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quarta-feira, agosto 17, 2011

Porto

A França continua liderar as compras mundiais de vinho do Porto, de acordo com as estatísticas mais recentes. 

Um dos "mitos" que ainda subsiste, ligado ao consumo de Porto, diz respeito ao Reino Unido, que, por muito tempo, foi o destino preferencial daquele produto. Ainda hoje, se perguntarmos à maioria dos portugueses qual o maior consumidor do vinho do Porto, a maioria indicará, seguramente, o mercado britânico. Ora países como a Holanda, ou o próprio mercado interno português, já hoje ultrapassam, em muito, o Reino Unido.

Em 2011/2012, em articulação com a AICEP e o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto vamos tentar reforçar a promoção do vinho do Porto no mercado francês. Também no próximo ano, a Embaixada portuguesa em Paris vai acolher a atribuição do prémio ao melhor "sommelier" francês especializado em vinho do Porto.

O vinho do Porto, um produto de altíssima qualidade e prestígio, cuja comercialização sofre de alguns problemas, continua a ser uma das grandes imagens de marca de Portugal. E temos muito poucas.

terça-feira, agosto 16, 2011

"Eurobonds"

Leio hoje no título do "Público": "Eurobonds fora da agenda da cimeira entre Merkel e Sarkozy".

E recordo-me disto:

"O recurso ao endividamento comunitário, através de obrigações europeias (eurobonds), constituiria um sinal de empenhamento da União com soluções de natureza comunitária, num momento em que se verificam restrições de natureza orçamental para prosseguir, a nível nacional, acréscimos nos investimentos públicos, nomeadamente aqueles que eventuais choques assimétricos provocados pelos impactes diferenciados do euro no tecido económico e social da União vierem a justificar."

(in "Diplomacia Europeia - instituições, alargamento e o futuro da União", ed. Dom Quixote, Lisboa, 2002, pag 177)

Aqui deixo este extrato de um texto ("Uma Europa Solidária?") que escrevi, há mais de 12 anos, republicado em livro, em 2002.

sábado, julho 30, 2011

"Faturinha" ?

- Vai querer faturinha?

Irrita-me esta pergunta, frequente no final das refeições em restaurantes portugueses. Claro que quero sempre "faturinha", na ilusória esperança de que, assim procedendo, estarei a contribuir para evitar a evasão fiscal (depois, deito fora o papelinho, de imediato) e para que o Estado não seja lesado. Aliás, acho que deveria ser punível, por lei, fazer a pergunta e que a fatura, como acontece em muitos países decentes (e até em alguns que o são menos), deveria suceder-se, de forma automática, ao pagamento.

- Se quer faturinha vai ter de me dar um número fiscal e um nome completo.

Esta nunca me tinha acontecido! Mas surgiu-me hoje, depois de um almoço num restaurante. Essa agora! Se assim for, só alguns bem afortunados da economia privada, que podem descontar almoços e jantares no IRC ou no IRS, por deduções fiscais alfaiatadas à sua medida, é que passarão a dar-se ao trabalho de transmitir os seus dados pessoais (ou da empresa, o que é mais certo) para a emissão da fatura. Os restantes cidadãos, nomeadamente os trabalhadores por conta de outrém (como é o meu caso), que pedem fatura apenas para terem a certeza cívica de que os proprietários dessas casas comerciais pagam os impostos devidos, tenderão a não ter esse trabalho cumulativo, que implica uma tarefa extra aos restaurantes e a perda de tempo. E é assim que se estimula a evasão fiscal, que todos dizem condenar.

