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quinta-feira, setembro 13, 2018

A montra





No sábado, bati com o nariz na porta (férias...) de uma livraria onde, nesse mesmo dia da semana, quase sempre costumo “arruinar-me devagarinho” (a expressão não é minha), como que a “compensar” a barateza (existirá a palavra?) da conta acabada de pagar no local onde nesses dias almoço.

Ao meu lado, a ver uma das montras, estava um cavalheiro mais idoso do que eu, com o nariz desta vez literalmente no vidro, parado, pareceu-me que a olhar os livros, mas não tenho a certeza. Não lhe vi a cara. A senhora, que até um instante antes estivera junto dele, havia entretanto entrado num prédio. O cavalheiro por ali ficou, visivelmente apenas à espera dela, continuando a olhar a montra, estático, com um cuidado de atenção que o que estava nessa mesma montra claramente não merecia. Nem deu por mim, a um metro, nem por ninguém. Achei estranha aquela fixação e mirei-o melhor. Era António Lobo Antunes. 

Não lhe disse nada, porque tive receio que isso pudesse incomodar o seu silêncio. Conheço Lobo Antunes, falámos algumas vezes. Quando eu vivia em Paris, organizei-lhe na embaixada uma homenagem, que incluiu uma sessão de debate com especialistas e jornalistas. Também por lá, almoçámos e jantámos juntos, noutras ocasiões. É um autor altamente apreciado em França. É conhecido por ter um feitio nem sempre fácil ou, como se costuma dizer, tem fama de ser “de luas”. Há poucos anos, já aqui em Lisboa, passámos um bom quarto de hora de conversa a dois, num velório, falando de várias coisas, de França, de dois dos seus irmãos de quem sou amigo, de Melo Antunes, que era um companheiro dele muito querido. Mas, repito, desta vez decidi não o incomodar naquela sua solidão vidrada na montra errada (o conteúdo da outra montra é geralmente melhor) da minha livraria dos sábados. Se soubesse o que sei hoje, tê-lo-ia interpelado.

E o que é que sei hoje que não sabia no sábado? Soube que António Lobo Antunes vai ter a sua obra publicada na Pléiade, a biblioteca editada pela Gallimard, uma verdadeira “montra” em que só entram os grandes génios da literatura. O único português por lá é Fernando Pessoa. Acreditem em mim: a presença de António Lobo Antunes na Pléiade é uma das maiores homenagens internacionais que podiam ser prestadas à literatura portuguesa. Confesso que é uma grande alegria que, como português, acabo de ter.

Parabéns assim a Portugal e, claro, a António Lobo Antunes!


(ps - já sei que alguns comentários a este post vão-se afastar da honra que é ter ALA publicado na Pléiade, acabando por ser sobre se se gosta ou não dele, se Saramago é melhor, coisas assim... É a vida!)

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Ainda Lobo Antunes

"Triste, eu?!", ripostou Lobo Antunes, a um jornalista que, na manhã de ontem, o interrogou na Embaixada, por ocasião da apresentação de um projeto teatral que lhe é dedicado inteiramente neste semestre, de que já aqui falei, bem como do seu novo livro, em francês, "Mon nom est légion". A pergunta referia-se ao tom geral da sua obra, mas o romancista decidiu tomá-la à letra e falou da "má disposição" que, às vezes, emerge em membros da sua família.

O escritor está, por estes dias, em França. Na conferência de imprensa, fez uma digressão divertida e "solta" em torno da sua relação com este país, dos amigos que aqui sempre teve, demonstrando reconhecimento por quem aprecia e acarinha a sua obra.

Duas notas humanas.

A primeira sobre Jean Daniel. Lobo Antunes revelou que, um dia, o jornalista lhe escreveu, mostrando o desejo de o conhecer. Ora essa era uma admiração facilmente correspondida, já que o escritor, enquanto militar, era leitor atento do "Nouvel Observateur", que lhe chegava à frente de combate, sabe-se lá por que meios.

