sexta-feira, dezembro 19, 2025

"God bless the World"


Nos últimos anos, o mundo aprendeu a conhecer Donald Trump. Foi um processo evolutivo de sentido único: a afirmação constante de um narcisismo sem limites, alimentado por uma corte de servidores que, percebe-se agora melhor, não só se abstêm de conter as suas pulsões mais autoritárias e arbitrárias, como as estimulam e aplaudem. 

Dia após dia, Trump confirma uma natureza incontrolável e um fascínio quase infantil pelo exercício do poder, que o leva a discursos e atitudes cujo ridículo parece não reconhecer. É duvidoso que tenha consciência do desprezo e do escárnio silencioso que o seu comportamento suscita, inclusive entre muitos republicanos que, apesar de o apoiarem, têm um historial político que apontaria para uma atitude bem diferente. Trump parece imune ao ridículo - vive enlevado pelo poder de que dispõe e pelo caráter ilimitado da sua autoridade. Sintomático disso é o testemunho da sua chefe de gabinete, que declarou, numa entrevista à Vanity Fair, que Trump “acha que pode fazer tudo o que quiser”.

O que hoje se questiona, perante a sucessão dos seus comportamentos, é se o presidente dos Estados Unidos não revela já sinais de declínio mental. Muitas das suas atitudes roçam o desequilíbrio, e o caráter pueril de algumas delas - como as caricatas placas de comentário sobre os seus antecessores, afixadas na galeria dos presidentes - parece denunciar uma perda de discernimento e de controlo emocional.

Se Trump fosse líder de um pequeno país, sujeito a constrangimentos reais no exercício do poder, haveria limites à sua arbitrariedade. A história está repleta de ditadores megalómanos que, por muito autoritários que fossem, encontraram barreiras externas às suas fantasias de grandeza. Trump, ao contrário, dispõe do poder da maior força militar do mundo - que tende a cortejar e favorecer, o que leva alguns a temer que possa tentar instrumentalizá-la para se manter no poder, invocando um cenário de “guerra” interna e instaurando um regime de exceção.

Com Trump, tudo parece possível. O que não se vislumbra, porém, é a possibilidade de uma intervenção institucional que o submeta a uma avaliação médica de sanidade. Por muito que os sinais de perturbação se acumulem - e que deles possam advir gestos ou aventuras com potencial de pôr o mundo em risco —, nada indica que alguém, no interior do sistema americano, esteja disposto ou seja capaz de travar a deriva.

Os americanos costumam repetir “God bless America”. Eu, que não tenho fé, temo antes pelo que a América de Trump possa fazer ao mundo.

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"God bless the World"

Nos últimos anos, o mundo aprendeu a conhecer Donald Trump. Foi um processo evolutivo de sentido único: a afirmação constante de um narcisis...