Entre a sábia legião de leitores deste blogue alguém pode esclarecer (1) se é obrigatório ou não emitir sempre fatura, mesmo sem pedido expresso, e (e) se somos ou não obrigados a dar um nome e número de contribuinte para a emissão da mesma?

terça-feira, julho 19, 2011

Federalismo europeu

Durante muitos anos, o conceito do federalismo europeu fez o seu caminho com base na ideia de que os cidadãos, satisfeitos com a Europa que já tinham, acabariam por ganhar a convicção de que terem ainda "mais Europa" seria a boa receita para um seu futuro de progresso, como até então tinha acontecido. Essa ideia não vingou a partir do momento em que a Europa "tocou" nas temáticas mais próximas do "core" da soberania dos Estados e em que, simultaneamente, se verificou que a dinâmica de certas políticas, por razões próprias ou conjunturais, não tinha um comportamento positivo.

A derrotada Constituição europeia não era - ao contrário do que alguns desatentos pensaram - um passo para um destino federal, mas simplesmente um modelo sofisticado de oligopólio que, com outras roupagens, acabou por resultar no Tratado de Lisboa. Este, tal como aquela, foi a forma de garantir a quantos se haviam habituado a controlar o processo europeu antes do "grande alargamento" que não veriam o seu poder relativo afetado após a concretização deste. Mas, para que tal fosse possível, era necessário reduzir drasticamente o papel do principal elemento proto-federal europeu, a Comissão europeia. O que foi feito.

A ideia do federalismo volta agora a surgir no discurso europeu, mas por um motivo completamente oposto: pela ineficácia das políticas europeias em vigor e pelo fracasso de vários aspetos do atual projeto, como sendo a solução, embora sectorialmente fixada no caso da moeda, que poderia permitir encontrar uma saída para a crise. A grande ironia do atual debate é que se pretende "federalizar" a Europa, num tempo em que muitos Estados se sentem, à sua escala nacional interna, confortáveis com a deriva intergovernamental que entretanto ocorreu, muito por via do Tratado de Lisboa.

O caráter contraditório de tudo isto é que, no primeiro caso, o passo federal iria corresponder à evolução da vontade democrática dos povos e, no caso presente, ele configuraria apenas a consagração de um voluntarismo, forçado por um imperativo de um estado político de necessidade, em contra-ciclo com a própria dinâmica dominante no projeto europeu.

A politica não se faz de "fezadas". Mas, devo dizer, não acredito que seja possível instituir um modelo alternativo ao que temos, com um grau de integração ou "federalização" superior, se se pretender que ele venha a abranger todos os "sócios" atuais. E, mesmo nesse modelo mais restrito, essa "federação" nunca passaria de uma espécie de "condomínio" de oportunidade, uma espécie de "cooperação reforçada" de natureza sui generis.

Mas aguardemos, para ver.

terça-feira, julho 12, 2011

A hora da crise

Há quem pense que a zona euro pode estar a entrar no seu verdadeiro primeiro momento de verdade. O alargamento da situação de fragilidade de uma economia nacional com a dimensão e a importância da Itália, a confirmar-se a sua gravidade, conduz agora a crise europeia para um patamar diferente. 

Já não se tratará, simplesmente, de controlar derivas de economias periféricas, com mais ou menos "panos quentes" e "espadas de Dâmocles" individualizadas, mas de decidir, de uma vez por todas, se um projeto monetário comum pode, ou não, sobreviver sem instauração de outros mecanismos de natureza compensatória ou instrumentos criativos de financiamento, como os "eurobonds". Porém, a viabilidade destes modelos está dependente de um conjunto tão complexo de variáveis, nas muito diversas ordens políticas nacionais, que começa a ser legítimo interrogarmo-nos sobre se isto não será "areia demasiada" para a "carroça" europeia. 

Ontem à noite, um observador com grande experiência nestas andanças europeias dizia-me que temia que, um destes dias, um projeto que demorou décadas a construir pudesse ruir, como um castelo de cartas, em pouco tempo. Esperemos que este pessimismo não tenha razão de ser, até porque o modelo europeu tem agregado a si um conjunto de realizações (em especial, algumas políticas comuns), independentes do projeto da moeda única, que seria de grande irresponsabilidade pôr em causa.