Tocante foi também o modo como António Lobo Antunes falou do seu novo tradutor, Dominique Nédellec. "Quando o conheci, olhei para ele e não acreditava: pensei que era o Art Garfunkel...". O escritor falou da arte da tradução, que vê como a versão "a preto e branco de um quadro a cores", onde se projeta um trabalho da maior delicadeza. E foi, igualmente, bastante interessante ouvir a perspetiva culta do próprio tradutor, a falar da sua imersão na obra do autor, "assustado" inicialmente pela imensa responsabilidade e, finalmente, agradado com o agrado evidente do criador do texto.

Um belo momento, com António Lobo Antunes, em Paris, ontem.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

António Lobo Antunes

Simplesmente comovente é como posso qualificar o espetáculo "Estado Civil", a que ontem à noite assisti no  espaço do MC93, em Bobigny, nos arredores de Paris. Feito a partir do texto de uma entrevista dada por António Lobo Antunes à jornalista Maria Luísa Blanco, editada em 2002, o trabalho traça, de forma criativa e com uma simplicidade cénica muito rica, o percurso pessoal do escritor, ligando extratos das conversas a textos das suas obras e cartas. É um retrato vivo do Portugal contemporâneo o que acaba por resultar deste excelente espetáculo, onde as memórias familiares de infância (de uma infância em que todos descobrimos traços que nos são comuns) e os traumas evidentes de um percurso profissional dedicado a mentes perturbadas se somam às inquietações eternas da memória lusa da guerra colonial, tudo visto à luz dessa bizarra melancolia, saudosa e torturada, que parece ser o nosso eterno destino e, quem sabe?, o segredo do "esplendor de Portugal", que Lobo Antunes ironicamente celebra num dos seus livros.

Durante todo este primeiro semestre de 2011, diversos textos e pretextos servirão para celebrar a genialidade do escritor, numa temporada teatral (e não só: haverá leituras, gastronomia e muito mais , neste conjunto de eventos intitulado "Ce soir je n'y suis pour personne sauf pour António Lobo Antunes") de 50 sessões organizadas pelo MC93, dirigido por Patrick Sommier, uma estrutura de criação cultural independente que, para o efeito, se aliou à editora francesa de Lobo Antunes, Dominique Bourgois. "Estado Civil" é o primeiro espetáculo dessa série, a poucos dias do lançamento da 25ª tradução francesa do autor. 

quarta-feira, maio 25, 2011

Lobo Antunes

Há um notório fascínio, em França, pela escrita de António Lobo Antunes. Com exceção de dois dos seus livros, toda a obra do escritor português está já traduzida em francês. Ontem, no centro cultural da Gulbenkian - que estás prestes a mudar de endereço, aqui em Paris - Lobo Antunes falou, para umas largas dezenas de atentos ouvintes, sobre o modo como um livro nasce.

Na sua exposição solta, de mais de uma hora, deu exemplos curiosos sobre a experiência de alguns autores e, com grande franqueza, não se eximiu a expor a sua (às vezes chocante) hierarquia de preferências literárias, dando também notas sobre o modo como avalia o estado atual da literatura em diversos países. Na resposta a uma pergunta, referiu que talvez nunca viesse a escrever "o" livro, considerando que a consumação de uma obra, para um escritor, seria o "encadernar da vida". E, citando John dos Passos, concluiu que escrever é, no fundo, "passear pela rua".

A contrastar com a cruel ironia que marcou muito da sua palestra, pude observar, horas depois, toda a frágil sensibilidade do escritor exposta na emoção com que evocou, num pequeno grupo, a saudade do seu íntimo amigo Ernesto Melo Antunes.  

quinta-feira, março 26, 2009

Portugal em Paris

Há poucas horas, no Centro da Fundação Gulbenkian em Paris, António Lobo Antunes contava, durante um magnífico improviso, no contexto de uma palestra sobre o romance histórico, que Mário Soares terá um dia dito que "aos amigos nunca se mente, às mulheres e à polícia (polícia política, claro) mente-se sempre".

