Ontem, por razões óbvias, lembrei-me muito de “O Norte Desportivo”. Era um jornal portuense retintamente portista, num tempo - anos 50 e 60 do século passado - em que os émulos de Lisboa não assumiam claramente as suas cores afetivas, embora toda a gente soubesse que “A Bola” era maioritariamente benfiquista, que no “Record” se exultava com as vitórias do Sporting e que “O Mundo Desportivo” tinha de tudo um pouco, desde os dois rivais lisboetas ao Belenenses.
Joaquim Alves Teixeira era o diretor e, dizia- se, o grande redator de “O Norte Desportivo”, um jornal que tinha a interessante particularidade de ter uma edição ao final da tarde de domingo, que trazia os resultados das partidas. Estas tinham lugar, impreterivelmente, às três da tarde de domingo. A variedade de dias e de horas, por que, nos dias de hoje, se distribuem as jornadas futebolísticas, foi o resultado de uma deriva progressiva, muito motivada pelas transmissões televisivas.
Quem andava nessa altura pelo Porto tinha, nos domingos, a opção, mais barata, de ir saber os resultados “da bola” (como então se dizia muito) junto à porta de “O Comércio do Porto”, nos Aliados, onde, num papel afixado, estava quantificada toda a jornada, logo depois das cinco da tarde. Muitos ficavam por ali em grupo, a comentar.
Outros acabavam por descer para a Praça, esperando, junto ao Imperial, pela edição da “folha” de Alves Teixeira, que por ali chegava um pouco depois das seis, com a tinta ainda por secar, sujando as mãos dos leitores. O jornal, que nem era caro, lia-se num ápice, porque era pouco dado às “literatices” dos colegas de Lisboa.
Eram muito curiosos os relatos ali escritos sobre os jogos principais. Ao ler essas crónicas, notava-se que eram feitas pela cumulação sequencial de textos ditados pelo telefone, todos os cinco minutos, que iam sendo de imediato compostos pelos tipógrafos, para não atrasar a saída do jornal. Às vezes, as coisas acabavam por não “rimar” umas com as outras, o que tornava as crónicas algo divertidas.
Durante anos, Alves Teixeira tinha um mote regular: apelar ao regresso ao Porto de Yustrich, um disciplinador treinador brasileiro, que tinha dado algumas alegrias ao clube das Antas. Esses tinham sido também os tempos de Jaburu, um excelente jogador, também brasileiro, em quem se dizia que Yustrich batia. Era uma coisa quase certa: sempre que as cores azuis entravam em declínio num campeonato, o que então era vulgar, lá vinha ele com a ideia do retorno do treinador.
Um dia, Yustrich acabou mesmo por vir. E foi um fracasso.
Dificilmente se é feliz duas vezes no mesmo sítio.