Uma coisa é certa: em qualquer desses cenários, o saneamento das contas públicas, como aquele que Portugal está a levar a cabo, com grande coragem e determinação, continuará sempre a ser essencial. Não é por uma doença deixar de ser individual e, eventualmente, começar a mostrar-se como epidémica, que devemos deixar de tratar-nos.

segunda-feira, julho 11, 2011

Cortiça

3,3 biliões de rolhas de cortiça - isto é, uma para cada seis garrafas de vinho em todo o planeta - são vendidos anualmente pelo grupo Amorim, que tem em França, perto de Bordéus, uma filial, que tive oportunidade de visitar, em 2009.

O administrador do grupo, António Rios Amorim - que, por coincidência, é meu colega no Conselho Geral da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro -, deu uma entrevista ao importante diário Sudoeste onde também revela que, depois de um crescimento de concorrentes plásticos, "a rolha de cortiça está de volta". Boas notícias.

sexta-feira, julho 08, 2011

Ainda as agências de notação

Quem estiver interessado pode consultar o artigo que hoje publico no principal diário económico francês sobre o comportamento das agências de notação financeira quanto à economia portuguesa.

O texto foi enviado na tarde de quarta-feira para o jornal. A questão colocada no seu último parágrafo acabou por ser (parcialmente) respondida ontem à tarde pelo Banco Central Europeu. Só nos podemos felicitar.

Leia o artigo (em francês) aqui (ou aqui) ou em português aqui.

A pedido da TSF, comentei o artigo desta forma.

quarta-feira, julho 06, 2011

Notações

Uma agência de "rating" internacional acaba de baixar a classificação de Portugal, assinalando um aumento de risco em torno da nossa economia, fazendo disparar os juros das obrigações portuguesas.

A publicação deste parecer, na véspera de um leilão de dívida, encarecerá os custos do Estado. Mas, essencialmente, acarreta um peso acrescido no normal processo de endividamento de outras entidades públicas e privadas, cujo respaldo do Estado português surge agora enfraquecido, com garantias mais difíceis de concretizar.

Não importa aqui "chover no molhado" sobre os critérios dessas agências, apenas sendo justo lembrar uma vez mais que o seu atual rigor serve, de certa forma, para compensar o olhar distraído que elas tiveram, durante anos, perante os riscos de muitos produtos financeiros sem credibilidade, que estiveram na origem da atual crise. 

O que agora afeta, na perspetiva dessas agências, a situação portuguesa, não tem em mínima consideração os esforços que as autoridades portuguesas estão a levar a cabo, colocando em prática, com um apoio político maciço e com um imenso sentido de responsabilidade, um programa de um rigor orçamental sem precedentes. 

No passado, como foi o caso das intervenções externas nos anos 70 e 80, o nosso país já havia dado mostras de ter capacidade para superar graves crises macroeconómicas. E a disposição corajosa que agora Portugal está a demonstrar é a melhor prova de que tudo faremos, uma vez mais, para superar esta nova situação. Mas nem a serenidade responsável com que o povo português está encarar o esforço que lhe é solicitado parece convencer os "olheiros" das agências de notação da nossa determinação.

Agora tudo se passa como se os rumores em torno de uma possível reestruturação da dívida grega, fruto de uma situação nacional muito específica que todos reconhecem diferente da nossa, tenham necessáriamente que arrastar Portugal para um tratamento idêntico pelos mercados.

Não deixa de ser irónico que, tendo o nosso país acordado com as instituições europeias e com o FMI um pacote de profundas reformas e de cortes drásticos na despesa pública, algumas das quais antecipadas já por nossa decisão autónoma, as agências de notação acabem, afinal, por mostrar-se "mais papistas do que o papa".

Será talvez legítimo pensar que a União Europeia, e, dentro desta, os atores principais que definem as opções de reforço da zona euro, talvez devesse refletir bem no facto de que esta permanente "navegação à vista", com decisões cumulativas "ad hoc", suscitadas em resposta à corrente dos acontecimentos, vai ser o melhor aliado do jogo especulativo dos mercados. Esta política de medidas avulsas acaba, sem a menor dúvida, por tornar muito mais caro agora aquilo que uma atempada decisão, firme e consequente, já poderia ter estancado há muitos meses. 