Soares esteve hoje em Paris, a caminho de Lille, onde foi entrevistar para a RTP a lider do PSF, Martine Aubry, antes de aqui regressar amanhã, para idêntico exercício com o jornalista e escritor Jean Daniel. Não pude vê-lo porque, com o pintor José David e uma trintena de amigos, estava a essa hora a manifestar o nosso respeito ao pintor José Alvess, na despedida final no cemitério do Père Lachaise.

À saída da Gulbenkian, encontrei Júlio Pomar, que também tinha ido ouvir Lobo Antunes. Deixo aqui o seu famoso e polémico retrato de Soares.

Portugal acaba por ser um país bem pequeno, no bom sentido.

sábado, abril 11, 2009

Lobo Antunes

Meia página no último Le Figaro Littéraire, com foto em destaque na primeira página, dá bem conta da importância que António Lobo Antunes tem em França e do modo como a sua escrita aqui é apreciada.

Desta vez, o pretexto foi a apresentação de "Livre de Chroniques IV", tradução francesa da recolha de textos publicados na Visão, agora editada pela Christian Bourgois Éditeur.

sábado, novembro 18, 2017

Grupo Culturgest


Aqui deixo, em registo para a posteridade, ”au complet”, o grupo que, durante anos (no meu caso, desde 2013), pelas 9.30 horas da manhã de certos dias, reuniu na Culturgest, sob a hospitalidade e a benévola tutela de Miguel Lobo Antunes. 

Reflexões, palestras e textos em jornais resultaram deste trabalho conjunto, parte do qual ficou registado no blogue Pensar Portugal.

Dezenas de pessoas de diversos área da sociedade portuguesa - do setor empresarial, da administração pública, de orgãos de soberania, das instituições europeias, da sociedade civil - contribuiram também para as atividades deste “think tank”, cujas ideias e propostas foram pessoalmente transmitidas ao primeiro-ministro e ao presidente da República.

Na imagem, da esquerda para a direita: Lino Fernandes, João Ferreira do Amaral, Júlio Castro Caldas, Miguel Lobo Antunes (de pé), João Salgueiro, Francisco Seixas da Costa, José Manuel Felix Ribeiro, João Costa Pinto e Fernando Bello.

terça-feira, dezembro 13, 2016

Pensar Portugal

Ao tempo em que ainda vivia em Paris, fui convidado por Miguel Lobo Antunes, diretor da Culturgest, a integrar, quando regressasse definitivamente a Portugal, um grupo que se dedicava a refletir sobre a sociedade portuguesa e o seu futuro. O objetivo do grupo era exclusivamente esse: pensar de forma aberta, sem qualquer espartilho político-partidário, alguns problemas centrais do país, dando especial atenção aos constrangimentos ao seu crescimento, quer na área económica quer na estrutura do Estado, agregando para tal as contribuiçōes externas tidas por interessantes.

À época, para além do próprio Miguel Lobo Antunes, compunham o grupo Fernando Bello, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro e José Manuel Felix-Ribeiro. Com o tempo, juntaram-se-nos João Costa Pinto, Lino Fernandes e Júlio Castro Caldas.

Para além de vários debates organizados na Culturgest, abertos ao público, onde intervieram deputados europeus e muitas outras personalidades, o grupo produziu documentos, que vieram a ser publicados na imprensa, com contributos que, frequentemente, refletiram o saldo de audições feitas a diversos especialistas, num espetro de opiniões sempre muito alargado. Todos os documentos produzidos pelo grupo podem ser consultados no blogue Pensar Portugal (www.pensarportugal2016.blogspot.com).

