra o outro", o único som que dele se conhece. 

Curtas 3

O i deixou de contar com o Martim Avillez Figueiredo.

Tenho pena pelo belo projecto que é o i, como tenho pena pelo Martim, um dos mais talentosos e empenhados jornalistas da sua geração. Estes abanões na esperança não prenunciam nada de bom.

Curtas 2

A Taça de Portugal é uma competição onde, por vezes, há grandes surpresas.

Uma modesta equipa de província, o Grupo Desportivo de Chaves, vai agora disputar a final da Taça contra o Futebol Clube do Porto. As suas hipóteses de sucesso são as que se conhecem, a milionária desigualdade das duas equipas é flagrante. Mas, como dizem os comentadores da especialidade, "a bola é redonda". Será? 

Curtas 1

A nuvem trouxe-me saudades do futuro.

segunda-feira, abril 19, 2010

Lisboa

Através de um irritante portão com grade, no largo das Belas Artes, observa-se um dos mais belos panoramas de Lisboa.

O cenário, aliás, é muito idêntico ao de uma cena do filme "House of Russia", o que me faz pensar que, em parte, terá sido rodado numa casa ao lado. Quem quiser dar-se ao luxo de almoçar com esta Lisboa aos pés pode, aliás, fazê-lo na Tágide, um pouco abaixo.

Por mim, limitei-me a usar o iPhone, da rua.

domingo, abril 18, 2010

Retrato

Chegou-me há pouco uma curiosa análise sobre o Duas ou Três Coisas.

Agradeço-a e deixo-a aqui.

Fados

Assumindo, em pleno, o meu estatuto de turista acidental em Lisboa, uma espécie de "náufrago do autocarro" da nuvem islandesa, decidi ontem ir ao fados, coisa que não fazia há muito. Porque optei por um modelo tradicional, vi-me transportado para um ambiente do Bairro Alto que tinha um cenário idêntico àquele que aí se vivia há quatro décadas. Até alguns cantadores e cantadeiras eram desse tempo. A única coisa que foi atualizada foram os preços. Deve ser da idade, mas achei muita graça à experiência.

À saída, um imenso contraste: uma Lisboa jovem, solta, moderna, muito africana, lojas abertas a desoras, copos na rua, até polícias com ar quase "punk".

Sou de outro Bairro Alto. De início, quando por lá trabalhava, fui da "Primavera", do "Pucherus", do "Farta-Brutos", da "Antiga Casa 1º de Maio", passando pelo "Cocote", o bar do Olívio, onde meia Vila Real desaguava em whisky marado, nos anos 70, a saudade da esquina da Gomes (só os vila-realenses perceberão isto, desculpem lá!). O bairro era, já então, orgulhosa sede da "Bola", do "Record" e dos vespertinos da época, para além dos magníficos alfarrabistas. As ruelas, com a pobreza a fazer de típico, haviam começado a crescer na moda gastronómica lisboeta, de início com o "Alfaia", a "Tasca do Manel", o "Baralto", o "Fidalgo", o "Bota Alta" e coisas afins. Mais tarde, post-modernizou as noites, por muitos e bons anos, no "Frágil", com a Margarida Martins a gerir o "funil" de entradas, dedicada a gente de preto, com olheiras graves, muito pó-de-arroz e outros pós menos saudáveis. Na restauração, houve, entretanto, afloramentos já mais distintos - no "Pap'Açorda", no "Casanostra", no "Porta Branca". Com as noites a ficarem "rough" demais para o meu gosto, deixei de ser cliente ao tempo da explosão das lojas, do Manuel Reis às várias modas, agora com a vertente étnica a rimar já com a Lisboa da imigração. Desde esse tempo, perdi o bairro como hábito. 

Hoje, quando por cá passo, verifico que há muitas Lisboas em Lisboa. Aos diplomatas portugueses, nos seus estágios de atualização, deveria ser proporcionado um curso sobre o país real. A começar no Bairro Alto. Para evitar que andem a representar, pelo mundo, um Portugal já meramente virtual.  

sábado, abril 17, 2010

"Pendurado"

Alguns ditos "experts" em temas internacionais, que andam pelas colunas da nossa imprensa, têm vindo a especular, a propósito das próximas eleições legislativas britânicas, sobre a possibilidade do respetivo resultado poder vir a resultar num "hung parliament" (à letra, um parlamento "pendurado"), cenário pouco vulgar que poderia dar ao Partido Liberal-democrata um papel relevante num quadro político que não pendesse, de forma decisiva, para o Partido Conservador ou para o Partido Trabalhista.

Esse cenário é possível, embora improvável. Porém, o que estranho é que esses "especialistas", que bebem tão eruditas expressões na imprensa britânica de onde traduzem as suas ideias, talvez ganhassem em clareza se dissessem, com bem maior simplicidade, que se trata apenas da possibilidade do partido que vai formar governo vir a ter, ou não, uma maioria absoluta. É que os portugueses conhecem "de gingeira" os dois cenários...