O que se passou nas últimas semanas, com alguma cacofonia contraditória entre a linha política do BCE e as iniciativas em torno dos "heterónimos" criativos com que alguns tentam tratar a ideia de reestruturação da dívida grega, aí está a mostrar os seus indesejáveis frutos.

(este texto serviu-me de "inspiração" para o artigo que, no dia 8.7.11, publiquei nos "Les Echos" - ver mais acima)

terça-feira, julho 05, 2011

Tomar nota!

Portugal é o 5º maior produtor de vinhos da Europa e o 10º a nível mundial.

quarta-feira, junho 29, 2011

Empresas e diplomacia

O ministério dos Negócios Estrangeiros francês - o Quai d'Orsay, no jargão vulgar - proporciona aos embaixadores aqui acreditados, bem como a personalidades parlamentares ligadas às relações externas, encontros matinais, à volta de um café e de um croissant, com dirigentes dos maiores grupos económicos franceses. Estive hoje em mais uma dessas reuniões.

Não somos muitos aqueles que, impreterivelmente, entre as 8.30 e as 9.45 da manhã, comparecemos, com regularidade, a esses encontros. Devo dizer que, sem uma única exceção, saí até hoje dessas palestras, seguidas de perguntas, sempre mais enriquecido com as informações e as análises transmitidas por essas figuras relevantes do tecido empresarial francês. Para além de ficar a conhecer as suas empresas e o modo como elas olham o mundo e o seu futuro, esses encontros também me têm feito entender melhor as razões do êxito dos principais setores da economia francesa.

Uma última nota: nesses encontros, estão sempre presentes os dirigentes de topo desses grupos económicos. Nunca se fazem substituir, por exemplo, devido a "impedimentos de última hora". "À bon entendeur".

segunda-feira, junho 20, 2011

Le Bourget

Em 2009, eram apenas 10 as empresas portuguesas que, num pequeno e esconso espaço, estiveram no salão aeronáutico bianual de Le Bourget. Falei disso aqui

Na altura, senti alguns hesitantes, outros mais entusiastas, ainda com escassa ligação entre si. Recordo-me que organizei entre eles um jantar de trabalho, que correu bem. Na sequência deste encontro, marquei, a pedido de algumas dessas empresas, contactos em Portugal, a níveis que considerei adequados. Vim a saber que se revelaram frutíferos.

Passaram dois anos e o panorama, na visita que lhes fiz na manhã de hoje a Le Bourget, é outro bem diferente: são agora 37 empresas, com elevado grau tecnológico, num excelente e apelativo stand, agora sob a coordenação da AICEP,  com uma imagem que muito dignifica o nome de Portugal. Algumas dessas empresas têm já uma muito razoável carteira de negócios, outras avançam com projetos magníficos. Grande parte delas colaboram entre si, somam valências e, muitas vezes, estão a aproveitar a porta que a presença da Embraer no Alentejo começa a abrir. No Brasil, tive o privilégio de ter sido testemunha presencial, em S. João dos Campos, do momento em que se lançaram as bases para aquilo qur se pretende venha a ser um polo de indústria aeronáutica em Portugal. O caminho está aberto, finalmente.

Hoje à tarde, juntei cerca de meia centena desses empresários numa receção na embaixada. De todos colhi otimismo e alguns fizeram-me a descrição do que foi o percurso de progresso que os trouxe até aqui. 

Há dias em que ser embaixador de Portugal é particularmente gratificante. Hoje foi um deles.

quinta-feira, junho 16, 2011

Cohn-Bendit e Portugal

Fico às vezes com a sensação que alguns deputados eleitos para o Parlamento Europeu adquirem, só por esse facto, um conhecimento, quase renascentista, que, a partir desse instante, os autoriza a falar de cátedra praticamente sobre tudo o que toca às relações internacionais. Está longe de ser o caso da maioria, mas sente-se que alguns dentre eles, qualquer que seja a sua nacionalidade, logo que eleitos para o areópago volante entre Bruxelas e Estrasburgo, se sentem ungidos por uma espécie de autoridade, não apenas pan-europeia, mas mesmo à escala global. Com a imprensa a adorar as belas e sonoras frases que podem dar títulos, está feito o "matching" ideal.