Hoje, o "Jornal de Negócios" publica o primeiro de dois novos textos do grupo, subordinados ao tema "Mudar de Vida ou a Economia portuguesa na Globalização". Esse primeiro texto pode ser consultado aqui.

sexta-feira, setembro 20, 2013

União política

Hoje, pelas 18.30 horas, na Culturgest, acompanharei o deputado europeu Rui Tavares numa conversa sobre a União Política europeia.
 
Este será o último de uma série de encontros que a Culturgest decidiu promover sob a temática comum "Portugal e a reformatação da Europa: incertezas, riscos, opções", que até agora já contou com a participação dos deputados ao Parlamento europeu Elisa Ferreira, Paulo Rangel e Diogo Feio.
 
É talvez altura de revelar que esta iniciatica resultou de uma "conspiração euro-preocupada" para a qual fui convidado pelo diretor da Culturgest, Miguel Lobo Antunes, e que envolveu os nomes de Fernando Bello, João Costa Pinto, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro e José Manuel Felix-Ribeiro.  

sábado, março 07, 2009

Portugal em Charente

Chama-se Caroline Fombaron e é uma francesa responsável autárquica pela cultura na zona de Angoulême. Deu-nos uma lição de simpatia para com Portugal.

O seu festival Mars en Braconne tem a sabedoria de conseguir combinar, com elegância, dimensões contemporâneas da cultura portuguesa com valores tradicionais que são caros à nossa Comunidade.

Hoje, ouviram-se Eça, Pessoa, Torga e Lobo Antunes. Até dia 28, haverá música (desde a barroca ao fado e ao hip-hop), videos, fotografia, curtas e longas metragens (de Oliveira a Maria de Medeiros e Miguel Gomes), teatro, mais leituras dramáticas de textos e muito mais.

Um festival que tenho pena de não conseguir organizar... em Paris!

segunda-feira, março 29, 2010

Livros

É um prazer passear pelo Salon du Livre, que nestes dias tem lugar aqui em Paris, olhar as edições cada vez mais bem construídas e apelativas, ficar com aquela sensação angustiante de que há um mundo inatingível, constituído por tudo aquilo que gostaríamos de ter tempo para ler - e nunca teremos. No domingo, ao percorrer as centenas de bancadas e estantes, com uma imensidão de títulos, uns apetecíveis outros indiferentes, senti-me como o Jacinto, naquela noite no 202 dos Champs Elysées, quando, esmagado pela incomensurável sabedoria reunida na sua biblioteca, tomado do embaraço da escolha, acabou, num enfado, por descortinar num canto um velho e datado exemplar do "Diário de Notícias", levando-o como derradeira leitura de cabeceira. É que dei por mim, ao fim de várias horas de folheanço, a apenas comprar um pequeno livro da sempre magnífica "Que sais-je?"...

Ontem, António Lobo Antunes e Jean d'Ormesson dialogaram no espaço principal de debate do Salon du Livre. Com muita pena minha, não pude assistir. Dizem-me que a intervenção do escritor português foi fascinante.

quarta-feira, setembro 11, 2013

Santiago

 
Foi há 40 anos. Dia por dia. Ao final da tarde de 11 de setembro de 1973, um pequeno grupo de soldados-cadete, de "Ação Psicológica" e "Licenciados em Direito", da Escola Prática de Administração Militar, ao Lumiar, fazia formatura para sair da unidade.
 
Um dos cadetes, hoje figura pública, disse: "Já sabem as novidades do Chile? O Allende está prestes a ser derrubado por um golpe de estado militar. Convido todos a virem beber uma taça de champanhe a minha casa. Temos de comemorar!"
 
A maioria do grupo era extremamente conservadora e, se bem me lembro, exultou com a notícia. O António Franco, o Miguel Lobo Antunes e eu (e creio que mais ninguém) rugimos algumas imprecações, reagindo para provocar os colegas "fachos".
 
