sábado, fevereiro 15, 2025

O dia dos namorados


Levantei-me tarde, privilégio dos reformados. Tinha estado a ler, até às quatro da manhã, umas memórias que tinha encomendado na Wook. Havia recebido o livro pelo correio, ao meio-dia de quinta. Acabei-o nessa madrugada. À uma hora da tarde de sexta, estava a almoçar com um amigo, no Círculo Eça de Queiroz. Pouca gente, comida caseira, vinho da casa, preço módico. Verdade seja que já paguei a quota do clube para 2025, e foi uma boa nota! Acabámos a refeição a beber um Bushmills novo. Há uns tempos, convenci o Francisco, o amável chefe de sala da casa, a ter sempre este "irlandês" para me pontuar o final das sobremesas. Quase parece que ali "tenho garrafa", como antes se dizia nos bares. A minha mulher juntou-se-me no fim da refeição e desafiei-a a aproveitar o sol da tarde. Começamos por reforçar a glicémia com uns doces na Alcoa. Tínhamos lanchado, há uns meses, na "sede", em Alcobaça, e agora apreciámos esta "filial". E uma vez não são vezes! Entrámos depois na FNAC e saí com quatro livros. Aliás, já levava outro debaixo do braço, oferecido pelo amigo com quem almoçara: um livro que eu já tinha pensado comprar e que ele teve a ideia de oferecer-me. É raro haver este feliz "matching". Descemos o resto do Chiado muito devagar. Fotografei a Ulisses, mas já não uso luvas, como às vezes julgo que se nota. Resolvi depois engraxar os sapatos, com um raro engraxador "filósofo", no passeio do Nicola. Vários estrangeiros tiraram fotografias à cena que, para eles, devia ser um pouco insólita, para os tempos que correm. Entre outras coisas, eu e o homem, que já tínhamos idade para isso, recordámos os muitos retornados por ali havia, precisamente há meio século. Ele deu-me conta de que se dividiam em espaços diferentes, consoante as "províncias" de origem. A minha mulher, sentada à minha espera num banco em frente, desesperava com a larguesa da nossa conversa e foi lá dizer-nos isso, para nos apressar. No final, foram quatro euros (em Nova Iorque, há um quarto de século, pagava dois dólares, recordo-me). Dei um pouco mais, grato pela conversa. Zarpámos de seguida para uma ginginha no Eduardino. É que na Ginginha havia gente a mais e filas não é comigo. Do Largo de São Domingos à Praça da Figueira, fomos comendo uma dúzia de castanhas assadas. Por estranhos e pouco conhecidos elevadores (o de Santa Justa é inutilizável, dado o turistame) e escadas rolantes, dentro de lojas, para tentar evitar subidas a pé, regressámos ao Carmo, onde o Smart tinha ficado a lavar. No parque que há por ali, esse serviço é o melhor de Lisboa, anotem. Pensámos que dava tempo, e pensámos bem, porque deu, para ir ver a exposição do Surrealismo, na Sociedade Nacional de Belas Artes. Excelente! Acaba em março, aviso também. De nada! Partimos depois para a Gulbenkian, onde, durante mais de duas horas, nos deliciámos a ouvir "A Criação", de Haydn, pelo coro e orquestra, com solistas admiráveis. O nosso Dia de São Valentim acabou de uma forma muito pouco imaginativa. De manhã, ao acordar, eu tinha à minha espera a simpática oferta de uns chocolates. Depois do espetáculo, nada tendo planeado, só me lembrou retribuir com a ida a uma churrasqueira, à Valenciana, ali em Campolide, comer alguma coisa, com umas cervejolas à ilharga. Reconheço, sem dificuldades, que o meu romantismo anda um pouco pelas ruas da amargura. Chegado a casa, peguei no livro de Helena Vasconcelos, onde conta a vida que teve com Julião Sarmento, um dos volumes que tinha comprado na FNAC. Não me arrependi. O livro é magnífico, está muito bem escrito. Já li quase metade das trezentas e tal páginas. Acabá-lo-ei pela madrugada. Agora, é quase meia noite. E estou a contar-lhes isto. Foi um dia simpático. Como será o dia de amanhã? Prometo não os aborrecer com ele.

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