Desta vez foi a nossa agência "Lusa", que sabe-se lá por que luas, entrevistou em Bruxelas o dirigente "verde" francês Daniel Cohn-Bendit sobre a crise financeira internacional, nomeadamente sobre o caso português. O líder histórico do Maio 68, entre outros comentários, não se coibiu de dizer que pensa "que não existe consenso na sociedade portuguesa quanto aos passos que devem ser tomados, nem uma visão concreta sobre que tipo de medidas para além de uma política de austeridade e de reforma". Tendo acrescentado: "não vejo ou ouço - mas posso estar cego ou surdo - que na actual situação a sociedade portuguesa diga que é preciso arregaçar as mangas e percorrer esse caminho".

Não é verdade. O deputado Cohn-Bendit não está "cego ou surdo", está é mal informado sobre o sentido largamente maioritário da expressão do voto popular português nas eleições de 5 de junho, bem como sobre o histórico de aplicação de anteriores pacotes de reforma económico-financeira no nosso país.

Se acaso estas declarações de Daniel Cohn-Bendit tivessem sido proferidas na imprensa francesa teriam tido, de imediato, a resposta pública e completa do embaixador português em França. Mas a verdade é que aqui ninguém se lembraria de o consultar sobre isto...

Em tempo: dito e confirmado o que disse, acho que o sr. Cohn-Bendit afirmou coisas interessantes sobre a política europeia na intervenção reportada no video que um comentário lembrou.

quarta-feira, junho 01, 2011

As relações económicas entre a França e Portugal

A revista "Portugal Global", editada pela AICEP, publica no seu número de Junho de 2011, que hoje surge a público, um completo dossiê sobre as relações económicas bilaterais entre a França e Portugal. Pode consultar o pdf da revista aqui.

Neste número, publico um artigo intitulado "Diplomacia em tempo de crise", que pode ler na revista ou aqui

sexta-feira, maio 27, 2011

Jóias

É uma atividade económica muito particular, onde a indústria de confunde com a arte. Ontem, apresentámos na Embaixada, para jornalistas, profissionais e alguns convidados, um conjunto de jóias produzidas em Portugal, no norte, pela Rosior. Pelas reações ouvidas, a exposição dessas peças únicas surpreendeu pela positiva.  

A imagem de Portugal, num mercado tão exigente como Paris, também se faz destas mostras daquilo que o país produz, com grande qualidade e rigor na promoção comercial.

terça-feira, maio 24, 2011

Ainda Strauss-Kahn

Pode parecer excessiva a insistência sobre o caso de Dominique Strauss-Kahn. A verdade, porém, é que isso mais não corresponde do que à importância que o assunto assume aqui em França, onde é objeto de comentários por parte de qualquer cidadão, no exercício daquilo a que Jean-Luc Godard chamava o "direito à impressão". Dando também razão à ironia clássica de Oscar Wilde segundo a qual "só as pessoas superficiais é que não julgam pelas aparências".

Hoje deixo duas notas, muito diferentes, sobre Strauss-Kahn.