Até que o António se saiu com esta: "Vocês estão é com sorte. Já entreguei no armeiro a minha G3..."

domingo, maio 24, 2015

Diplomatas


Há dias, descobri por acaso, numa livraria, um pequeno livro editado pela Universidade Católica Editora que recolhe os testemunhos pessoais de seis embaixadores portugueses sobre o futuro da União Europeia. Trata-se da transcrição de palestras feitas em 2013 e 2014 pelos nossos embaixadores em Madrid, Roma, Londres, Berlim, Dublin e Paris - respetivamente, Álvaro Mendonça e Moura, Manuel Lobo Antunes, João de Vallera, Luís de Almeida Sampaio, Bernardo Futscher Pereira e José Felipe Moraes Cabral.

Lamento imenso que este livro não tenha tido a divulgação que merece. Cada um a seu estilo, com perspetivas e metodologias de abordagem diferentes, estes meus colegas, também muito diferentes entre si, apresentam um magnífico fresco de reflexões sobre a Europa, lida esta a partir dos países onde estão ou estiveram acreditados.

Tenho pena que a classe política portuguesa e a nossa comunicação social não leia com atenção estes trabalhos, porque talvez pudesse, através deles, avaliar da excecional qualidade de observação da nossa diplomacia, do modo atento como defendem o interesse português no contexto da União Europeia e do mundo, bem como da profundidade, culta e profissional, da sua abordagem. É que, ao fazê-lo, talvez pudessem diluir algumas ideias preconceituosas sobre aquela que é uma grande carreira de serviço público, por vezes caricaturada e muito mal tratada. 

sábado, março 04, 2017

Miguel Lobo Antunes


Sou muito suspeito, sou amigo do Miguel, por quem tenho uma grande admiração, pelo que é e por tudo quanto soube construir ao longo da vida, com azares e muitas coisas boas pelo meio. Fizemos "tropa" juntos, temos algumas ideias (nem todas) em comum, mas eu tenho melhor feitio do que ele (o que, aliás, é fácil).


A seu convite, faço parte de uma "conspiração do bem" que ele criou há vários anos, uma combinação improvável de pessoas que discretamente se dedica, sem a menor agenda de interesses, a refletir sobre os caminhos de futuro para o país - e que deve ser a única "tertúlia" no mundo que reúne às 9.30 da manhã (temos água e café de borla).

Gostei agora de uma entrevista que deu, feita, com a serenidade inteligente de sempre, pela Ana Sousa Dias, onde ele se mostra perplexo com a reforma que aí (lhe) virá.

Não te preocupes, Miguel! O ativo ou a reforma não são categorias que se excluam mutuamente. Conheço muita gente que, estando teoricamente "no ativo", está "reformada" há muito, às vezes desde sempre. E, tal como tu, também conheço alguns "maduros" para quem estar tecnicamente reformado significa apenas ter conseguido muito mais tempo para aquilo em que quer manter-se ativo.

Welcome to the club, old chap!

(Leia-se a entrevista aqui)

quinta-feira, março 01, 2018

“Crónicas da Visão”




Tive o gosto de ver um texto meu - “O tempo e o medo” - incluído numa antologia de crónicas publicadas pela revista “Visão”, entre 1993 e 2018, numa edição comemorativa dos 25 anos da revista, que foi hoje distribuída.

Surjo nessa coletânea em belíssima companhia: José Saramago, Manuel António Pina, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, Manuel Alegre, Dinis Machado, Eduardo Prado Coelho também Mário Soares, Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Lourdes Pintasilgo, Adriano Moreira e Ricardo Araújo Pereira, entre alguns outros.

sábado, janeiro 04, 2020

Júlio Castro Caldas


Morreu Júlio Castro Caldas, leio nas notícias. 