Praga

Os comentários críticos sobre a situação económica portuguesa feitos, em público em Praga, pelo presidente da República Checa, Vaclav Klaus, durante a visita do presidente Cavaco Silva àquele país, chocou algumas pessoas. Com efeito, o formalismo e as regras implícítas que regem este tipo de encontros, que existem para consagrar e reforçar quadros de boas relações bilaterais, pareceu, aos olhos desses observadores, menos consentâneo com o que foi dito.

As palavras de Vaclav Klaus tiveram a resposta considerada adequada por parte do chefe de Estado português. A excelência das nossas relações com a República Checa, país cujas ambições europeias Portugal sempre apoiou de forma determinada, está muito para além destes "fait divers", os quais, contudo, também nos ajudam a perceber melhor a diversidade das culturas políticas que se projetam na atual União Europeia.

Ainda a propósito de Praga, uma das mais belas e românticas capitais da Europa, aqui deixo uma fotografia da sua praça de S. Venceslau, um lugar histórico que há anos teimo, por qualquer razão, em achar parecido com a avenida dos Aliados, no Porto. E sobre a figura de Vaclav Klaus e Portugal, talvez possa ser interessante ler o que, em tempos, escrevi aqui.

Nuvem

Temos a pretensão de que somos donos das nossas vidas, que controlamos o nosso tempo ao minuto, achamos que gerimos as conjunturas. Mas, subitamente, uma simples nuvem, proveniente de um vulcão situado lá para a Islândia, para-nos, aos milhares, por toda a Europa, aterrando-nos, por dias, num aeroporto qualquer.

A senhora Angela Merkel teve hoje direito a uma noite no Ritz, em Lisboa. O presidente português está retido em Praga. Pela Europa, há milhares e milhares de deslocados, à espera que o vento dissipe os efeitos do vulcão islandês.

Neste inesperado desregulamento das nossas vidas, há quem acabe por ter alguma sorte: retido na minha escala em Lisboa, passeei ao final da tarde por livrarias, jantei com amigos, estive na minha tertúlia no Procópio, dormi em casa. Há nuvens que vêm por bem.

E, já agora, recordem isto.   

sexta-feira, abril 16, 2010

Açores (3)

A geografia era improvável: Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores. O local ainda mais: o velho salão nobre da Câmara Municipal. Mas foi para aí que, em boa hora, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento deslocou ontem o seu II Forum Franklin D. Roosevelt, numa sessão iniciada com uma palestra minha sobre "A Europa e a política externa da administração Obama". Sala a abarrotar, público interessado, imensos alunos universitários do continente e dos Açores. A minha intervenção e as várias perguntas que ela terá justificado contribuíram para fazer deslizar o horário do carregado programa, inserido neste estimulante exercício sobre "As relações transatlânticas e os equilíbrios internacionais emergentes".

Partilhar uma análise da Europa e da "nova América" com gente muito interessante, vinda de várias partes do mundo, que olha para a temática com visões diferentes, algumas surpreendentes, foi um privilégio. Vir, para isso, aos Açores - esse "produtor de clima", para utilizar uma feliz expressão do comandante das Lajes - é sempre um imenso gosto. Fazê-lo ao lado da base aérea, cenário de concretização de uma aliança estratégica importante para Portugal, mas também de um momento diplomático a que a História nos poderia ter poupado, constituiu uma sensação curiosa.

O meu texto pode ser lido aqui.

quinta-feira, abril 15, 2010

quarta-feira, abril 14, 2010

Açores (2)

Ao ouvir ontem o presidente do governo regional dos Açores, Carlos César, abordar com frontalidade a questão de novos objetivos, compatíveis e complementares com os atuais, para uma futura utilização das facilidades logísticas de natureza militar existentes na região, dei comigo a pensar que os Açores são, com toda a certeza, a única região portuguesa cuja singularidade estratégica pode justificar uma visão diferenciada, em matéria de segurança e defesa, no contexto nacional português. Estou certo que alguns dirão que a potencial interação Madeira-África representa um outro desafio específico, mas há que reconhecer que a escala de importância é muito diferente. Todavia, qualquer que possa ser a relevância, nomeadamente em matéria económica, que estas duas dimensões regionais possam ter num contexto estratégico português mais alargado, sou de opinião que quaisquer opções que as envolvam e que possam vir a ser feitas no futuro terão sempre importantes resultantes de natureza nacional, pelo que deverão ficar sempre subordinadas a este circunstancialismo mais alargado. Carlos César citou Franklin D. Roosevelt para sublinhar o imperativo de ação neste domínio: há várias maneiras e caminhos para nos movimentarmos, mas só há uma maneira de nos mantermos parados. À bon entendeur... 