A primeira sobre o seu trabalho à frente do FMI. Relembro apenas o subtítulo do editorial do último "The Economist": "Whatever the man did, do not forsake his ideas: they are more important". Quero com isto dizer que é da maior relevância conseguir preservar, na liderança que lhe irá suceder, o espírito novo que Dominique Strauss-Kahn soube transmitir ao FMI, o modo como conseguiu modular a rigidez e a cegueira dos números, a insensibilidade social que marcou muitos dos "ajustamentos estruturais" liderados e impostos, no passado, por esta instituição de Bretton Woods. Os "developing countries" podem ter muitas reticências sobre a personalidade de Strauss-Kahn, mas é hoje uma evidência que não irão esquecer o modo como ele soube adaptar positivamente a filosofia de atuação da organização. Além disso, vale a pena também ter presente a forma como Strauss-Kahn soube impor o FMI no quadro do G20, como conseguiu reforçar substancialmente os meios financeiros ao seu dispor, contribuindo também para um mais justo posicionamento relativo dos países emergentes no processo decisório dentro do Fundo. O mandato de Strauss-Kahn dentro do FMI foi um imenso sucesso, agora contrastantemente sublinhado pela tragédia pessoal em que está envolvido.

Apenas uma vez, e por breves minutos, me recordo de ter falado com Strauss-Kahn, nos momentos que antecederam um almoço oferecido por Lionel Jospin a António Guterres, em Matignon, creio que em 1999. Nem faço ideia do que falámos. Durante esse almoço, teve lugar uma cena algo caricata. 

A certo momento do repasto (aliás, recordo, com excelentes vinhos), achei que deveria transmitir ao primeiro-ministro português uma informação, que me parecia poder ser-lhe útil na sequência da conversa. Eu estava à esquerda de Jospin, que tinha em frente António Guterres, o qual, por sua vez,  dava a direita a Dominique Strauss-Kahn. Gatafunhei umas notas nas costas de um menu, em que devo ter escrito qualquer coisa do estilo: "Seria importante lembrar a Jospin que..." ou "A França não pode esquecer que..." ou outros comentários do género. Era uma nota para ser lida apenas por António Guterres, porque, lembro-me, tinha elementos algo sensíveis na forma como estavam apresentados. Dobrei o menu e, a um empregado de mesa que passava, pedi que o entregasse ao primeiro-ministro português, do outro lado da mesa. O homem terá entendido menos bem o que eu disse, deu a volta à mesa e passou a minha nota a... Dominique Strauss-Kahn, que estava precisamente à minha frente. 

A conversa entre Jospin e Guterres ia animada e eu não tinha a menor possibilidade de a interromper, para dizer ao ministro da Economia e Finanças francês que a nota não lhe era dirigida, mas sim ao seu parceiro do lado. Embaraçado, gesticulei discretamente para chamar a atenção de Strauss-Kahn, o qual, no entanto, se dedicava a ler, com toda a atenção, aquilo que eu tinha escrito, em letras maiúsculas, desejavelmente "for the eyes only" do meu primeiro-ministro. O governante francês deve ter percebido o essencial do texto. Quando acabou a leitura, olhou para mim, esboçou um sorriso e passou o papel a António Guterres. Enfim, imprudências que se cometem...   

domingo, maio 08, 2011

Economia

O famoso acordo há dias concluído entre três entidades financiadoras internacionais (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e o governo português só tinha, até agora, uma versão em língua inglesa.

O blogue Aventar decidiu fazer uma tradução (não oficial, claro) deste complexo texto, cuja aplicação vai marcar o futuro do nosso país nos próximos anos. Trata-se de um documento denso, muito técnico, nem sempre de fácil leitura. Mas essencial.

Ele aqui fica este verdadeiro serviço público do Aventar.

quinta-feira, abril 28, 2011

Cortiça

A vinha de Montmartre é uma conhecida curiosidade agrícola no centro de Paris, de onde anualmente sai um vinho tinto que já faz parte da história da cidade. Nela foi plantado, no mês de Outubro, um sobreiro alentejano, como que a simbolizar o velho "casamento" entre o vinho e a cortiça.

Esta manhã, o "maire" local, o antigo ministro Daniel Vaillant, e eu próprio descerrámos um placa comemorativa desta implantação, ocasião que serviu para lembrar a importância da França como o mais importante destino comercial das rolhas de cortiça portuguesa.