Já o não via há muito tempo e, em especial, havia notado a sua falta ao almoço em que, há uns tempos, juntei em minha casa aquilo a que chamo o “grupo dos nove e meia“ - essa tertúlia “do bem”, para refletir sobre país, que, sob o estímulo de Miguel Lobo Antunes, reuniu por vários anos, às nove e meia da manhã (não conheço outras tertúlias matutinas), na Culturgest, tendo publicado alguns textos coletivos, ainda consultáveis aqui. O Júlio foi um dos últimos membros a aderir ao grupo, mas a sua participação, num estilo que lhe era muito próprio, era sempre muito informada e animada. Na fotografia dos membros dessa tertúlia, Júlio Castro Caldas é o único que se vê de casaco.

Um dia, numa conferência de imprensa no fim de um Conselho Europeu, nos anos 90, um jornalista perguntou a António Guterres se já tinha nomes para uma remodelação do governo de que toda a gente falava. Guterres disse que nomes não faltavam, se quisesse fazer uma mudança e exibiu um pequeno retângulo de papel com coisas rabiscadas. Eu estava ao seu lado e, quando ele pousou o papel sobre a mesa, saltou-me à vista a sigla JCC. Quando nos íamos a levantar, ousei perguntar-lhe: “Está a pensar no Júlio Castro Caldas?”. Notei que Guterres ficou um tanto surpreendido, e talvez desagradado, com a minha “espionagem” e pouco adiantou. Eu tomei nota da sigla.

A remodelação acabou por ter lugar e Castro Caldas não entrou no governo. Passaram uns meses e, um dia, vi Júlio Castro Caldas assumir o ministério da Defesa, pelo que concluí afinal tinha razão. Foi já com o novo ministro que, tempos mais tarde, me desloquei, em substituição de Jaime Gama, a uma reunião ministerial da União da Europa Ocidental (UEO), creio que em Bruxelas, tendo estabelecido com ele uma excelente relação. Lembro-me, meses depois, de ter estado com o Júlio, a convite de António Guterres, num almoço restrito com Mikhail Gorbachev, em S. Bento. Depois de sair do governo, fui para o estrangeiro, perdemo-nos de vista e só nos voltaríamos a reencontrar nessa tertúlia da Culturgest.

Júlio Castro Caldas era uma figura muito cordial, que rapidamente tratava as pessoas por tu, como comigo sucedeu, desde o primeiro momento. Além de ser um advogado de primeira linha, era um homem que gostava da vida e dos amigos. Tinha sempre histórias magníficas, sabia de factos que ninguém mais sabia, era intenso e definitivo na apreciação das coisas do mundo e da vida. Vida e mundo de que agora se despediu.

segunda-feira, outubro 31, 2016

UP


A revista UP, que a TAP oferece aos seus viajantes, convida todos os meses uma personalidade diferente a escrever o seu editorial. A ideia é elaborar uma curta mensagem personalizada, em português e inglês, que estimule quem nos visita a conhecer algo mais sobre o país.

Tive o prazer de ser convidado a ser o "anfitrião" da UP do mês de novembro, que estará em distribuição a partir de amanhã. Tenho assim o privilégio de juntar-me a figuras como Miguel Sousa Tavares, Gonçalo M. Tavares, Clara Ferreira Alves, Lídia Jorge, João Lobo Antunes e muitos outros.

No meu texto, optei por estimular os visitantes para olharem para Portugal para além dos "clichés" dos guias turísticos e, muito em particular, a chamar a atenção para Trás-os-Montes, uma zona do país que a maioria estrangeiros, mas também muitos portugueses, ainda desconhecem - e não sabem o que perdem!

Mas é melhor lerem:

Uma vida passada em grande parte fora de Portugal fez de mim um quase obsessivo turista no meu próprio país. Por décadas, parte importante das minhas férias era passada a recuperar o que perdia no resto do ano. E essa viagem nunca mais parou.