Este é um debate complexo, sobre o qual não refleti ainda de forma aprofundada, embora tenha algumas certezas apriorísticas que não vejo, por ora, interesse em abandonar. Contudo, observei hoje, durante um almoço, que ele não escapa há muito à análise arguta de José Medeiros Ferreira, o qual alia a sua qualidade de açoriano de coração a um pensamento muito claro sobre o nosso destino nacional. Por ora, não lhe vou fazer a "maldade" de lhe pedir para fazer uma síntese adaptada a este caso.

Em tempo: numa rua de Angra do Heroísmo, lá estava o letreiro: companhia de seguros "Açoreana", com um "e". Mau! Afinal em que ficamos?

Garzón

O magistrado espanhol Baltazar Garzón, personalidade com expressão mediática ganha na perseguição de algumas sinistras figuras da cena política internacional, está agora sob fogo por ter procurado contornar o compromisso histórico em que assentou a transição espanhola, tentando criminalizar o período franquista.

Pode haver legítimas razões para pensar que a iniciativa a que se propôs, que agora o coloca como alvo da Justiça que tem servido, é despropositada, desajustada no tempo, pode acicatar feridas, reavivar velhos traumas e, no fundo, desservir a democracia que a Espanha laboriosamente conquistou, por entre as tensões autonómicas e as ameaças terroristas.

Tudo isso pode ser verdade e Garzón pode estar errado. No que, a meu ver, ele não está minimamente errado é no esforço que, desde há anos, vem a fazer para impor a dignidade à escala global, colocando a Espanha na linha da frente da Justiça internacional, para saudável inquietação de muitos patifes. Garzón é um homem de bem e não tenho visto isso suficientemente sublinhado.     

terça-feira, abril 13, 2010

Açores (1)


Ontem à tarde, percebi melhor o conceito de periferia. Atrasos de aviões, quase nove horas de Lisboa a Angra do Heroísmo, mais de metade passada em aeroportos, ajuda a entender muita coisa. Quando, noutras eras, me empenhei bastante a defender o apoio europeu à nossa ultraperiferia atlântica, estava longe de supor que a iria experimentar desta forma. Há um preço que se paga por este isolamento e distância insular.

Há mais de dez anos que não vinha aos Açores. Impressionam as infraestruturas, o vento da modernidade, um certo ambiente já cosmopolita, embora atenuado por um saudável espírito de "vila".  

Em Ponta Delgada, não resisti e comprei o "Açoriano Oriental", o mais antigo jornal diário português. Olhando a "mancha", fiquei um pouco desiludido: está um jornal igual aos outros, até com um certa elegância gráfica, mas sem nada de singular. Tinha muito mais graça no passado, mas talvez esta evolução seja inevitável.

Uma última nota: andei uma vida a escrever "açoreano". Afinal é com um "i". Nunca é tarde...

Imagem de Portugal

Quando se entra para a carreira diplomática, a categoria de acesso tem a designação de Adido de Embaixada.

Hoje de manhã, a convite do Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, estive a dar uma aula de "Diplomacia Pública" a cerca de três dezenas de novos Adidos de Embaixada, os quais, desde há dias, passaram a integrar o serviço diplomático português. Estranhei a quebra do número de mulheres admitidas, o que espero seja um fenómeno conjuntural. Foi um prazer colaborar neste exercício, porque há muito que penso que a formação das novas gerações é das tarefas mais úteis a que os diplomatas mais velhos se podem dedicar.

Para além de alguns conselhos ditados pela experiência pessoal, falei-lhes da imagem de Portugal no mundo, do modo de a cultivar, do seu futuro papel na promoção do nosso país na sua atividade no estrangeiro e com os estrangeiros. Procurei dar-lhes conta do que considero ser o privilégio de passarem a ser uma "cara" de Portugal e as responsabilidades que isso acarretem.

Para leitura, deixei-lhes um texto de uma comunicação que, há precisamente dois anos, sobre o assunto apresentei na Assembleia da República, a convite da sua Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. Foi uma intervenção que, na altura, alguns dos meus colegas consideraram um tanto "franca" demais. Confesso, porém, que cada vez me sinto menos vocacionado para utilizar a "langue de bois" de um certo estilo de diplomacia.

Em tempo: este blogue tem recebido alguns (tristemente anónimos) comentários relativos aos critérios de seleção adotados no último concurso de admissão de adidos de embaixada, assunto com o qual, é claro, não tenho nada a ver. Se quem os escreve foi concorrente a esse concurso, a justiça cumpriu-se: a "elegância" do método e da linguagem desqualifica-o/a para o exercício da profissão, desde já. Sendo-o ou não, se alguém tem queixas ponderáveis, em lugar das calúnias anónimas, pode sempre recorrer à impugnação judicial. É tão simples...

Uma nota para os tristes

Há vários anos que, quando penso (e penso muitas vezes) ir comer ao restaurante "Salsa & Coentros", não longe da Avenida do Br...