Correndo embora o risco de desencadear algumas reações adversas por parte dos cultores da rolha de plástico, disse, na minha curta intervenção, que, no fundo, estávamos ali a celebrar o longo "casamento" da cortiça com o vinho, uma vida em comum que não prenuncia qualquer separação, não obstante a tentação recente do vinho por produtos mais novos...

Em tempo: devo declarar, para os efeitos patrimoniais devidos, que fui brindado com uma das 1500 garrafas que, no ano passado, a vinha de Montmarte produziu.

segunda-feira, abril 18, 2011

Carta a um diplomata finlandês

Caro Steinbroken

Por estes dias, recordo as noitadas em que nos cruzávamos nos salões dos Maias, no Ramalhete, às Janelas Verdes, nas tertúlias que o José Maria retratou no livro a que deu o nome daquela família.

Lembro-me da generosidade com que você, diplomata finlandês, era recebido naquele cenáculo, onde, com carinho lusitano mas cosmopolita, entre mesas de whist ou numa ronda de bilhar, ou ouvindo-o a si como "barítono plenipotenciário", procurávamos atenuar a sua nórdica solidão.

Muita água passou sob as pontes. Você regressou aos gelos da sua Finlândia, eu por aqui fiquei, com a escassa fortuna que Celorico me deixou.

Há uns anos, caro Steinbroken, você escreveu-me para Lisboa, dizendo do agrado com que vira Portugal apoiar, com entusiasmo, a entrada do seu país na União Europeia. Elogiou o facto de, ao contrário de outros, não termos achado que a "finlandização" havia sido um imperdoável pecado histórico de agnosticismo estratégico, um genérico triste da "realpolitik". E recordar-se-á de eu lhe ter respondido, na volta do correio, que, conhecendo-o a si, nunca o tivera por seguidor do "better red than dead".

Noutra ocasião, você veio bater-me epistolarmente à porta, pedindo que deixasse cair uma palavra nas Necessidades, com vista a evitar que Portugal cedesse a um compreensível egoísmo, por mor dos fundos estruturais, a ponto de poder criar obstáculos aos Estados bálticos, “primos” da Escandinávia, que queriam então aceder à NATO e à União Europeia. A resposta da nossa diplomacia foi, reconheça, soberba: embora o alargamento fosse um passo que tinha em Portugal um dos países mais prejudicados, adoptávamos uma visão solidária da Europa, pelo que entendíamos que um mínimo de respeito histórico nos obrigava a acolher aqueles Estados no nosso seio. Da caixa de vodka que você me mandou, com um cartão catita, a agradecer a diligência, ainda me resta uma botelha.

Pensava partilhá-la consigo, Steinbroken, numa sua próxima vinda a Portugal, à cata de sol e de olho nos corpos morenos, Chiado abaixo. Passaríamos pelo Grémio, jantaríamos no Tavares e iríamos degustar o resto dos álcoois no meu terraço, Tejo à vista. Eu contar-lhe-ia a poética aventura eleitoral do Alencar, a carreira como banqueiro da besta do Dâmaso, o folhetim da venda da “Corneta do Diabo” à Prisa, a colaboração do Cruges com os “Deolinda”, a agitação do Gouvarinho e de outros tantos, nas lides que levam às Cortes.

Mas, agora, o que me chega? Que você foi ouvido, num dos últimos dias, passeando sob as árvores onde o verde já brota, ali na Promenade, no centro de Helsínquia, recém-saído do spa do vizinho Kämp, de braço dado com um alemão, com tiradas muito pouco simpáticas sobre Portugal e os portugueses. E que dizia você? Que, afinal, o compromisso político que a Finlândia havia dado à estabilidade do euro, que servira para a Grécia e para a Irlanda, poderia já não valer para Portugal. Ao seu lado, o alemão ecoava coisas parecidas, quiçá esquecido que o meu país, como todos os outros parceiros europeus, andou anos a pagar elevadas taxas de juro, para liquidar a fatura da reunificação da Alemanha, que hoje é, como sempre foi, o grande beneficiário do mercado interno europeu. 