Nessas visitas, fui criando uma espécie de mapa, humano e cultural, do meu Portugal afetivo. Frequentemente, dei por mim a testar, junto de amigos e conhecidos estrangeiros que nos visitavam, esse meu íntimo guia sentimental. Para tal, era importante transmitir-lhes alguns instrumentos para a compreensão do país. E nada melhor, para isso, do que revelar o modo como eu próprio me comportava no meu eterno regresso a Portugal.

São coisas bastante simples, como o atentar no movimento num largo principal de uma aldeia recôndita, na alegria de uma festa popular numa vilória, no silêncio de uma paisagem, de um miradouro improvisado. Mas, igualmente, o gosto de nos sentarmos no «café central» das cidades de província, olhando a coreografia social, o prazer em descobrir restaurantes e tascas em locais recônditos, onde nos servem vinhos que não conhecemos, doces que por ali se conservam por tradição. E também aquilo que se aprende ao entrar em pequenas lojas, fora dos grandes circuitos de comércio, onde se encontram coisas insólitas, entrecruzadas com conversas e amena simpatia.

É que, longe dos locais turísticos que os guias apontam ao visitante minucioso, existe um Portugal sereno que, sem se impor, se oferece discretamente a quem o visita. E em que vale a pena um visitante perder-se.

Desse Portugal, que não sendo imenso é, ainda assim, muito diverso, o que é que eu selecionaria para apontar, como um destino seguro, a um visitante estrangeiro disposto seguir o meu conselho? Um país feito de dureza de vida, de beleza única, de gentes fortes e de caráter: Trás-os-Montes.

Trás-os-Montes é a natureza mais bravia que Portugal tem para oferecer. Situado, como o nome indica, por detrás das grandes serras nortenhas, é um mundo de paisagens deslumbrantes, de uma culinária preciosa, de cidades cheias de história. Miguel Torga, o poeta que por lá nasceu, chamou-lhe, imodestamente, “o reino maravilhoso”. E talvez não tenha exagerado. Para lhe dar razão, basta atentar no rio Douro, que desenha a fronteira sul da região, obra ímpar da natureza e do homem, no colorido das vinhas que são a sua riqueza, na majestade dos seus vales profundos.

Vá a Trás-os-Montes! Arrisque perder-se naquilo que Portugal tem de mais autêntico, genuíno e belo. E, depois, diga-me se eu não estava certo.

sexta-feira, março 18, 2016

"Portugal no Mundo - Um debate inadiável"


No jornal "Público" de hoje surge um artigo coletivo, sob o título "Portugal no Mundo - um debate inadiável".

Subscrevem-no o antigo ministro das Finanças, João Salgueiro, o presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal, João Costa Pinto, os economistas e professores universitários João Ferreira do Amatal e José Manuel Félix Ribeiro, o jurista e diretor da Culturgest, Miguel Lobo Antunes, e eu próprio.

Trata-se do resultado de uma reflexão alimentada por um grupo que, desde há vários anos, promove análises sobre os problemas do país, o mesmo que publicou, há meses, um texto sobre a reforma da Administração Pública e tem levado a cabo a organização de várias jornadas de debate.

Neste caso, é um texto sobre o nosso futuro como país face ao mundo e, muito em particular, face à Europa. O artigo reflete sobre opções que foram feitas, sobre as condicionantes existentes, apelando a um debate, aberto e sem tabus, sobre alguns dos caminhos possíveis para o nosso destino coletivo, adiantando algumas pistas e procurando suscitar a novas ideias.

Pelo facto de não ser ainda possível fazer um link para o jornal, coloquei por ora o texto num outro suporte onde pode ser consultado.

sábado, janeiro 09, 2016

"Reformar a Administração Pública"


O "Público" de hoje insere uma reflexão sobre o tema em epígrafe, para a qual gostaria de chamar a atenção dos leitores deste blogue. São autores do texto Fernando Bello, João Ferreira do Amaral, João Costa Pinto, João Salgueiro, José Manuel Felix Ribeiro, Miguel Lobo Antunes e eu próprio.