É triste, caro Steinbroken, é muito triste que a frieza do vosso egoísmo lhes faça esquecer que a solidariedade é uma estrada de dois sentidos. Aqui, por Portugal, estamos a atravessar uma conjuntura difícil. Outras já tivemos, todas ultrapassámos. Mais recentemente, cometemos alguns erros, revelámos fragilidades que a crise sublinhou. Pensávamos poder contar com os amigos. Ao longo dos tempos, aprendemos a ser gratos a quem nos ajuda, a ser-lhes leais quando de nós necessitam. Não somos rancorosos, porque alimentar ressentimentos mesquinhos não está na nossa maneira de ser. E sabe porquê? Porque, na vida internacional, mantemos alguns sólidos valores, os mesmos que nos permitiram sobreviver nove séculos como país, um dos mais antigos do mundo, sabia? 

A vossa atitude, a vossa quebra de solidariedade, porque revela o conceito instrumental que têm da Europa, para utilizar uma frase que você repetia, entre outras platitudes árticas, pelas noites do Ramalhete, “c’est très grave, c'est excessivement grave…”.

Receba um abraço, ainda amigo, orgulhosamente (quase) mediterrânico do

João da Ega

quinta-feira, abril 14, 2011

"Prove Portugal"

Há dias, pelo telefone, tive uma conversa com a TSF sobre a gastronomia e os vinhos portugueses, a pretexto do prémio "Prove Portugal", que o Turismo de Portugal teve a gentileza de me atribuir.

Essa conversa deu origem a um programa, da responsabilidade de Rita Costa e Herlander Rui, cujos 10 minutos podem ser ouvidos aqui.

Embaixador diminuído?

A pergunta surpreendeu-me: "sente-se um embaixador diminuído?". Tinha a ver com o papel dos diplomatas portugueses pelo mundo, em face da situação de crise que atravessamos. Foi-me colocada pelo jornalista Henrique Garcia, durante uma breve entrevista que dei no noticiário da TVI24, na noite de dia 12.

A minha resposta foi clara: como diplomata português, esperando poder refletir a atitude profissional de muitos dos meus colegas, sinto-me perfeitamente capaz para representar os interesses do país no quadro da presente crise. Naturalmente que tenho consciência de que a imagem que Portugal projeta, nos dias que correm, não é a que seria desejável, mas os profissionais da diplomacia não existem para assumir externamente os interesses do país apenas em momentos de glória. Pelo contrário, é nestes tempos, bem mais difíceis e exigentes, que nos é pedida frieza de espírito e capacidade de explicação sobre os esforços que estamos dispostos a fazer, enquanto país, com vista a reverter a situação que atravessamos. Recordei, aliás, que, nos meus tempos como diplomata, esta é a terceira vez que tenho o FMI "em casa" e, nem por isso, das outras duas, o país "fechou".

Alguns esquecem, mas eu achei por bem lembrá-lo, que há não muitas décadas, alguns daqueles que são hoje ricos países europeus, atravessaram situações de penúria que obrigaram a fortes ajudas internacionais, em virtude de crises muito graves, que envolveram fome, pobreza e grandes carências. Os tempos mudaram, e, se bem que o que nos deve importar seja o presente, acho decisivo que o saibamos sempre relativizar. É que o Portugal de abril de 2011, por muito que a sua imagem possa estar a sofrer, é exatamente o mesmo país que o mundo, há escassos meses, escolheu para membro do Conselho de Segurança da ONU, com uma votação quase histórica. A nossa imagem, de lá para cá, é, basicamente, a mesma. Portugal é um velho país que o mundo se habituou a respeitar, independentemente dos cifrões dos défices. Por isso, façamos o nosso trabalho e não nos deixemos deprimir por alguns artigos de imprensa porque, como dizia François Mitterrand, não há nada mais velho que o jornal de ontem. 

Uma nota para os tristes

Há vários anos que, quando penso (e penso muitas vezes) ir comer ao restaurante "Salsa & Coentros", não longe da Avenida do Br...