Este documento é resultado do aprofundamento daquela tema, feito com a audição de diversas personalidades altamente qualificadas no setor, sendo que o texto apenas vincula os seus subscritores.

Desde há mais de três anos que o grupo que deu origem a este documento tem vindo a organizar, com o apoio da Culturgest, um conjunto de iniciativas, algumas das quais com expressão pública, em torno de grandes questões que atravessam a sociedade portuguesa e o papel do Estado no seu seio.

Leia o texto aqui

segunda-feira, setembro 24, 2018

Portugal no Brasil (2)

Aqui deixo a segunda polémica.

Prezado Senhor Mino Carta
Director de Redacção da Carta Capital

Leitor atento da vossa revista, acabo de ler o artigo do vosso colaborador Miguel Sanches Neto, sob o título de ‘Brasil recolonizado’, no último número da Carta Capital. Gostaria de ter o direito de réplica a essa peça, pelo que lhe envio em anexo um texto cuja publicação muito agradeceria. Com os melhores cumprimentos.

Francisco Seixas da Costa
Embaixador de Portugal no Brasil

*** 

Quem tem medo de Inês Pedrosa?

No Brasil há menos de um ano, aprendi rápido que a abertura ao mundo constitui uma das matrizes deste país, fruto da sua permanente convivência descomplexada com a diferença. A brasilidade fez-se e firmou-se sobre todas as marcas e referências que aqui chegaram, usando-as e transformando-as num magma cultural original, com uma identidade fortíssima, que hoje não precisa de defesas artificiais para se afirmar.

Por tudo isso, foi com alguma surpresa que li o artigo de Miguel Sanches Neto, ‘Brasil recolonizado’, onde é feita uma aberta apologia do proteccionismo linguístico, do fechamento da fronteira cultural do Brasil à nova literatura portuguesa, tida por poluente veículo de uma estética convencional, apoiada numa norma escrita já decrépita, fechada à sacralização da oralidade. A crer no autor, urge afundar no horizonte, pela crítica profilática, as novas naus de letras que agora trazem por aí Inês Pedrosa, Sousa Tavares, Lídia Jorge, Lobo Antunes, Hélder Macedo, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Francisco José Viegas, Rui Zink e tantos e tantos outros, com o usurpador nobélico Saramago na proa. Por que não se deixa que sejam os leitores brasileiros a usar a sua maturidade para separar o trigo do joio, o que gostam ou não, sem necessitarem de filtros tutelares preventivos?

Faço a justiça de não colocar Sanches Neto nos cultores do despeito atávico pelo que vem da ‘terrinha’, coisa velha em algumas mentalidades residuais, onde o anti-portuguesismo – essa doença infantil da brasilidade – se mantém recorrente, espreitando pelas esquinas do preconceito, sobrevivendo em algumas vozes e penas, no desespero em tentar fazer do Brasil e de Portugal dois países separados por uma língua comum. Mas é bem triste ver adubada e ajudada essa mesma deriva por figuras da cultura, dando verniz ideológico e intelectual ao preconceito.

Deixo apenas uma nota mais.

Na minha juventude em Portugal, a ditadura não se atrevia a privar-nos de Amado, Guimarães Rosa ou Veríssimo, a afastar-nos da Pasárgada da esperança acenada por Bandeira, que nos ajudava a sonhar longe dos ‘mortos de sobrecasaca’ que nos rondavam os dias. Se alguém hoje ousasse por lá dizer que Nélida Piñon, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro ou o outro Veríssimo afectavam a estética literária caseira teria, como resposta, uma gargalhada do tamanho do Atlântico, ouvida no Além pela velhinha de Taubaté*.

(*) A "velhinha de Taubaté" foi uma figura suscitada em textos de Luiz Fernando Veríssimo, que, à época, era muito conhecida no Brasil

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